Anahi
— Jesus, Any. Eu achei que nunca mais ia vê-la!
Hayden mal abre a porta para mim e se joga nos meus braços, indiferente aos guarda-costas e o motorista que vêm logo atrás, carregando minha mudança.
É em momentos assim que vejo um abismo entre nós.
A diferença de dois anos não significa nada. Eu me sinto uma idosa comparada ao meu irmão.
— Hey, eu disse a você que estava resolvendo nossos problemas.
— E conseguiu?
— Deixe os homens descarregarem nossa mudança primeiro. Depois, mostre-me a casa e então conversaremos.
Eu fiquei surpresa enquanto o motorista estacionava. É muito maior do que imaginei.
Leva cerca de dez minutos até que os homens vão embora e mais quinze para darmos uma passada rápida pelos cômodos da casa.
Eu fico ainda mais espantada quando finalizamos nossa “excursão” na cozinha.
— É muito grande.
— Não é? Fiquei surpreso também. Os irmãos Herrera pelo visto levam a sério a promessa que o padrasto fez ao nosso pai. E por falar nisso, como ele está?
— Não adivinha?
— Arrasado?
— Não, Hayden. Com o mesmo temperamento prepotente de sempre. A única coisa que mudou é que agora veste o uniforme da prisão.
— Deus, eu sei que ele está errado e pagando pelos crimes que cometeu, Any, mas ele também é nosso pai e está em meio a criminosos perigosos.
— Defina criminosos perigosos, irmão. Eu passei os últimos dias pesquisando sobre crimes de colarinho branco. Eu não sei se já se deu ao trabalho de fazê-lo, Hayden, mas caso não, deveria. Eu não estou defendendo assassinos ou qualquer um que atente contra a vida das pessoas, mas crimes como os que nosso pai cometeu, ajudando políticos corruptos a desviar verbas do governo, roubando a própria diretoria da empresa, e…. — Eu me paro porque quase falei sobre os narcotraficantes. — Enfim, os crimes dele são tão letais quanto um assassinato.
— Você ia dizer algo e se interrompeu.
Deito a cabeça no tampo da mesa, me sentindo esgotada.
— Porque eu não tenho certeza se devo te contar.
— Tem que decidir se quer que eu amadureça ou se vai me tratar como uma criança para sempre, Anahi. Muito do que sou é por causa da falta de fé que nosso pai tinha em mim. Eu cresci medroso, inseguro.
Eu toco a mão dele por cima da mesa.
— Você está certo. É que se trata de algo muito sério.
— Mais do que perdermos tudo? Mais do que eu ter, como um estúpido, apostado uma fortuna no cassino?
— Ele estava lidando com traficantes de drogas mexicanos, Hayden. Lavando dinheiro para bandidos. Alfonso acha que talvez jamais possamos voltar aos Estados Unidos.
— O quê?
— Seria arriscado para nossa segurança. Todos sabem quem somos e esses homens não perdoam dívidas, caso papai tenha os enganado também.
— Meu Deus, quando eu acho que não pode ficar pior…
— Tenho algo bom, para falar, no entanto.
— O que é?
— A dívida com Berat será paga amanhã.
Ele se levanta de um pulo, o rosto empalidecendo.
— Como?
— Eu não vou discutir os detalhes com você. Só precisa saber que Alfonso me emprestou o dinheiro.
Eu me sinto péssima por não revelar a verdade, mas além do fato de que dei minha palavra a Alfonso de que manteríamos tudo em segredo, que benefício poderia haver em dizer ao meu irmão que me vendi por trinta dias para pagar sua dívida?
— Vai trabalhar para ele? Como pagaremos isso?
— Serei sua assistente — invento depressa —, mas preste atenção ao que vou falar: eu não tenho como cuidar disso outra vez se cometer o mesmo erro. Eu te amo e você é meu irmãozinho, Hayden, mas se jogar novamente, vai acabar fazendo companhia ao papai na cadeia.
Sinto o estômago revirar só de penar na possibilidade, mas está na hora dele levar um susto e entender que o que fez foi muito grave.
— Nunca mais, Any. Eu prometo. Jamais vou esquecer o que está fazendo.
— Eu não acabei de falar ainda. Está vendo essa casa aqui?— pergunto, girando os braços ao meu redor. — Nada disso é nosso. Eu aceitei porque ficamos sem saída, mas ambos teremos que conseguir um emprego, seja fazendo o que for. Eu não vou depender dos Herrera para comer.
— Tudo bem, irmã. Já estava pensando nisso mesmo.
O meu celular toca e eu faço um gesto com a mão para que Hayden fique em silêncio, mas quase simultaneamente, o dele toca também.
Eu o vejo se afastar para falar, enquanto respondo ao meu interlocutor.
— Alô?
— Senhorita Puente?
— Sim, quem fala?
— Cenk Herrera.
Deus, o irmão mais velho!
— Pois não?
— Presumo que, a essa altura, já saiba quem eu sou.
— Sim, senhor.
— Eu liguei para saber se estão bem acomodados ou se lhes falta algo
— Não… huh… seu irmão… quero dizer, o senhor Alfonso providenciou tudo.
— Você deve me informar se precisar de alguma coisa.
— Tudo bem. Obrigada.
Se algum dia eu fiquei mais constrangida na vida, não me lembro.
— Uma outra coisa: estão sob nossa proteção agora, o que significa que devem seguir as regras de segurança. Presumo que meu irmão já deva ter lhe contado sobre o envolvimento do pai de vocês com criminosos.
Jesus, o homem é tão direto quanto Alfonso. Deve ser um traço genético.
Se eu fosse sensível, estaria em prantos a essa altura.
— Sim, ele contou. Eu entendi e mais uma vez agradeço, senhor Cenk.
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O Acordo - FINALIZADA
RomanceAviso: pode conter gatilhos. Alfonso Herrera, herdeiro da família mais poderosa da Turquia, não é o tipo de homem que tem dúvidas sobre pegar para si o que quer, principalmente no que diz respeito a mulheres. Entretanto, por questões morais, não se...