Capítulo 7 - Charlie

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Mesmo depois do terceiro beliscão que deu em sua própria bochecha e de lavar o rosto pela segunda vez com água gelada, Charlie ainda assim não foi capaz de se convencer de que não estava delirando.

Encarando seu reflexo pálido e chocado no banheiro lavabo para onde tinha fugido na primeira oportunidade que teve, Charlie reviu detalhadamente em sua mente todas as coisas inacreditáveis que tinham acontecido na última hora. Era verdade que ela não se importava com o quão pouco seu pai havia lhe deixado na herança, por mais injusta que tenha sido a divisão. Porém, quando aquele advogado idiota tinha lhe dito que ela não poderia colocar as mãos em nada até ter 21 anos e que teria que ficar à mercê de Samantha por um mês inteiro, Charlie acreditou que estava presa em um pesadelo. Sua liberdade parecia estar tão próxima e, de repente, havia se desintegrado por completo. O choque e o desespero foram tão intensos que ela mal foi capaz de formular um argumento que fizesse sentido, enquanto gaguejava pateticamente com todas aquelas pessoas que só queriam prejudica-la.

Foi quando, absolutamente do nada, Morgan a havia pedido em casamento.

É claro, não tinha sido exatamente um pedido de casamento, como ela só seria capaz de imaginar em seus sonhos mais românticos, mas sim uma afirmação certeira de que eles já estavam noivos e prestes a se tornar marido e mulher.

Se beliscando pela quarta vez, Charlie fechou os olhos com força, tentando voltar a realidade. Seu coração iludido seguia insistindo em ficar encantado com toda aquela situação, mas ela precisava pará-lo o mais rápido possível. Seria idiotice se deixar enganar pelo que tinha acontecido, acreditando que Morgan tinha feito aquilo motivado por algum outro sentimento por ela que não fosse amizade. Sua motivação estava muito clara, até mesmo para uma boba apaixonada como ela. Tudo o que ele queria era cumprir sua promessa de não permitir que Samantha a prejudicasse. E, se fosse necessário se tornar marido dela por um ano para isso, então aparentemente ele estava disposto a pagar o preço.

Cruzando as mãos sobre o peito, Charlie aplicou pressão sobre seu coração, perguntando-se se assim conseguiria controlar aquela sensação de que ele estava prestes a explodir com tantos sentimentos conflitantes. Droga, ser esposa de Morgan soava como um sonho, mas será que realmente valeria à pena, quando tudo não passaria de uma farsa? Quando ela sabia perfeitamente que ele não sentia nada por ela e jamais sentiria? Quer dizer, ela não precisava necessariamente morar com Samantha, certo? Os advogados tinham deixado claro que ela podia não ser legalmente adulta para receber nenhuma das duas heranças, mas era livre para decidir por si mesmo e ficar com quem quisesse. Ela poderia simplesmente aceitar a oferta de Morgan de lhe conseguir um apartamento e ficar lá por um ano...

Mas então Samantha ganharia.

E apenas essa simples ideia fez com que suas mãos se apertassem em punhos, em pura fúria. Não era o que ela queria. E certamente Morgan sentia o mesmo, se estava realmente disposto a fazer aquilo.

Deus, o que ela devia fazer...?

Inclinando-se sobre a bancada da pia, Charlie pressionou as pontas dos dedos sobre suas têmporas, esperando que assim a reposta correta para suas dúvidas lhe viesse magicamente. Porém, conforme os minutos foram passando e nada aconteceu, ela se deu conta de estava sozinha para decidir aquilo. A melhor saída era agir como uma adulta e conversar com Morgan, para que juntos eles decidissem que aquela era realmente a melhor saída. Assim, com um suspiro resignado, Charlie tentou se recompor o máximo que conseguiu e começou a se arrastar para a porta do banheiro, mas o som abafado de um par de vozes conhecidas chamou sua atenção, parando-a em seu caminho para fora.

— O que você estava pensando, Morgan?! — ela ouviu Samantha grunhir, frustrada — Como pôde dizer algo assim na frente dos advogados? Não parou para pensar que agora as fofocas podem se espalhar e todos começarão a pensar que você está realmente envolvido com aquela fedelha? Sinceramente, esse seu blefe foi ridículo e desesperado demais...

Como Seduzir o Seu MaridoOnde histórias criam vida. Descubra agora