Waterdrop Firedrop (Rain x Sodo)

Conversas no escuro

A festa oferecida por Water era maior do que qualquer tipo de comemoração que o orvalho já havia visto antes em seu humilde vilarejo, de uma elegância e requinte que a eles não era comum, mas ainda assim foi altamente aproveitada por cada um, especialmente por Fire ter organizado para que muitas tradições do Orvalho fossem ali replicadas ali, fazendo com que, apesar das diferenças, todos se sentissem em casa e a vontade, especialmente o Ghoul do Fogo, que abriu mão de todos os protocolos que um Ghoul e senhor deveria seguir, do que lhe era esperado, deixando que apenas Dewdrop finalmente existisse naquela noite e em determinado momento, já embevecido pela felicidade e pelo néctar quente, puxou o Senhor das Águas para uma dança entusiasmada ao seu lado, ao ritmo de uma polca, a qual claramente Water não sabia os passos exatamente, atropelando-se, mas foi sabiamente guiado pelas mãos firmes de Fire, que o conduzia animado pelo salão, girando-o, levantando-o e sorrindo para ele, deixando suas presas a mostra a todo momento, em uma alegria que claramente não cabia dentro de si e era impossível para Water não corresponder com um sorriso doce ao vê-lo naquele estado nada sutil. Ali, em seus braços, eles não pareciam se odiar, não pareciam travar uma guerra com o passado, ali pareciam velhos amigos, quase em um abraço enérgico, quase em um mundo próprio e quando Noto puxou a barra das vestes de Fire, pedindo para ser o próximo, Water não pode evitar admirar o companheiro de dança pegar o filho nos braços, começando a girar com ele, rodopiando entre seus velhos amigos, a risada de Noto sobrepondo-se à música, todos sendo carinhosos com ele, ele passando de mão em mão, recebendo a atenção digna como o principezinho que era. Aquilo aquecia o cerne de Water de uma maneira inexplicável, uma energia gostosa percorria seu corpo, como uma corrente elétrica que a tanto ele não sentia, mas ali, com aquele grupo peculiar, ele quase pode sentir-se em meio a uma família, como se não fosse ele o senhor do lugar, como se fosse na verdade ele que fosse adotado por aquelas entidades, que eles o recebessem em seu meio e não o contrário e aquilo era novo, era surpreendentemente novo, mas tão acolhedor, tão único, algo que talvez Water só havia sentindo antes ao lado de Yeleni, e agora, ao lado de Noto e quem diria, ao lado de Fire, não sabia quando ou como havia começado a sentir isso, mas de repente, Fire já fazia parte de sua rotina, de sua vida, já esperava por ele nas manhãs, já o chamava nas tardes, era sua voz que o encantava quando, ao por do sol, cantarolava para sua Deusa, agradecendo por coisas que cabiam unicamente a ele e convencendo o próprio Water a oferecer sua voz a Senhora da Lua assim que ela surgia, tornando esse um ritual diário. Não demorou muito tempo para que conseguisse um alaude para Fire, que passou a acompanhá-lo e ele era realmente habilidoso com aquelas mãos negras. Música não era comum naquele palácio em dias comuns, mas passou a ser, Noto passou a dormir ao som de um dedilhado suave e uma voz calma e por vez, ali estava Water, quase adormecendo junto com o filho enquanto ouvia Fire sempre tão gentil.

Water agora observava os dois a distância e talvez o álcool também já lhe fizesse efeito, pois sua mente começou a pensar em como seria quando Fire partisse e isso, de alguma forma, o incomodou, aquilo de alguma forma lhe fisgou as estranhas, pois ele iria, não é? Agora que sabiam qual seria a decisão de Noto quando fosse solicitado que escolhesse, ele sabia que Fire partiria em seguida e talvez esse fosse o motivo pelo qual adiassem a pergunta e isso não era tão inconsciente quanto gostaria, ambos, mesmo em silêncio, haviam entrado em acordo sobre isso. Claro, era pura e unicamente por Noto, não era? Depois de tudo o que ele passou, um de seus pais partir lhe quebraria o cerne, não é? Mas eles sabiam, Fire, assim como qualquer Ghoul Elemental, não podia se afastar por tanto tempo de seu próprio reino e logo, logo seria a hora de sua partida, mas ele voltaria, e essas palavras bailavam na mente de Water.

Ele voltaria.

Por que agora desejava tanto permanecer com a presença daquele que tanto o humilhava e tanto o acusava de um pecado a tanto cometido? Em que momento as coisas haviam mudado? Por que haviam, não é? Claramente não eram os mesmos de meses atrás.