Alfonso
Presente
Dez segundos. Não mais do que isso. Foi o tempo que levou para que eu percebesse a presença dela.
Eu não consigo evitar, o que me irrita para caralho.
Não importa o quanto eu tente me impedir de olhar para a garota, todas as vezes em que nos encontramos em um mesmo ambiente, Anahi Puente rouba minha atenção.
Como se houvesse uma espécie de transmissão mental entre nós, ela vira para trás no exato momento em que meus olhos a percorrem.
O rosto lindo, com olhos expressivos e de um azul profundo, demonstra descontentamento nesse instante.
Eu não duvido que a antipatia que nutro por ela seja recíproca, assim como a atração física.
A boca de lábios sensuais forma agora uma linha fina, de puro desgosto, como se a incomodasse ter sido pega em flagrante me observando também.
Ela sabia que eu já chegara? Eu acho que sim, pois virou-se precisamente na minha direção.
— Está interessado nela? — meu irmão Qasim pergunta ao meu lado, cada sílaba carregada de ironia.
Eu não respondo imediatamente. Encaro a mulher com desejo e aversão na mesma medida, tentando fazer uma análise clínica de como é possível que alguém com quem não quero ter qualquer contato pode fazer meu sangue ferver de maneira quase violenta.
A vontade de enroscar a mão naquela massa de cabelos loiros é quase incontrolável. Reclinar seu rosto para mim e tomar sua boca, sugando e mordendo os lábios que eu adivinho que, sem a maquiagem, são naturalmente rosados.
Sinto meu corpo ficar tenso diante da imagem mental que aparece para mim, um latejar no meu pau que me avisa que não importa o quanto eu saiba que somos errados um para o outro, eu nunca conseguirei limpá-la do meu sistema se não a possuir.
Anahi olha em volta. Assim como seus parentes, provavelmente preocupada em manter as aparências. Quando percebe que há alguns convidados nos observando, já que se abriu uma espécie de corredor entre nós, me dá um sorriso forçado, o que faz com que meu humor piore consideravelmente.
Eu não preciso de seus sorrisos falsos.
Eu não quero amizade ou gentileza tampouco. Tudo o que desejo é uma noite com ela. Matar a fome que sinto, saciar todos os meus sentidos, absorvendo seu cheiro e gosto, e depois seguir em frente, como sempre fiz.A última coisa que desejo no momento é entrar em um relacionamento sério e eu sei que Anahi é esse tipo de mulher.
Há uma espécie de febre de casamentos na minha família. Meus dois irmãos, Emir e Cenk, se casaram há alguns anos e Qasim está preso em uma armadilha e que agora não tem mais como sair. Assim, somente eu e Zehab continuamos firmes na vida de solteiro, para desespero da nossa mãe.
— Não — respondo enfim.
— Não? Então por que está olhando para Anahi Puente como se ela fosse a provedora de todo oxigênio do planeta e você estivesse sem ar?
— Não seja imbecil. Desde quando virou poeta?
— Não é poesia. É o reconhecimento de que tem tesão nela, não importa o quanto isso te deixe puto.
Depois de me encarar por mais tempo do que seria socialmente aceitável, ela se vira, fazendo com que a seda de um tom entre o azul e o acinzentado do vestido flutue. O movimento me dá uma visão perfeita de seus quadris e bunda, além das costas nuas até a cintura.
Fez de propósito? Está me provocando? Talvez sim. Apesar de sempre se mostrar como uma dama da alta sociedade, há algo nos olhos dela que me diz que muito de sua natureza é mantida sob controle.
E é esse algo mais, essa maldita fagulha que consigo enxergar no fundo de seus olhos, que não permite que eu me esqueça da garota.
Eu já estive com mulheres que a maioria dos homens apenas desejou boa parte da vida.
Modelos, atrizes, socialites, mais jovens ou mais velhas, a minha experiência com o sexo feminino é vasta.
Em nenhum desses relacionamentos, no entanto, encontrei alguma que fizesse com que meu sangue parecesse fogo dentro das veias.
Não é só a beleza dela.
Anahi é uma combinação de perfeição física com petulância.
É como se ao desfilar nos salões de eventos em que ocasionalmente nos encontramos, ela estivesse fazendo um favor à humanidade. Como se nem mesmo tomasse conhecimento do resto de nós boa parte do tempo, o que faz com que o espectador — ou talvez um obcecado como eu — fique imaginando quais são os pensamentos secretos que preenchem a mente da mulher deslumbrante.
Obrigo-me a afastar os olhos dela.
Não é apenas o fato de que há esse sentimento de antipatia natural entre nós o que me impede de resolver de uma vez por todas o desejo que sinto, mas também porque é filha de um empresário americano a quem desprezo profundamente.
Jim Garret Puente III.
Um maldito corruptor, que se os boatos que chegaram até mim estiverem certos, não caminhará por muito tempo como um homem livre pela Turquia.
Anahi está sempre rodeada pelo pai e pelo irmão mais novo, Hayden, um elemento a quem sou completamente indiferente.
Ao contrário dela, que parece ter um temperamento forte, o rapaz não passa de um fantoche nas mãos do patriarca.
Ambos a cercam como se estivessem protegendo-a em uma gaiola de ouro, mas sabendo o que sei sobre Jim, eu não duvido que considere Anahi uma moeda de troca para benefício próprio.
Correndo o risco de estar sendo ainda mais cínico do que normalmente, talvez ele espere casá-la com alguém que tenha dinheiro o suficiente para livrá-lo do mar de dívidas em que se encontra mergulhado.
— Ela é uma má aposta — meu irmão diz.
— Para mim não é aposta alguma.
— Você a quer.
— E o que tem isso de mais? Não é a primeira mulher que eu desejo.
— Mas será a primeira que não se permitirá ter.
Ouço uma risada e mesmo sem me virar eu sei que vem dela.
Já a escutei antes.
Um riso superficial, raso, e tenho certeza de que se eu a encarasse nesse momento, atestaria que Anahi não moveu um músculo em seu rosto, porque a felicidade demonstrada não é real.
É outra coisa que me intriga… Não, que na verdade me deixa obcecado em relação a ela: o desejo de descascar suas camadas e conferir o que há por baixo. Eu tenho a impressão de que o que demonstra para a sociedade é um personagem.
Desejá-la é como um veneno na minha corrente sanguínea. Um exercício de contenção ao qual não estou acostumado.
Chega um momento na nossa vida em que você sabe que pode ter qualquer mulher livre — e algumas talvez mesmo envolvidas com alguém — que quiser.
Não é arrogância, é uma questão de fato.
Eu sei que se investisse em Anahi, seria como uma caçada, mas que no fim, ela se tornaria minha.
Eu não farei isso, no entanto. Tenho muitas opções para tomar como parceira do que me envolver com uma socialite americana fútil e com uma carga genética tão ruim.
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O Acordo - FINALIZADA
RomanceAviso: pode conter gatilhos. Alfonso Herrera, herdeiro da família mais poderosa da Turquia, não é o tipo de homem que tem dúvidas sobre pegar para si o que quer, principalmente no que diz respeito a mulheres. Entretanto, por questões morais, não se...