Alfonso
Nem eu sei porque estou tão irritado. Não faz o menor sentido me aborrecer com o flerte descarado de Atticus para cima de Anahi. Eu o conheço há muitos anos e sei que faz isso com tanta facilidade quanto respira.
Além do mais, se ficarei com ela por um mês, tenho que aprender a lidar com os olhares dos outros homens. Anahi é deslumbrante e, no pouco tempo de viagem e depois, com nossa chegada à Grécia, já percebi cabeças se virando enquanto passava.
Ela deve estar mais do que acostumada a despertar o interesse masculino e o fato de ser virgem aos vinte anos apenas significa que eu estava certo desde o começo: o pai tinha a intenção de usá-la como moeda de troca a quem lhe desse o lance mais alto. Não acho que ele esperava, no entanto, que seria eu a fazê-lo — penso com cinismo.
Anahi finge se concentrar no cardápio enquanto a observo. Os cabelos loiros como sol atuando como uma cortina, escondendo seu rosto de mim.
Apesar do que falou, sei que está chateada.
É jovem e não sabe como funciona um relacionamento como o que teremos.
Dormir ao seu lado só tornaria tudo mais confuso para ela.
— Alguma bebida, doutor Herrera? — a garçonete pergunta em um inglês carregado e com um sorriso que parece estar oferecendo mais do que drinques.
Eu ignoro o convite dissimulado.
Apesar de ser uma moça bonita, não tenho olhos para outra que não seja a mulher enigmática à minha frente.
— Você bebe álcool, Anahi?
Ela enfim volta a me dar atenção.
— Não muito. Você bebe?
Dou de ombros.
— Sou ateu, mas mesmo os religiosos no meu país ingerem raki.
— Ah, eu já experimentei também, mas hoje acho que vou querer só água com gás e uma rodela de limão mesmo.
— Duas águas com gás — falo à garçonete.
— Já decidiu o que quer comer?
— O que sugere?
— Confia em mim para escolher seu prato?
— Confiei em você para me trazer a uma ilha grega a qual nem sei direito onde fica, Alfonso. A escolha do jantar não parece tão perigosa assim.
— Nesse caso sugiro o menu do chefe, com provas de vários pratos. Podemos compartilhar.
— Hum, eu não sei. Não sou muito boa nessa coisa de dividir e sinto-me faminta.
Eu a olho, surpreso com o súbito bom humor.
Confunde-me com a maneira desapegada. Qualquer outra parceira que tive, se fosse direto como agi com ela, botando as cartas sobre nosso relacionamento na mesa, ficaria aborrecida.
— Vamos querer o menu do chefe, então.
A mulher se afasta e Anahi olha em volta, agora se concentrando na cidade abaixo de nós.
— O que está pensando? — Enfim desisto de tentar adivinhar ou mesmo de bancar o indiferente.
Eu teria que ser estúpido para negligenciar alguém como ela apenas porque fiquei enciumado com as atenções que Atticus lhe dirigiu.
Anahi é o pacote completo. Linda, sexy e tem classe. A língua afiada é um bônus irresistível. Algo que em minhas outras amantes me irritaria, nela, é um atrativo. Os pequenos embates entre nós dois funcionam como uma espécie de preliminares.
Ela sorri, provocante.
— Não está acostumado com o silêncio em suas mulheres?
— Por que tenho a sensação de que está tentando trazer meu passado à tona para arrumar motivo para uma briga?
— Foi uma pergunta simples.
— Não para mim e para ser sincero, não teria como lhe responder. Uma vez que viro a página em um relacionamento, não penso mais na mulher em questão.
Ela não parece se abalar com minhas palavras frias, porém, honestas.
— Sabe algo que percebi, Alfonso? Esses trintas dias juntos serão um grande aprendizado para meus relacionamentos futuros.
Eu não deveria me importar em ouvir isso. Anahi tem vinte anos e está começando a viver agora. Obviamente conhecerá muitos parceiros ainda. Entretanto, eu sinto como se ácido estivesse corroendo a boca do meu estômago.
— Disse que quer um emprego. Já tem planos para o que quer fazer? — mudo de assunto.
— Pensei em me tornar enfeite de vitrine. Afinal, segundo o que acha de mim, é assim que sou.
— Se está zangada por alguma razão, fale. Eu não gosto de jogos.
Ela volta a olhar o mar e demora um pouco antes de me responder.
— Estou, sim, mas não sei a razão. No entanto, o que eu falei sobre aprender com você é sério. Eu me sinto despreparada para a vida. Se convivermos, talvez eu possa captar uma coisa ou duas sobre como me posicionar diante do mundo.
— Tornando-se uma empresária implacável?
Ela novamente me dá um sorriso de canto de boca, a própria imagem da provocação.
— Não. Tornando-me fria e cínica, senhor Herrera.
— Ah, Anahi, o que eu não daria para não desejar você.
— Por quê?
— É tudo o que não quero em uma mulher.
— Por que não sou mansa?
— Também. Além disso, é imprudente e tem uma língua comprida.
— Em nosso trato não estava combinado que eu seria um cordeiro. Aceitou a proposta sem pestanejar, Alfonso. Não haja como se tivesse sido enganado.
Sorrio.
— Não, eu não fui enganado. Eu só queria entender por que tinha que ser você.
— Por que tinha que ser eu, o quê?
Antes que revele mais do que desejo, a garçonete chega com pequenas entradas típicas da culinária grega: hummus, tirokafteri e skordalia, além de uma generosa porção de pita.
Por vários minutos, comemos em silêncio. Apesar de sentir fome assim como ela, distraio-me mais observando-a do que dando atenção à refeição.
Eu nunca a tinha visto comendo. Nos jantares que participamos, jamais fiquei tempo suficiente para isso.
Ela não estava blefando quando disse que sentia fome. Passa generosas porções das pastas no pão e ainda lambe os dedos quando algum pedaço lhe escapa.
Eu acho que nunca presenciei algo tão erótico em minha vida.
Anahi não parece se preocupar em engordar. Ela se delicia com os pratos oferecidos e eu não consigo me impedir de fazer um paralelo ao imaginar se será entusiasmada assim também na cama.
Ela ergue os olhos e para de comer quando me pega observando-a. Sorri, mas parece sem jeito.
— Estou sendo gulosa?
— Continue. Está me deixando louco vê-la comer.
— Não vou conseguir mais, agora que disse isso.
— Por que não?
— Porque não vou parar de pensar que está… hum…
— Excitado?
Ela balança a cabeça, concordando.
— E isso te tira o apetite?
— Não. Deixa-me ainda mais faminta.
Porra! Essa mulher será o meu fim.
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O Acordo - FINALIZADA
RomanceAviso: pode conter gatilhos. Alfonso Herrera, herdeiro da família mais poderosa da Turquia, não é o tipo de homem que tem dúvidas sobre pegar para si o que quer, principalmente no que diz respeito a mulheres. Entretanto, por questões morais, não se...