Epílogo I

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Anahi


Dia do Nascimento de Léo


Assim como o nome que escolhemos para ele, que significa “leão”, nosso filho, Léo nasceu com cachinhos e cabeludo como o pai.

Ele herdou a cor do cabelo, o nariz, boca e até o dedinho torto da mão de Herrera, mas tem os meus olhos, claros como o céu.

Eu não consigo parar de encará-lo enquanto mama em meu peito e como se entendesse o quanto estou apaixonada, ele me olha de volta também.

Vão dizer que estou louca, mas poderia até mesmo jurar que ele sorriu para mim. Eu levanto a cabeça e pego Alfonso nos observando. Sorrio, mas ele está sério enquanto caminha até a cama do hospital e beija minha boca e depois, a testa do nosso menino.

— Eu fechei muitos acordos ao longo da vida, minha Anahi, mas nenhum deles me trouxe mais riqueza do que quando aceitei sua proposta. Eu te amo e amo nosso filho acima de tudo.

Eu não consigo falar.

Do último mês de gravidez em diante fiquei muito sensível e qualquer coisa me faz chorar.

Eu perdi tudo: minha mãe; um pai, que mesmo ausente, era o único que eu tinha e, finalmente, perdi aquele que por muito tempo foi a razão da minha vida.

Recebi de volta o amor que nunca desfrutei, no entanto.

Eu me sinto adorada pelo homem que eu escolhi para mim e agora tenho a benção e prova viva desse amor em meus braços.

— Eu nunca negociei. Estava despreparada para a vida, mas quando resolvi fazê-lo, tirei a sorte grande. Não recebi um milhão de euros quando propus aquele acordo. Eu sinto que tenho o mundo inteiro Sr. Herrera.

- E você o têm, eu colocarei o mundo aos seus pés Sra. Herrera.






°





Seis meses depois

Eu precisei de muito tempo para criar coragem para vir.

Meses se passaram antes que eu pudesse ficar frente a frente com o meu irmão outra vez e agora eu estou aqui, com meu marido ao meu lado e alguns médicos vigiando Hayden.

Sinto vontade de chorar, mas mantenho meu rosto firme.

Fui muito orientada antes de entrar na sala. A equipe que cuida dele me explicou que ele tentaria me manipular, fazer com que eu sentisse remorso e culpa.

Recebo vídeos diários da atividade dele dentro da clínica e sei que está bem, dentro do possível.

Avisei ao meu pai, que foi condenado a somente cinco anos — uma pena pequena para quem acumula tantos crimes nas costas — o que aconteceu com Hayden.

A resposta que me deu é que sabia que o filho era um inútil.

Assim, facilmente, ele virou as costas para Hayden e mais uma vez, ele se tornou de minha exclusiva responsabilidade.

O cabelo do meu irmão cresceu e já não parece mais tão magro quanto antes. Ganhou corpo. Está musculoso. Mas agora, quando olho no fundo dos seus olhos, eu enxergo algo que não era capaz de ver antes.

O que eu confundia com timidez, percebo, é vazio. Não há calor ali. Não há vida. Ele só observa tudo e todos à sua volta, provavelmente pensando em como vai atuar para conseguir convencer seu interlocutor.

Foi algo que aprendi sobre a psicopatia. Os portadores dessa condição são como mímicos. Eles aprendem a representar. Fingir sentimentos.

Pena. Arrependimento. Tristeza. Amor.

— Eu senti tanta saudade, Any.

A voz soa como o meu menino de sempre. Meu irmãozinho tão amado, mas eu obrigo-me a recordar que é o mesmo que falou que nos mataria por dinheiro.

Eu não respondo, então ele muda a estratégia.

— O bebê já nasceu, né? Eu gostaria de ver uma foto dele. Qual é o nome do meu sobrinho? Eu quero muito conhecê-lo. Acha que me deixariam ir à sua casa por uma vez que seja? Por favor, irmã, eu me sinto tão sozinho aqui!

Agora eu não consigo conter uma única lágrima que cai na minha bochecha.

Eu me levanto e falo para meu marido:

— Eu não posso fazer isso. Não ainda.

— Vamos embora, então.

— Any, não pode me deixar aqui! Eu sou um bom garoto. Como pode me deixar aqui? Anahi!

Do lado de fora da sala, eu desabo nos braços do meu amor.

— Ele me faz mal.

— Não venha mais.

— Não posso abandoná-lo.

— Mas precisará estar mais forte, então. Não pode adoecer em benefício dele. Nós precisamos de você inteira.

— Eu estou inteira, Alfonso. Eu consigo enxergá-lo como ele é e por isso mesmo sofro tanto.

— Permita-se mais tempo, então. Coloque-se em primeiro lugar.





°



Mais tarde, com meu filho em meus braços, sentada na cadeira de balanço do quarto dele, eu penso na consulta que fiz há cerca de uma hora com a psicóloga.

Precisei desabafar com alguém que fosse neutro e despejei toda a angústia que senti ao rever meu irmão.

Sem saber, ela me disse quase a mesma coisa que meu marido: que eu deveria respeitar meu próprio tempo. Curar-me primeiro antes de querer apoiar qualquer um.

Decidi que é isso o que farei.

A porta do quarto se abre e o bebê em meus braços resmunga como se sentisse a presença do pai.

Juntos, colocamos nosso filho no berço e depois ficamos observando o fruto do nosso amor.

— Eu não vou me apressar, Alfonso. Estou cansada de sentir culpa.

— Não importa o ritmo que escolher, aşkım. Eu estarei caminhando ao seu lado.

O Acordo - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora