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Anahi

Quando finalmente chegamos à vila grega, é um pouco depois do anoitecer, já que aqui é uma hora a menos do que na Turquia e o voo, bem rápido.

Apesar de não dar para ver muito na penumbra, o que consegui captar da paisagem me deixou encantada. Tentei evitar não parecer uma tola, mas não pude deixar de fazer perguntas entusiasmadas a Alfonso, que respondia a tudo como se minha empolgação o divertisse.

— Nunca esteve na Grécia? — pergunta, assim que o motorista estaciona em frente a uma casa enorme, de dois andares pelo que posso ver e que parece ter saído diretamente de uma revista de turismo.

Ela fica no alto de um penhasco, isolada das demais construções da ilha, de frente para o mar e cercada de paredes de vidro por todos os lados.

— Apenas em Atenas. Em ilhas assim, não.

Ele me contou que a ilha em que estamos se chama Zarofu e pertenceu a um armador grego, mas os herdeiros não querem mantê-la, segundo me contou, e a colocaram discretamente à venda. Os Herrera, pelo visto, têm a preferência pela compra.

A ilha é privada, mas recebe turistas fora do terreno principal, no qual estamos agora, e que se ele comprar mesmo as terras, é onde ficará quando vier para cá.

É como uma pequena cidade, totalmente autônoma, com restaurantes e lojas.

— Está cansada? — pergunta, depois de me dar a mão para me ajudar a sair do carro.

— Não. Por quê?

— Pensei em levá-la para jantar em um restaurante típico.

— Eu adoraria — respondo com sinceridade, então me lembro do que ele me falou em nossa conversa ao telefone ontem e meu humor azeda.

— Mas pensei que tinha dito que eu não ia me preocupar com roupas, senhor Herrera. Achei que fosse me manter trancada em seu castelo privado.

— Sente-se aborrecida porque estou levando seus termos ao pé da letra, Anahi?

— Não. De jeito nenhum. Por que me sentiria assim?

Vejo quando ele faz um movimento com a cabeça para que o motorista nos dê privacidade.

Há guarda-costas parados a alguns metros de nós também, mas como todos que trabalham nesse setor, eles se fazem de invisíveis. Eu já nem noto, quase. Cresci cercada por eles e para mim é natural a presença de estranhos à minha volta.

Quando o homem se afasta, ele dá um passo para a frente, me imprensando contra o carro.

— O fato de eu querer mantê-la nua a maior parte do tempo — diz, correndo os lábios pelo meu pescoço —, não tem nada a ver com a natureza do nosso relacionamento e sim porque temos um prazo para o fim. Estou morrendo de fome por você.

Eu inclino o pescoço para trás, alheia a tudo mais. No momento, só existimos nós dois.

— Você é uma provocação mesmo sem se esforçar para isso, Anahi Puente. — Ele suga de leve a carne do meu pescoço e eu o abraço, querendo impedi-lo de se afastar.

— Não faço de propósito.

— Eu acredito. É da sua natureza, como é da minha desejar dominá-la.

Eu deveria empurrá-lo porque essa declaração é muito errada, mas ao invés disso, eu me permito aproveitar um pouco.

Alfonso parece saber o que eu preciso, porque me beija, roubando meu fôlego e juízo em uma única ação. Até mesmo a maneira como me segura pela cintura, a forma como seus dedos se espalham como se abarcasse todo meu corpo, me enlouquece.

Ele encaixa uma das pernas entre as minhas coxas e quando gemo baixinho em sua boca, as mãos apertam com mais forca os meus quadris.

Uma coruja canta relativamente perto de nós e o som nos traz de volta à realidade.

Alfonso não se afasta imediatamente, no entanto. É como se relutasse em parar de me tocar, o que sei, é um pensamento idiota.

Ele já deve ter tido centenas de namoradas ocupando exatamente o lugar em que estou no momento.

A lembrança me faz dar um passo para o lado.

— Quanto tempo tenho para me aprontar?

Ele ainda me encara por segundos intermináveis antes de olhar a hora em seu relógio.

— Cerca de meia hora.

— Tudo bem.

Eu me afasto e começo a andar em direção à construção, fingindo autoconfiança, ainda que as minhas pernas estejam moles como purê de batata.

Tenho certeza de que seus olhos estão me seguindo e me concentro em não tropeçar.

Em pouco tempo, Alfonso está ao meu lado e depois de me apresentar rapidamente aos empregados, instrui para que me levem a uma das suítes.

Eu só consigo voltar a respirar quando fico sozinha, depois que uma senhora muito simpática me guia para um dos quartos imensos e com um banheiro com vista panorâmica para o mar.

Apesar do prazo curto, eu pego o telefone para avisar a Hayden que cheguei.

Ele atende ao primeiro toque, o que me acalma imediatamente.

Oi, irmã. Chegou bem?

Sua voz está atipicamente animada.

— Sim. Como foi na Herrera Steel Group?

Você não vai acreditar. Eu consegui, Anahi. Vou trabalhar no setor de tecnologia da informação.

É a faculdade que cursará no próximo semestre, mas mesmo sem o ensino formal, meu irmão é um pequeno gênio. Sempre amou computadores.

— Está feliz?

Muito, e graças ao senhor Herrera.

— Tem consciência de que estamos tendo uma nova chance, Hayden? A essa altura, poderíamos estar embaixo da ponte.

Eu sei e não vou desperdiçá-la. Eu vi a cópia do e-mail do advogado, falando sobre a quitação da dívida. Não tem ideia de como estou aliviado.

Eu pedi que o doutor Özdemir me avisasse por e-mail quando conseguisse resolver o pagamento com Berat porque fiquei com medo se, caso me telefonasse, Alfonso ouvisse a conversa.

— Eu não quero que tenha mais qualquer contato com aquele homem, Hayden. Nem por telefone ou pessoalmente.

Eu também não. Aproveite sua viagem, irmã. Cometi um erro que não vai se repetir. Eu sei que agora somos só nós dois. Não vou te decepcionar.

Eu desligo depois de me despedir, pensando em suas palavras.

Não somos só nós dois agora. Sempre foi assim.

O Acordo - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora