Waterdrop Firedrop (Rain x Sodo)

Feito de Água

-Eles realmente estão vindo, Rain?

-Estão, Sodo, não estão longe, já adentraram o reino. Pode acalmar-se?

-Eu estou elegante o suficiente? Meu cabelo está no lugar? Pareço imponente?

Fire estava ansioso, agitado, havia acordado cedo e não parara um segundo sequer, correndo para todos os lados, dando ordens, como se estivesse em seu casarão, mas tudo precisava ser perfeito e apenas perfeito. Water havia convidado Ersa ao Palácio, bem como alguns outros orvalhos da época de Fire como Dewdrop e agora, o grande Ghoul voltava a ser aquele jovem espírito encontrado na floresta a tantas eras, sentia-se radiante, vivaz, uma fagulha pronta para se tornar um incêndio incontrolável, ao mesmo tempo que o medo de encara-los depois do que fizera a Ery era ainda presente. Seu último encontro com eles havia sido um dos piores momentos possíveis, preso na água de Water, sendo quase escorraçado em praça pública, enquanto o corpo do amante esfriava e sua alma partia. Mas agora tudo havia mudado, ele era um Ghoul, um Deus, um senhor. Era uma nova chance, era um novo ser e ele aproveitaria cada segundo.

Noto também havia sido arrumado especialmente para esse dia, os braços pintados de negro, como um pequeno lorde de fogo, os curtos cabelos enfeitados com diversas flores coloridas, as vestes escuras, mostrando-se a harmonica e improvável união elemental. Ele sentia a ansiedade do pai escapar por seu cerne quente, então queria dar o melhor de si naquele momento, queria se mostrar uma boa cria, educado e gentil, um verdadeiro príncipe e que merecia o título, assim como o pai.

A manhã correu arrastada, o tempo esqueceu-se de como passar, deixando Fire cada vez mais nervoso, o qual Water tentava relaxar com sua água, que trazia paz, que acalmava, que abafava um pouco a intensidade daquela chama, mas ele entendia, entendia a importância do momento, daquela situação e tudo que ela podia representar. Ele próprio aos poucos sentia-se mais inquieto sempre que o fitava e recebia seu olhar quase assustado, quase implorando por alguma ajuda.

Pouco antes do início da tarde, os dois espíritos de fogo estavam no jardim quando a pequena comitiva adentrou o terreno, Fire tinha Noto nos braços, enquanto o ensinava novas palavras comuns tentando distrair-se, e Water tomava conta dos últimos preparativos da recepção junto com os espíritos de água próximo dali quando os sentiu chegar.

-Ora ora, não acreditei quando ouvi falar que havia se tornado pai, Dewdrop!

O espírito mais velho do orvalho nada havia mudado, sua pele enrugada, os cabelos brancos, os olhos gentis e aquosos. Fire quis correr, quis abraça-lo, tal qual fazia quando criança, quando Ersa o chamava ao fim do dia, depois de ajudar nas tarefas da vila. Fire quis gritar, quis chorar, quis ser adolescente novamente.

-É preciso se conter, papai?- sussurrou Noto em seu colo, sentindo o que ele sentia, vendo aqueles seres se aproximarem, junto com o cerne do pai que explodia.

-Apenas quando se é um ghoul, minha gotinha.

-Sejam bem vindos, meus orvalhos!- disse Water alegremente atravessando os jardins com alguns criados em seu encalço, já se preparando para carregar as bagagens dos visitantes- Espero que a viagem vos tenha sido confortável, meu senhor. Se puderem nos acompanhar, minhas crianças mostraram-lhes vossos aposentos, venham, logo o almoço será servido e a festa iniciará!

-Ah, meu mestre, nada disso era necessário, mas sou profundamente grato por sua generosidade. Creio que meu menino Dewdrop possa acompanhar-me?- perguntou o velho com um sorriso nos lábios arroxeados.- Sinto falta das conversas dessa criança espevitada.

Water apenas soube sorrir.

-Seus desejos serão minhas ordens, meu senhor, mas aviso-te que essa chama perde-se a cada três corredores desde que aqui chegou, então creio que precisaram da ajuda de nosso filho Noto! Pode acompanha-los, gotinha? Sabe onde serão seus alojamentos, correto?