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Anahi

Eu comecei a guardar minhas coisas para poder me distrair. Estou ansiosa aguardando o telefonema de Alfonso para saber se vou poder visitar meu pai na prisão ainda hoje.

Devo ser muito estúpida mesmo, porque embora eu saiba que tudo o que estamos passando é responsabilidade dele, eu não dormi a noite, preocupada em como ele está na cadeia. Papai cresceu no meio do luxo, veio de uma família rica, então eu não consigo imaginar como deve ser degradante para ele ser trancafiado em uma cela.

Para um homem que sempre se considerou intocável, acima do bem e do mal, deve ser um grande golpe em seu orgulho ser levado à prisão.

Por que será que ele nunca me falou do acordo com o padrasto de Alfonso?

Porque ele nunca a considerou digna de saber nada sobre seus negócios — uma voz sussurra. — Foi desse jeito que chegou aos vinte anos como alguém completamente incapaz.

Entretanto, estou decidia a mudar esse cenário. Com a insônia, passei a noite no Youtube assistindo vídeos sobre crimes de colarinho branco e também a punição.

Apesar de que se o que Alfonso disse for verdade, há muito mais por trás dessa história, ao ponto de fazer com que corramos risco de morte.

Eu não sei como o narcotráfico cobra suas dívidas, caso papai esteja devendo aos criminosos também, mas sei que crimes de corrupção e evasão fiscal, que foi o que ele fez ao sonegar impostos nos Estados Unidos, são punidos com severidade em nosso país.

Jesus!

Olho para as roupas espalhadas aos meus pés.

Separei três malas, mas não colocarei tudo o que possuo dentro delas. Não daria nem para o começo. Eu precisaria de ao menos umas quinze, mas fiz um pacto comigo mesma de que irei encher apenas essas e levarei o resto para doar. Já passou da hora de estourar minha bolha e viver a vida como um ser humano normal.

Pego duas bolsas, uma para a noite e outra para o dia e guardo junto ao resto da minha “mudança”. Quando puxo uma caixa de cima de uma prateleira do closet, ela cai no chão e várias fotografias se espalham.

Na maioria, somos nós dois, eu e Hayden, com mamãe. Nem quando ela era viva papai parava muito em casa e agora, olhando as imagens dela e não mais com as lembranças que guardei em minha mente de criança, vejo que seu sorriso era triste.

Caloroso, mas ainda assim, triste.

E então eu encontro outras fotografias da adolescência dela. Nestas, sim, está sorrindo com o rosto todo, os olhos brilhantes, as bochechas coradas.

Foi meu pai quem roubou sua alegria de viver?

Eu não consigo recordar. Apesar de que quando estava conosco fosse sempre carinhosa, ficávamos mais nas mãos das babás.

Fecho os olhos, pensando na promessa que lhe fiz em seu leito de morte e também das consequências para Hayden se não conseguirmos pagar a dívida de jogo.

O meu celular toca e eu corro para pegá-lo na mesinha de cabeceira.

É Alfonso. Eu gravei seu número do cartão que me deu porque preciso de ao menos cinco segundos para me preparar para falar com ele.

— Alô.

Anahi, sou eu.

Deus, como ele consegue ser sexy mesmo soando tão arrogante?

Sou eu!

Ele tinha certeza de que estava em minha agenda.

— Eu quem? — não resisto em provocar.

Não importa que o mundo esteja desabando ao meu redor, ele desperta meu pior lado

Gosta de jogar, senhorita Puente?

— Talvez eu esteja só tentando ajudar em seu crescimento como ser humano. Sabe, fazendo com seja um pouco mais humilde.

— Eu queria saber se seria tão corajosa caso estivesse na minha frente.

— Já estive na sua frente e nem por isso deixei de dizer o que pensava, senhor Herrera.

— Eu gosto de como me chama: senhor Herrera. Gostaria de ouvir isso em outro contexto.

Eu tenho certeza de que ele está irritado, mas devolvendo a provocação também.

Sinto o coração disparado e é tentador ter um pouco de diversão no meio do caos, mas não é inteligente ficar aborrecendo uma das únicas pessoas que pode nos ajudar.

Decido mudar de assunto.

— Ligou para falar sobre o meu pai?

Sim. Eu providenciei para que um advogado a acompanhe na visita daqui a pouco.

— É necessário?

Se quiser privacidade com seu pai, tudo bem — fala como se tivesse o direito de decidir por mim —, mas não gosto da ideia de que vá a um presídio sozinha.

— Eu… agradeço. Era só isso?

Não quero ser grosseira, mas falar com ele não faz bem para minha saúde coronária.

Avise-me quando sair de lá.

— Por quê?

Para que possamos… hum… conversar sobre a mudança.

— Sobre isso… será que pode ser hoje mesmo? Eu não gostaria de ficar mais uma noite aqui.

Aconteceu alguma coisa?

É tentador contar a verdade a ele, mas então eu me recordo que a preocupação que demonstra comigo não é algo pessoal e sim que deve estar em seu DNA. Lembro muito bem de como falou sobre minha inexperiência para qualquer trabalho. O tom de deboche.

Não há nada mais difícil do que ter que ser grata a alguém que detestamos.

— Não. Eu só não quero continuar nessa casa mesmo — finalmente respondo —, agora que sei que ela não nos pertence mais.

Telefone-me assim que sair do presídio e então conversaremos a respeito.

— É o único irmão que pode falar comigo?

Que tipo de pergunta é essa?

— Pelo que eu entendi, seu padrasto deixou como tarefa que os filhos olhassem por nós. Está claro que não gostaria de estar conversando comigo, senhor Herrera.

O que eu gosto não vem ao caso. Agora seja uma boa menina e me telefone quando sair da visita ao seu pai.

— E o que acontece se eu não for uma boa menina?

Não me provoque, Anahi. Eu não gosto de você ou de sua família, mas eu te desejo. Se eu decidir ir atrás de você, não conseguirá me parar e vai acabar machucada. Eu não sou seu felizes para sempre. Não estou atrás de uma namorada.

— É recíproco — falo sem pensar e depois me corrijo rapidamente. — Sobre o gostar, eu quero dizer.

Claro que foi isso o que quis dizer  — ele ironiza. — Não me confunda com os homens que deve estar acostumada a manipular. Eu quero você, mas não pense que meu tesão muda alguma coisa. Se eu te levar para a cama, vou embora no dia seguinte sem olhar para trás.

— Tenha um bom dia, senhor Herrera.

Eu desligo o telefone sem esperar resposta.

Deveria me sentir muito afrontada com o que ele falou, mas ao invés disso, penso em como seria passar uma noite nos braços de um homem como Alfonso.

Aproveitar todos os prazeres que ele pode me proporcionar sem me sentir culpada e depois seguir com a minha vida.

O Acordo - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora