Waterdrop Firedrop (Rain x Sodo)

Hóspedes

Fire on

As palavras de Rain não saiam de minha mente, mas eu tentava aceitar que não havia nada a ser feito, apenas acomodar essa mais nova sensação de perda em meu cerne, junto com a coleção de desgraças que eu já acumulava em minha existência de mau agouro. Algum dia esse vazio iria parar de crescer em meu peito? Bem, isso apenas me dava mais convicção para manter Noto sob minha proteção, eu não o perderia, nada o tiraria de mim, eu moveria os reinos por sua felicidade e segurança, mesmo que eu precisasse me aliar a outro Ghoul para isso, mesmo que fosse ao Rain.

Voltamos ao casarão em silêncio, às vezes, espiava Rain e via a vermelhidão deixada em sua pele após a cura dos ferimentos que provoquei e me envergonhava disso, sempre jurei a mim mesmo que não tornaria a perder o controle, e de uma forma totalmente inesperada, ele seguia agindo tão naturalmente perante minha atitude tão impensada e eu começava a perceber que em sua presença, eu baixava a guarda sobre minhas ações, ele me irritava, mas também fazia-me sentir a vontade, não havia medo ou receio, mesmo havendo mágoa, era um igual, era alguém que conhecia meu passado e meu presente, mesmo que tenhamos nos mantido o mais afastado possível nos últimos milênios, perto dele era como se fossemos família, uma família cheia de conflitos e tempestuosa, mas ainda assim uma família.

Enquanto subíamos a escadaria da entrada, ouvimos um choro angustiado vindo de dentro que só poderia ser de Noto, o que nos fez acelerar o passo, quase correndo.

-Onde ele está?!- vociferei para o primeiro servo que nos atravessou o caminho, nos indicando a sala de recepção que ficava no primeiro andar, para onde Water disparou assim que entendeu.

As portas estavam abertas e ao adentrarmos, vimos um Noto choroso, com seus cabelos vaporeando tristonho, com uma lata de doces na mão e uma entidade conhecida, mas não comum: Dhers, o espírito Corvinus.

Dhers era o mensageiro, responsável por todas as mensagens de Emeritus e seus reinos, sempre com seu crânio de corvo escondendo-lhe o rosto coberto de cicatrizes. Ele olhava Noto com seus olhos esverdeados, sério, enquanto o pequeno tremia diante dele, fungando.

-Meu senhor Corvinus, que não lhe seja insolência, mas ao que devo essa situação?- perguntei enquanto Water pegava Noto no colo, o embalando, tentando acalmá-lo, que ao ser pego, logo abraçou o pai.

-Mestre Fire, Mestre Water- começou com uma reverência, enquanto comia, o que eu imaginava ser um biscoito, ao que percebi que era dos mesmos que Noto carregava- Acredito que seu filhote assustou-se comigo. Tentei presentear-lhe, mas creio que não foi do seu agrado.

Water abriu a mãozinha de Noto, que de fato segurava algo e mostrou-me o que havia retirado dali. Era um pequeno crânio de pássaro, mas eu não acreditava que algo tão simples quanto um crânio de um animal morto pudesse ter assustado meu filho, mas eu sabia o quão peculiar era aquela criatura e mesmo sendo um Ghoul e ele um espírito secundário, como Noto, eu não poderia ir contra ele sem motivos fortes.

-Ele teve um noite carregada de pesadelos, posso crer que isso o tenha deixado sensível a algumas questões, não acha, Fire?-respondeu Water, como se lesse meus pensamentos, enquanto acariciava os cabelos de Noto, que já transformara seu choro em uma baixa lamúria.

-Posso apagar a memória desse sonho ruim dessa pequena mente, se for de vossas vontades, meus senhores.

-Não se faz necessário, meu Senhor Corvinus, nossa cria não deve ser posta em uma redoma de super proteção, ainda mais de algo tão inofensivo quanto um sonho. Mas ao que devo vossa presença em meu reino?

Ele desviou os olhos de meu filho, me encarando e quase podia afirmar que estava melancólico.

-Trago notícias das revoltas nos limites de vossas terras, mas acredito que a criança não deva ouvir os relatos que trago, ele ainda é jovem demais para essa barbárie e se possível for, gostaria que minha mensagem se estendesse aos três os ghouls que aqui se encontram nesse reino, então irei aguardar.