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Alfonso

O que exatamente está me dizendo, meu filho?

— Não precisa se preocupar com isso, mãe. Estou apenas avisando para que saiba que de algum modo estamos relacionados com o empresário americano que foi preso há alguns dias.

E que tipo de relacionamento você poderia ter com um criminoso?

Eu respiro fundo para me acalmar, porque a vontade que tenho é de responder que ela deveria perguntar isso ao finado marido.

— Halil deixou por escrito, em uma carta à parte do testamento, que caso acontecesse algo a esse homem, deveríamos ajudar a gerir os negócios dele para que os filhos ficassem em segurança. Ocorre que não sobrará nada. Eles têm dezoito e vinte anos, respectivamente, e nem um tostão para se manterem, até onde eu sei.

Ela dá um suspiro irritado do outro lado. Fico imaginando como deve ser para a minha mãe descobrir tantos segredos do marido depois de sua morte.

Primeiro foi atestar o quanto nosso padrasto foi canalha com a mãe de Malu, minha cunhada, durante a juventude. Depois, descobrir que ao renegar o próprio filho biológico, transformou-o em um psicopata que perseguiu meu irmão por anos, em busca de vingança.

O que significa que esse amigo de Halil não é só um corrupto ordinário, mas um péssimo pai também. De acordo com a idade dos dois, suponho que não estejam envolvidos.

— Até onde sabemos, não.

— O que isso significa, Alfonso? Não quero vocês perto deles se não tiverem certeza de que são pessoas honestas.

— Mãe, há uma palavra empenhada nessa promessa: a de seu marido falecido. Ele não está aqui para desfazê-la, então cabe a nós cumprirmos todos os termos.

E que termos são esses?

— Como eu lhe falei, eles não têm nem onde morar, então os acomodarei em um imóvel até que possam tocar a própria vida.

O que deve levar anos. São muito jovens.

— Sim, eu sei. Agora, eu preciso ir. Só não queria que fosse pega de surpresa se acontecer de noticiarem que me viram com Anahi.

Anahi é a filha?

— Exato.

E por que o veriam com ela? Deixe que alguém cuide disso, Alfonso. Temos pessoas qualificadas para esse tipo de função. Não gosto da ideia de ter qualquer um dos meus meninos envolvidos com filhos de um criminoso.

— Mãe, como bem disse, filhos de criminosos. Eles são inocentes até que se prove o contrário.

Então quer dizer que tem dúvidas?

— Não, mas eu não confio em qualquer pessoa de fora da família. Agora eu preciso mesmo desligar.

Vem no fim de semana? — ela muda de assunto. — Eu agora tenho a sensação de que preciso organizar uma agenda, ou melhor, talvez eu deva contratar uma equipe inteira de assessoria apenas para organizar a vinda dos meus filhos à minha casa. Uma mãe não deveria sofrer tanto para ter a família reunida — exagera.

Apesar do dia de merda, em que passei boa parte tenso, eu consigo rir do drama dela.

— Mãe, nós almoçamos juntos na semana passada.

Eu sei, mas precisei quase implorar para que viessem todos ao mesmo tempo. Não sabe o que significa para o coração de uma mãe ver sua grande família reunida.

— Eu vou fazer o possível para ir, mas talvez tenha que viajar. Não posso confirmar ainda.

Viajar para onde?

— Mônaco.

Comprou outro barco?

— Não.

Eu não direi a ela que minha intenção é encontrar uma modelo com quem estou saindo ou vai começar a falar sobre a necessidade de encontrar uma boa mulher para eu me casar.

Inclusive sei que já andou pesquisando entre as filhas solteiras das amigas.

Não vai me contar, não é mesmo? Aposto que tem uma dessas dezenas de namoradas suas no meio desses planos de viagem.

— Tenha um bom dia, mãe. Eu avisarei se puder almoçar no domingo.

Assim que desligo o telefone, a secretária me comunica que meu chefe de segurança está esperando na antessala.

— Mande-o entrar.

Apesar da formalidade em se anunciar, eu tenho mais intimidade com Luther do que com muitos dos meus parentes.

— Chefe, está tudo certo. A senhorita Puente se encontra visitando o pai no presídio nesse exato momento. Mandei que dois dos meus homens a esperassem do lado de fora e ela entrou com o advogado que o senhor enviou.

— Ela parecia calma?

— Quer a verdade? — Concordo com a cabeça. — Ela finge bem, mas estava muito nervosa. Se me permite a liberdade, a senhorita Puente não pertence a lugares feios. É um tipo de princesa.

Eu olho para ele, sentindo a irritação se espalhar pelo meu sangue.

— Para você, ela é um trabalho, Luther. Eu nem preciso dizer isso.

Ele sorri.

— Nunca achei que pudesse ser qualquer outra coisa. A menina é uma “nobre”, totalmente fora do meu campo de ação. O comentário foi apenas porque vê-la entrar naquele lugar… eu não sei. Não parece certo. É como assistir um anjo caminhando para as porteiras do inferno.

Quem o ouve falar pode pensar que é um homem sensível e não um profissional treinado para matar.

— Os homens que colocou tomando conta dela, quão bons eles são?

— Eu não contrato nada abaixo do excelente, chefe. Ela estará segura.

Ele se afasta, dirigindo-se à porta, mas vira para trás e sorri.

— Achei que era para cuidar da segurança dos dois. Não me perguntou sobre o rapaz.

— Sim, nenhum dos dois deve correr riscos, mas no momento o alvo é Anahi.

— Por causa de Demirci?

Quando mandei que ele providenciasse homens para protegê-la, expliquei a razão.

— Sim.

— Ninguém vai tocar nela, Alfonso. Pode ficar tranquilo.

O Acordo - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora