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Alfonso

É, sem medo de errar, o jantar mais estranho do qual já participei.

Não sou um cara intuitivo, sou um homem que se apega a fatos, mas hoje, percebo algo no ar.

Anahi conversa distraída com minha mãe e cunhadas; meus irmãos, como sempre, estão discutindo sobre negócios, fora Cenk, sempre olhando em volta, atento como eu, à dinâmica na mesa.

Desde que chegou, Odin passou a maior parte do tempo dando atenção a Hayden, que parece encantado por conhecer pessoalmente o homem mais bem-sucedido na área em que ele deseja seguir: tecnologia da informação.

— Ainda se considera um hacker? — Vejo o irmão de Anahi perguntar e por um instante, cai um silêncio pesado na mesa.

É como se todos estivessem aguardando o que meu amigo vai responder e quando olho para Anahi, ela parece chocada com a pergunta de Hayden.

O rapaz, no entanto, está alheio a tudo o mais, completamente concentrado no homem que disse, quando foram apresentados, que considerava uma espécie de mentor, mesmo sem conhecer pessoalmente.

O grego estava levando a taça com água aos lábios, mas a pousa novamente em cima da mesa, parecendo pensar em como responder.

E então, ele une as mãos e dá um sorriso.

Eu o conheço há muitos anos e sei que não é de felicidade. É uma mistura de ironia e desprezo.

— Sempre — finalmente responde e depois continua: — E de um hacker para outro, garoto: você quase conseguiu me enganar.

É como se os dois estivessem participando de uma conversa em código, mas aos poucos, eu consigo entender as peças do quebra-cabeça finalmente se unindo.

— Isso foi um elogio? — Hayden pergunta, parecendo encantado.

Eu franzo a testa enquanto o observo. 

Não há mais nada do rapaz tímido ou inseguro em sua expressão. Ele parece relaxado e até mesmo arrogante.

— Foi. Eu não tenho dúvidas de que em outro cenário, o levaria para a minha empresa.

— Teria que ser uma boa oferta — o irmão de Anahi retruca, parecendo ignorar a parte em que Odin disse “em um outro cenário”.

— Por quê? — pergunto.

— Eu sou grego — Odin fala. — Dou muito valor à família. Se não podemos confiar em nosso próprio sangue, não podemos confiar em qualquer outra pessoa.

— O que está acontecendo, Alfonso? — Anahi se volta para mim, parecendo nervosa.

Eu aperto sua mão por cima da mesa, mas não respondo. Ao mesmo tempo, sinto gosto de ácido na boca porque tenho certeza de que o mundo dela está prestes a desabar.

— Hayden — ela chama o irmão ao ver que não vou falar nada. — Por que o senhor Lykaios o chamou de hacker? Eu sei o que é isso. Você não é um.

Primeiro, o garoto olha para ela sorrindo e naquele momento eu o odeio.

É um sorriso condescendente, maldoso, como se ele se considerasse ser superior à minha mulher.

— Porque eu sou um. O melhor. Nossa, que alívio finalmente dizer isso!

Nenhum dos meus sobrinhos está conosco. Foram brincar com as babás, então somos só adultos presentes e os membros da minha família não interrompem o embate entre os dois irmãos.

— E o que significa isso? Por que haveria de querer ser um?

— Eu não quero ser um. É só mais uma das minhas habilidades, bobinha.

O Acordo - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora