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Alfonso


Não foi por isso que vim.

Eu não quero desejar mergulhar naqueles olhos, pensar no quanto sua boca está próxima ou em como estou louco para sentir aqueles lábios cheios, ajoelhada agora mesmo no piso da limusine, tomando meu pau.

A única razão de ter vindo à procura de Anahi foi a pedido do meu irmão.

A prisão de Jim foi decretada, justo em um momento em que Cenk está fora do país, assim como Emir. Ele me pediu que viesse encontrar os filhos do bastardo, e como minha confiança na capacidade mental de Hayden é nula, saí à procura da irmã.

— Sabe por que vim?

Ela estava olhando para fora da janela, mas depois do que falo, me encara.

— Não estava passando, apenas?

Parece realmente surpresa.

— Não, eu vim encontrá-la depois que seu irmão me disse que tinha ido à empresa e também ao banco.

Eu me virei no assento para encará-la, me forçando a lembrar a razão pela qual a mulher está no meu carro, mas por mais que eu tente me manter indiferente, não posso deixar de notar as olheiras em volta dos olhos que também parecem irritados.

Esteve chorando?

— Eu não estou entendendo, senhor Herrera.

— Seu pai foi preso.

— Eu sei. Não veio aqui para me dizer algo que já é de conhecimento público — fala, como se tentasse controlar a irritação.

— Não seja irônica.

— Por que esse é um privilégio só seu?

— Eu achei que fosse mais madura, Anahi.

— Enganou-se. Tenho vinte e sei muito pouco da vida. Ser comedida ao expressar o que sinto e penso não significa maturidade, e sim, que fui treinada para me comportar desse jeito.

Ela falou mais comigo e mostrou mais de si mesma nesses poucos minutos do que em todas as vezes em que a encontrei antes. Entretanto, não tenho a intenção de me permitir sentir qualquer empatia por sua suposta vida de opressão. Por tudo que já pude observar sobre ela, Anahi não passa de uma garota mimada como tantas outras oriundas de famílias privilegiadas ao redor do mundo.

— Jante comigo. Precisamos conversar.

— Eu… huh… preciso ver meu irmão.

— Seu irmão já tem dezoito, Anahi. É um adulto.

— Por que esse convite? Mal falou comigo até o dia em que me tirou para dançar naquela festa.

— Não ache que estou cortejando-a. Saberia se fosse o caso.

As bochechas dela ficam rubras.

— Nem passou pela minha cabeça.

— Está caindo consideravelmente no meu conceito desde que comecei a conhecê-la melhor, senhorita Puente. Suas mentiras se multiplicam sem controle.

— O que quer de mim, então? — pergunta, sem tentar negar outra vez que sim, estava pensando que eu tinha interesses ocultos.

— É sobre seu futuro e o de seu irmão. Sabe que seu pai já foi sócio do meu padrasto?

— Seu padrasto? Eu o conheci?

— Não. Ele já faleceu há muitos anos. Jante comigo e eu explicarei tudo.

Ela acena com a cabeça, concordando, embora seu rosto denote confusão.

O percurso de quase meia hora se faz em silêncio e quando enfim chegamos a uma das salas privadas do restaurante três estrelas Michelin, que pertence ao meu irmão Qasim, eu puxo a cadeira para que ela se sente antes de explicar o que preciso.

Eu não pretendo passar um segundo a mais do que o necessário ao lado de Anahi Puente.

Percebo que ela olha ao redor, admirada com a decoração toda em negro, minimalista. Eu não costumo frequentar esse restaurante porque quando saio com minhas mulheres, procuro ser discreto e as pessoas aqui vêm para verem e serem vistas.

Foi por essa razão que escolhi a sala privada, reservada normalmente para chefes de governo em visita ao nosso país.

— É muito bonito — ela diz.

Eu sei que nunca veio aqui. A lista de espera é de seis meses e os clientes aceitos, escolhidos a dedo. Assim como eu, meu irmão não iria querer Jim Puente e os filhos em seu estabelecimento.

— Sim.

O garçom se aproxima para oferecer bebidas, mas tudo o que ela pede é água. Em seguida, quando pergunto o que quer comer, Anahi diz que não está com fome, então eu posso fazer os pedidos.

Depois que dou as instruções ao garçom, pergunto:

— Tem noção de que todos os bens de vocês serão congelados? Até mesmo a casa em que moram.

Caso não estivesse atento, poderia deixar passar um leve tremor em seus lábios, mas eu percebo, assim como o modo com que se força a impedir que qualquer emoção transpareça.

— Sim. Como eu lhe disse antes, fui à empresa há algumas horas.

— E depois seguiu para o banco para tentar um empréstimo.

— Isso mesmo.

— E eles lhe disseram que não é qualificada.

Ela desvia os olhos dos meus e foca no próprio prato.

— Anahi?

— Foi exatamente o que me falaram. Pode por favor agora me contar sobre a razão de ter me chamado para jantar?

— Não foi um convite social, e sim, necessário. Meu padrasto deixou determinado em um documento que caso algo acontecesse com seu pai, ex-sócio e amigo dele, nós deveríamos ajudá-los a gerir os negócios. Exceto que não há nada para ser gerido. Estão na miséria, Anahi.

Eu não falo com a intenção de feri-la, mas por uma questão de fato. Desconfio que foi criada como uma princesinha, completamente fora da realidade e está na hora de entender que as cores do mundo não são rosa. Na maior parte das vezes, variam em um cinza sujo.

Ela empalidece ainda mais e mesmo sem querer me importar, eu o faço. O meu desprezo por Jim aumenta ao constatar que dei deixou os filhos completamente à descoberta. Há uma chance de que nem se lembre do acordo que fez com meu padrasto. Além do mais, com Halil morto, quem poderia garantir que cumpriríamos a palavra dada?

— Convidou-me para jantar para jogar na minha cara que somos pobres agora?

— Não. Na verdade, eu e meus irmãos, antes de sabermos que estavam totalmente quebrados, pretendíamos providenciar gestores para auxiliá-los no que fosse preciso.

— Apenas porque seu padrasto empenhou a palavra.

— Honra para nós tem peso de ouro, Anahi, independentemente do quanto desprezemos as ações do seu pai.

— Como pode acusá-lo? Ele não foi julgado.

Eu a estudo por vários segundos para tentar concluir se é mesmo tão ingênua.

Talvez seja uma alienada que nunca deu a mínima para de onde sai o dinheiro.

— Não tem mesmo a menor ideia de quão grave seja o que seu pai fez, não é? O envolvimento dele em atividades ilegais pode garantir uma pena de prisão perpétua.

O Acordo - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora