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Anahi

Eu saio da atual sede das empresas do meu pai mais perdida do que entrei. Além de não entender nada de termos técnicos, os advogados se recusaram a me dar a totalidade das informações, dizendo que somente a mesa diretora teria acesso a elas e nem eu e nem Hayden fazemos parte da diretoria da empresa.

A maneira como meu pai nos alienou de contas bancárias, principalmente eu, que sou a mais velha, agora está cobrando seu preço.

Eu sinto raiva de mim mesma por ter sido sempre tão passiva. Estou ensaiando há mais de um ano dizer a ele que queria ir para uma faculdade e não cursar online como ele impôs, mas me acomodei e deixei que dominasse todas as áreas da minha vida.

Eu me transformei no que ele quis: uma socialite cuja única função na vida é oferecer festas.

Não que se eu fosse dona de uma floricultura agora adiantaria alguma coisa agora porque nunca conseguiria juntar um milhão de euro, mas ao menos, quando, de acordo com o que acabei de ouvir, os bancos e credores nos tomarem tudo, ainda teríamos um teto sobre as cabeças.

Duas horas depois, passo pela porta giratória do banco que, de acordo com os nossos advogados e como meus cartões de crédito e débito apontam, temos conta.

A diferença de temperatura entre o ambiente que acabo de deixar — uma sala refrigerada, com piso de mármore —, para as ruas de Istambul, é tão destoante que fico um pouco tonta.

Seguro a alça da minha bolsa com firmeza com as duas mãos, andando para a calçada à procura de um táxi, já que o nosso motorista, desde que meu pai desapareceu, não foi mais trabalhar.

Deveria ter sido um sinal de alerta para mim, afinal, os empregados sabem muito das nossas vidas, principalmente o motorista do meu pai, já que ele cansou de fazer negócios na ida para o trabalho.

Eu tenho certeza de que quem me visse agora, acharia que não há nada de errado comigo. Para ser filha do meu pai, a principal característica não precisa ser inteligência, mas a capacidade de ocultar suas reais emoções.

Todos esses anos de treino são bem úteis no momento, caso contrário, eu estaria demonstrando todo o desespero que sinto por dentro.

Eu faço sinal com a mão, mas os motoristas me ignoram e eu sei que é por causa do horário — fim do expediente.

Estou pegando meu celular para chamar um táxi pelo aplicativo quando um carro negro e de janelas também escuras, para ao meu lado na calçada.

Eu recuo para quem quer que esteja atrás de mim poder entrar. Ninguém se aproxima e os veículos começam a buzinar, impacientes.

E então, o vidro traseiro da limusine abaixa e eu fico completamente congelada no lugar quando noto quem é o passageiro.

Alfonso Herrera.

— Entre, Anahi. Não vai conseguir táxi a essa hora e presumo que não esteja acostumada a transporte público.

Apesar do calor e de me sentir exausta, eu hesito.

Eu gostaria de tirar a expressão de escárnio do rosto dele quando disse aquilo. Virar-lhe as costas e deixá-lo falando sozinho, mas duas coisas me impedem: a primeira, é o fato de que eu não quero ficar muito tempo longe de casa porque tenho medo de que Hayden cometa uma loucura.

Ele me assustou muito com aquela conversa sobre morte.

A segunda, é que mesmo que o deteste, Alfonso é um homem de negócios. Quem sabe ele não poderá me orientar sobre como proceder em relação aos credores?

Eu odeio a ideia de pedir ajuda e justamente a ele, mas estou apavorada demais com a dívida que meu irmão contraiu com Berat Demirci. Não se trata só de mim.

Ele usa óculos escuros, mas ainda assim, consigo sentir seus olhos me percorrerem inteira.

Parece saber antes que eu faça qualquer movimento, que venceu aquela batalha porque sai do carro e abre a porta para que eu entre.

Eu passo por ele sem voltar a encará-lo, mas calculo mal a distância entre a calçada e o veículo e tropeço.

Alfonso é rápido em me socorrer e quando mais uma vez estou com seus braços à minha volta, eu não quero me soltar.

Não é um desejo racional, é uma sensação de que estou no lugar certo, com a pessoa certa.

O quão louco pode ser isso?

— Por mais que eu goste de sentir esse corpo pequeno contra o meu, estamos atrapalhando o trânsito, senhorita Puente.

Sinto minhas bochechas esquentarem e finalmente volto ao mundo real.

Deus, se dançar com ele já testou meus limites naquele dia, o que acontecerá em um espaço tão diminuto quanto o interior de um veículo?

Não leva muito tempo para eu descobrir. Assim que tem certeza de que eu me sentei, ele se acomoda ao meu lado.

E eu quero dizer exatamente isso — ao meu lado —, porque apesar de haver a possibilidade de manter distância nos bancos, Alfonso não faz nada para afastar sua coxa musculosa da minha.

Fico chateada com o modo como meus dedos tremem ao fechar o cinto de segurança e mais ainda porque ele executou a tarefa em si mesmo rapidamente e com destreza.

— Precisa de ajuda?

Novamente sinto ironia em seu tom e com a cabeça baixa, sacudo de um lado para o outro, fazendo que não.

O bendito cinto não encaixa e meu nervosismo só faz piorar. Vejo suas mãos se aproximando, mas não me rendo ainda.

Ao invés de afastar as minhas para tomar a tarefa para si, no entanto, ele as sobrepõe, guiando meus dedos no dispositivo.

Eu não consigo me impedir de levantar a cabeça para encará-lo e por um instante, tenho a sensação de que vai me beijar.

Entretanto, um carro buzina atrás de nós e ele fecha o cinto, sentando ereto no banco logo em seguida.

O Acordo - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora