Divino

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Noto on

Esse lugar era estranho e esquisito. Ar pesado, barulho demais. Eu estava em um banco em um...jardim? Havia árvores, um grande gramado e muitos seres, seres estranhos, carruagens estranhas, sem cavalinhos, andavam sozinhas. Havia um garoto grande ao meu lado. Máscara de passarinho, ele era como eu. Eu queria colo, me estiquei para ele me pegar.

-Desculpe, Steamboyz, eu não levo jeito para isso!

Fiz bico e tentei subir em suas pernas, mas ele não deixou. Eu queria colo! Estava assustado, não sabia onde estava! Lugar ruim!

-Vanye! Papais!

-Water e Fire não estão aqui, garoto.

Medo! Medo, medo, medo!

-Quero ir para casa!

-Ei, controle esse vapor, pequeno! É quente demais até para mim.

Não, não, não! Casa!

-Você é muito mimado, princípe do vapor! Sente-se e fique quietinho, ok?

Eu desci do banco, desci sim! Ia procurar meus papais!

Tentei senti-los, eles sempre estavam perto, sempre, sempre, mas nem água e nem fogo pareciam estar no meu alcance e o garoto apareceu na minha frente! Passarinho mal! Bicou minha testa!

-Steamboyz, você precisa ter calma!

-Eu quero ir para casa, passarinho!

Aaaaaaaaahhhhhhh!!

Alguém estava gritando, era um chorinho pequeno, pequeno de outro filhote. Se um adulto não me ajudava, talvez outra criança pudesse me ajudar!

-E lá vamos nós, Vapor.

Ele pegou minha mão e fomos até as lamúrias, era uma criança, sim, era. Cabelos de sol, igual o papai Fire, olhinhos claros também, olhinhos de água! Mas não tinha chifres! Mas mesmo assim era bonitinho, como um filhotinho de sol.

Me soltei do passarinho e corri, ele sangrava na cabeça. Ahh, papai Water saberia curá-lo, mas papai não estava aqui! Olhei em volta, tudo parecia ter congelado, tudo parou, apenas nós e o passarinho nos moviamos. Lugar estranho! Tempo estranho!

-Ei, filhote de Sol, vou achar meu papai e ele vai curar você!- disse pegando sua mãozinha e ele apertou a minha, ele parecia sentir tanta dor, que meus olhos também queriam chorar.

Ele me olhou, sua boca tremia, seu dentinho havia quebrado, coitadinho! Eu abracei ele com jeitinho, mas ele gemeu de dor e me afastei receoso.

-Izvin...Desculpa!

Tentei fazer carinho no seu cabelo, mas estava sujo de sangue quente e viscoso e eu não gostei do sangue na minha mão, mas continuei, ele estava triste, eu ia ser seu amigo e papai ia cuidar dele!

-Eu sou o Steam, do Vapor!

Eu ia distrair ele da dor, tinha certeza que papai Water estava atrás de mim e ia me achar aqui com o filhote de sol e tudo seria resolvido.

-Eu sou o Theo Eriksson- respondeu choramingando, segurando o braço, acho que era onde mais doía. Ele tentava segurar as lágrimas, mas elas corriam como rios.

-Thyyo? O que é um Thyyo?

-E-eu sou um Theo!- falou emburrado, como se fosse óbvio.- Dinossauro Theo!

Eu tinha que aprender muito ainda, não conseguia lembrar o que era um Thyyo! Steam bobo!

-Espera mais um pouco, Thyyo, vai ficar tudo bem! Sempre tem um espírito de água por perto quando eu me machuco! Logo logo deve chegar algum para você!- falei confiante, tentando confortá-lo, enquanto ele fungava e eu olhava em volta, não vendo nada ou ninguém, só aquela massa cinza e imovel.

Tentei limpar seu nariz que escorria com a manga da minha blusa e ele estava gelado! Coloquei minhas mãos nas suas bochechas e tentei esquentar ele um pouco, ele ainda parecia bravo e triste, mas ao menos estava corado e morninho agora.

-O que é um espírito de água?- perguntou tentando ignorar a dor, seu rostinho franzido.

-Eu sou um espírito de água!- falei apontando para o meu peito.- Meu cerne é de água, é sim! Água e Fogo!

-Você disse que água cura, então me cura, Steam! Está doendo!

Ele recomeçou a chorar e aquilo me partiu, eu era água, mas não sabia curar ainda, eu não sabia muita coisa e comecei a chorar também. Steam inútil!

-Dois Steams chorões!

O passarinho veio até nós e se abaixou pertinho de mim, olhando o Thyyo.

-Você não consegue curá-lo?- perguntei entre meus soluços teimosos.

-Não, sou de Ar e Destino. E mesmo que não fosse, esse garoto não está ao nosso alcance, Steamboyz. Precisamos ir.

Eu olhei o filhotinho, que ainda chorava.

-Ele não pode ficar sozinho, passarinho. Ele está machucado! Não podemos deixá-lo!

-Você é tão tolo assim, Príncipe do Vapor? Isso, ele, tudo isso, nada, nada disso é real.

Era mentira, eu podia ouvi-lo lamentar-se e isso era real! Seus olhinhos de mar me mostravam sua dor e era real!

Mas quando tornei a olhá-lo, ele começou a se dissolver, como meu vapor. Não! Tentei abraçá-lo, mas ele já tinha sumido e todo o mundo também sumia, até eu ficar sozinho no vazio frio, eu não gostava do frio!

-Papai!!

Eu acordei, o solzinho já vinha me olhar na cama, me esquentando. Não ia ficar sozinho, não ia!

Mas...

E o filhotinho de Sol?

Waterdrop Firedrop (Rain x Sodo)Onde histórias criam vida. Descubra agora