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Alfonso

Se existe alguém a quem desprezo ainda mais do que Jim Garret Puente III, é Berat Demirci, e no momento em que me volto e o vejo com a mão em volta da cintura de Anahi na pista de dança, a ira, que havia sido desencadeada pelo meu descontrole com relação a atração física que sinto por ela, rompe de vez as barreiras.

Tudo agora parece contribuir para aumentar meu mau humor.

A música, que antes soava agradável, atinge meus ouvidos alguns decibéis mais elevados do que o necessário.

As risadas, o cheiro das flores e até mesmo os garçons nesse desfile incessante com as bandejas de bebida me aborrecem.

Ele a gira em seus braços, como se a estivesse exibindo, como se tivesse algum direito sobre ela e algo primitivo dentro de mim me faz andar, sem raciocinar sobre minha ação, para onde estão.

O meu corpo, rijo como aço, dessa vez não encontra-se tenso pelo desejo que ela me desperta. É um sentimento inexplicável de posse.

Anahi me vê antes de Berat e quando nossos olhos se bloqueiam, não é a fria ironia que eu encontro naquelas profundezas escuras como chocolate amargo, e sim, um pedido silencioso de ajuda.

Eu nunca fui conhecido pelo comedimento. Não faço apostas para blefar ou assustar meus adversários. Eu passo por cima deles como um rolo compressor em busca do que eu quero.

E o que você quer é ela? — uma voz debocha na minha mente, repetindo a pergunta que meu irmão me fez há pouco.

Eu não paro para pensar muito a respeito. Basta olhar a boca carnuda, a pele de seda e os longos cabelos loiros caindo pelos ombros nus que algo mais poderoso do que a razão e a prudência, me faz terminar os passos que faltam para alcançá-la.

— Senhorita Puente, perdoe-me a distração. Acabei envolvido em uma conversa infinita, mas agora quero a minha dança.

Eu posso ver a surpresa em seu rosto, mas não me passa despercebido um suave suspirar de alívio.

Apenas agora Berat percebe que estou parado às suas costas, o que mostra o quanto é imprudente. Em qualquer ambiente, estou atento aos meus inimigos e sobre nós dois, não se trata apenas de uma disputa entre empresários que eventualmente se esbarram em negociações em que ambos temos interesse.

É pessoal.

O olhar de puro ódio que Berat me dirige me deixa satisfeito. Irritá-lo é um bônus, mas eu ainda quero meu prêmio.

Por uma música, vou me permitir tê-la em meus braços.

— Senhor Herrera, eu não me esqueci da dança que lhe prometi, mas não quis interrompê-lo.

A voz dela, agora que disse pela primeira vez uma frase completa para mim e não mais o cumprimento curto, distante e educado costumeiro, me causa estranheza.

É suave e melódica, na contramão da personalidade que desconfio que seja impertinente, dada a maneira provocante com que sempre me tratou.

— Não se desculpe. A responsabilidade foi inteiramente minha. Não se deixa uma mulher como você esperando.

Há um prazer secreto em mover as peças nesse jogo em que ambos sabemos que estamos representando.

Eu não sei porque diabos Anahi não quer dançar com Berat, mas ela estar aceitando espontaneamente vir para os meus braços quando já deixou claro que nossa antipatia é recíproca, só pode significar que despreza o infeliz tanto quanto eu.

Como se houvesse um acordo sem necessidade de palavras, no momento em que se solta dele, como uma continuidade de sua ação, eu a puxo para mim.

Não há nada que Berat possa fazer a respeito.

Além do fato de que provavelmente nesse momento todos os olhos dos convidados estão em nós, atentos a cada respirar, eu não lhe dou opção, segurando-a como faço com tudo na minha vida: como se fosse meu direito primordial demarcar território sobre ela.

Eu a levo para longe sem um segundo olhar para o homem. Nos primeiros segundos em que dançamos, nenhum de nós fala.

Não há uma explicação lógica para o que acabo de fazer e no momento, eu não estou preocupado com isso porque cada partícula do meu corpo está concentrada na sensação de finalmente sentir a maciez do corpo dela.

Uma proibição que me auto-impus, mas que por mais que eu tenha tentado, não fez desaparecer meu desejo.

Dançando a música lenta, eu a movi para um canto do salão e agora, temos relativamente privacidade sem que as pessoas nos observem.

— Um “muito obrigada por me salvar, senhor Herrera”, seria recomendado agora, Anahi.

Seu rosto está abaixado na altura do meu peito e ela não tem pressa em levantá-lo para me encarar. Quando finalmente nossos olhos estão fixos uns nos outros, ela lambe os lábios, como se sentisse sede.

Os corpos estão colados ao limite e as curvas deliciosas se encaixam em mim.

— Mesmo antes de perceber que eu não queria dançar com o senhor Demirci, já estava vindo até nós. Por quê?

— Eu estava? — ironizo.

Ela endurece em meus braços e em seguida, tenta se soltar, o que não permito.

— Talvez eu tenha me confundido. Muito obrigada por me salvar, senhor Herrera — ela repete minhas palavras, mas as pronuncia como se cada uma fosse um dardo envenenado.

— Se não queria dançar com ele, por que aceitou?

— Não quis ser grosseira. Ele e meu pai tê negócios em comum.

— Eu sei que sim.

— O que isso significa? — pergunta, percebendo minha ironia.

— Que os iguais tendem a se agrupar.

Ela não diz mais nada. Estranhamente, volta a relaxar, o corpo se aproximando do meu talvez de maneira inconsciente.

— Por que não gosta dele, Anahi?

— Quem disse que eu não gosto?

— Porque também não queria estar dançando comigo, mas pareceu escolher a mim como algoz ao invés de Berat.

— Principalmente porque eu não corro riscos. Meu pai não gosta do senhor. Eu não gosto do senhor — diz com petulância. — E o senhor não gosta de mim. É um acordo perfeito.

Suas palavras não me irritam. Eu gosto da honestidade dela.

Aproximo minha boca de sua orelha, puxando-a mais firmemente em meu abraço.

— O modo como está tremendo ao dançar comigo não tem nada a ver com gostar, senhorita Puente. Já é uma mulher. Deveria saber disso. Seu corpo reage ao meu independentemente de sua vontade.

O Acordo - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora