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Anahi

Eu estava quase cochilando quando ouço a porta abrir novamente, e quando abro os olhos, não é meu irmão quem está no quarto, é o último homem que eu desejo ver.

Eu nem me dou ao trabalho de mandá-lo sair. O médico voltou há pouco e confirmou que estou mesmo grávida e a essa altura, ele também já deve saber.

Viro-me ostensivamente para a parede e fecho os olhos. Estou muito abalada com a notícia da gravidez para conseguir enfrentá-lo. Ferida demais com as coisas que me disse no apartamento para ter forças para brigar.

— Anahi.

— Eu não quero conversar. Se está esperando que eu vá desmentir as coisas de que me acusou, basta puxar uma cadeira e esperar, mas esteja ciente de que ficará nela para sempre.

— Não vim para brigar, mas precisamos conversar sobre o futuro.

Eu finalmente o encaro.

— Eu sei, mas não posso fazer isso agora. Estou exausta e amanhã tenho que trabalhar.

— O quê?

— Nada. Não é da sua conta. Perdeu o direito de saber qualquer coisa sobre mim.

Enquanto falo isso, fico pensando no que faremos daqui por diante. Hayden estava zangado quando saiu do quarto e disse que pediria demissão da Herrera Steel Group, mas se o fizer, aí mesmo é que não conseguiremos pagar um lugar para nós dois morarmos. Agora que há um bebê a caminho, vamos precisar juntar todo o dinheiro possível.

— Vai despedir meu irmão?

— Por que eu faria isso?

— Porque acho que o contratou a meu pedido.

— Mas ele só se manteve lá porque é competente.

Eu aceno com a cabeça, disfarçando o quanto estou aliviada.

— Falou que ia trabalhar?

Eu desisto de manter o segredo. Farei qualquer coisa para que ele vá embora e se para isso é preciso que responda suas perguntas, tudo bem.

— Eu não estava naquela loja comprando flores, como me acusou. Estava conversando a respeito do meu contrato de trabalho.

— Não vai trabalhar doente.

— Eu sei. Já pedi ao meu irmão para conversar com a minha patroa, mas assim que estiver bem, vou sim.

Posso ver várias perguntas em seu rosto e também que está pronto para discutir a respeito da minha decisão, mas não dou a mínima.

— Quer mais alguma coisa?

— Precisa descansar por uns dias, se insiste mesmo nesse emprego — fala e não tenho dúvida de que está contendo sua natureza por conta do que o médico disse. — Eu vou colocar uma enfermeira para auxiliá-la.

— Não precisa. Vou me cuidar. Eu nunca faria nada que prejudicasse o bebê.

— Quanto a isso…

— Não — eu o interrompo. — Não preciso de você para criá-lo, mas não vou desistir dele. Se acha que vou me livrar do bebê para satisfazer seu desejo de consertar nosso “azar”, como chamou na Grécia a possibilidade de uma gravidez, não me conhece.

— É isso o que pensa de mim? Acha que mandaria que abortasse meu filho?

— Não faça perguntas as quais não esteja pronto para a resposta, Alfonso. O que eu penso de você nesse momento é muito pior. Disse que seria um azar eu ficar grávida, mas para mim, um filho, mesmo com todos os desafios que me esperam no futuro, é uma benção. No entanto, não posso deixar de concordar com o fato de que sendo seu, é mesmo um azar danado.

Eu vejo a fúria brilhar em seus olhos e sei que foi uma coisa estúpida e infantil de se falar porque não me imagino tendo um filho de qualquer outro homem, mas estou magoada demais para medir as palavras.

— Preferia que fosse do seu namorado?

— Saia! Vá embora e não volte!

Sento-me, querendo fugir para o banheiro até que ele se retire, mas faço o movimento rápido demais e fico tonta.

— Anahi.

— Vá embora — digo chorando e me odiando por isso. — Você me faz mal.

— Eu… perdoe-me. Não quero prejudicá-la. Quero cuidar de você.

— Da mulher que te traiu? Da fingida que trocou mensagens com um namorado secreto comemorando o fato de ter conseguido roubá-lo?

— Não me roubou, dei o dinheiro porque quis…

— Porque quis me comprar e conseguiu, senhor Herrera. Nosso acordo terminou. Qualquer coisa que devesse a você, já paguei. Espero que fique satisfeito e me recomende a outros clientes!

— Você não quer dizer isso. Não é uma prostituta.

— O que sou, Alfonso? Para alguém tão experiente, parece confuso. Decida-se. Sou a inocente mãe do seu filho ou a mau-caráter que se uniu a alguém para lhe passar a perna?

Ele não diz nada, mas posso ver a dúvida em seu rosto.

— Por que não pergunta ao advogado sobre a quem ele deu o um milhão de euros?

— Ele nunca me diria. Pro bono ou não, você o contratou. O sigilo cliente-advogado o impede.

— Meu Deus, você já tinha pensado nisso.

— Sim. Sou um homem de negócios. Eu lido com fatos. Deixo as emoções do lado de fora.

— Então aqui vai um fato, Alfonso: ligarei para o doutor Özdemir agora mesmo, autorizando-o a lhe mostrar o recibo que possui pela transferência que fez a Berat. Depois disso, pegue sua maldita desconfiança e vá para o inferno.

A porta se abre de supetão e Hayden entra, branco como uma folha de papel. Ele não olha para mim e sim, para Alfonso.

— Você prometeu não magoá-la outra vez.

— Não se preocupe com isso, irmão. Ele não tem mais esse poder. Não estou magoada, estou com muita raiva.

E eu pretendo me agarrar a ela com unhas e dentes. Preciso trazer de volta a antipatia e rancor que sentia por ele ou não vou conseguir sobreviver.

A dor que sinto é tão grande que parece física.

Fecho os olhos por vários minutos, tentando me acalmar, querendo que me deixem sozinha.

— Precisamos lidar com isso de maneira racional — ele diz, apesar de que o que vejo em seu rosto não tem nada de racional.

Quando acho que estou bem o bastante para não chorar na sua frente outra vez, abro os olhos.

— Tudo bem, mas como lhe falei no começo, não hoje. Eu preciso de uns dias sem ver você. Não tenho força ou vontade de enfrentá-lo agora. Se quiser participar da vida do nosso filho, amando-o como eu o farei, será bem-vindo, mas nunca mais toque no assunto desse namorado que inventou para mim ou nossa convivência será um inferno.

Hayden sai, nos deixando a sós e por quase um minuto, Alfonso me observa.

Eu não sei o que ele vê, mas sua expressão se desanuvia.

— Você não tem outro homem em sua vida — diz, por fim.

— Não. Eu nunca traí você. Mas o contrário não é verdadeiro. Vá embora.

O Acordo - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora