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Anahi

— Não vá ainda, senhora Greenwell. Eu preciso lhe mostrar o novo conjunto de copos de champanhe que adquiri no leilão da Sotheby’s. Ele pertenceu a parentes da realeza austríaca.

Como eu esperava, o rosto da mulher se alegra como se eu tivesse acabado de lhe oferecer o Santo Graal.

Já o homem à minha frente, parece zangado.

Eu não me importo. Farei o que for possível para não ficar a sós com Berat Demirci e se para isso tiver que passar a noite inteira mostrando nossas coleções de louça e copos para as senhoras, que seja.

— Na verdade, eu não vou demorar, Anahi. Será que me dão licença por alguns minutos, senhoras?

Ele não espera resposta e segurando meu cotovelo, começa a se distanciar das minhas visitas.

É a segunda vez que me toca, tirando apertos de mão em cumprimento. Antes só havíamos estado tão perto no dia da festa em que, de maneira imprudente, deixei que Alfonso inventasse a farsa que me tirou dos braços de Berat.

O meu pai ficou sem falar comigo por dias após aquilo, ignorando-me completamente, mas eu não me arrependo. Eu teria feito tudo de novo se isso evitasse que eu passasse mais tempo com o homem detestável.

Qual deles? — uma voz pergunta na minha cabeça, mas eu sei que mesmo antipatizando com o senhor Alfonso Herrera, ele não faz meu estômago apertar de medo como Berat faz.

O sentimento por ele é outro: desejo.

Quando ele para de andar, eu me afasto de seu toque e dou um passo para trás.

— Em que posso ajudá-lo, senhor? — Apesar de falar com ele, eu não o encaro.

— Eu vim convidá-la para um jantar na próxima semana.

— Obrigada, mas eu já tenho compromisso.

— Eu não lhe disse o dia ainda, Anahi, e se passei a impressão de que tinha escolha em aceitar, peço perdão. Você não tem.

Eu agora olho em seus olhos. Apesar de pressentir que havia algo de maligno no homem, até então não me senti ameaçada, mas ele não deixa dúvida com o que acaba de falar que não está aqui para uma visita social, o que me faz lembrar outra vez da pasta de documentos na biblioteca.

— Eu não estou entendendo — digo, me fazendo de sonsa, mas por dentro estou apavorada. Sinto uma trilha de suor gelado escorrer pela minha coluna.

— Não tenho muita paciência e isso é algo que vai aprender rapidamente sobre mim, Anahi, então vamos ao que interessa. Eu venho buscá-la na semana que vem, na terça, para que não só seja a anfitriã ao meu lado na festa que darei, como também, no dia seguinte, seguir viagem comigo para a Capadócia.

— O quê? Ficou louco? — quase grito e quando vejo as cabeças das mulheres se voltarem na nossa direção, modero o tom. — Eu mal conheço o senhor. Não temos qualquer ligação. Acha que pode entrar na minha casa e me dar ordens?

Pela primeira vez que eu me lembre, as palavras saem sem que eu consiga controlar, mas o pânico é tão grande que eu não estou mais me preocupando em manter as aparências.

— Cuidado com o que fala. Eu exijo respeito das minhas mulheres, Anahi.

O meu coração bate tão forte agora que eu consigo quase senti-lo empurrando internamente contra o peito.

— Eu não sou sua mulher e nunca serei. Eu não sei de onde tirou isso.

Ele pega o celular de dentro do bolso e depois de pesquisar um número na tela, me entrega.

— Fale com seu pai. Ele vai lhe explicar tudo.

Eu me recuso a tocar o aparelho.

— Falarei com papai quando ele voltar de viagem.

— Se não vier me encontrar na próxima semana, prometo que vai se arrepender. Eu vou te dar esses dias para pensar, para que perceba que não tem saída. Fará o que eu mandar.

Eu me sinto tão nervosa que estremeço e odeio demonstrar fraqueza na frente dele.

— Gostaria que saísse da casa da minha família, senhor Demirci.

— Está equivocada duplamente, Anahi. Em primeiro lugar, essa casa não pertence mais à sua família e segundo ao me enfrentar, o que vai lhe custar caro no futuro.

Eu fico tão chocada com a ameaça que não consigo falar mais nada. Apenas observo o homem de estatura baixa, mas que deve pesar ao menos uns cinquenta quilos a mais do que eu, se afastar.

Até agora, eu nunca prestei muita atenção em Berat Demirci. Eu o coloquei em uma lista de pessoas a quem desprezo e o deixei lá. Nunca precisamos conviver, então tirando os eventos sociais em que nos encontrávamos, eu nem me lembrava que ele existia, ao contrário de Alfonso, que invade meus pensamentos nas horas mais inesperadas, ocupando um espaço que eu não quero lhe conceder.

O senhor Demirci blefou quando disse que a casa não nos pertence mais?

Deus, eu preciso falar com o meu irmão.

— Está tudo bem? — a senhora Greenwell pergunta quando volto a me aproximar do grupo.

— Sim.

— Eu achei que ele fosse ficar.

— Não, o senhor Demirci tinha um compromisso. E então, prontas para ver os copos?

Cristais e champanhe são as últimas coisas que estou pensando, mas sei que elas só irão embora depois que eu lhes mostrar.

Cerca de trinta minutos depois, eu me despeço da última senhora e quase corro para a biblioteca.

Abro a pasta e leio seu conteúdo sem pressa dessa vez.

Quando finalizo, deito a cabeça no tampo de madeira, enquanto faço força para não chorar.

A situação é muito pior do que eu pensei a princípio. Estamos perdidos.

O Acordo - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora