Capítulo 30 - Morgan

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— E esses são os relatórios da reunião de hoje. — disse Hiroshi, seu assistente, colocando sobre a mesa uma amontoado de papéis dentro de uma pasta.

Contendo um suspiro, Morgan abriu o arquivo e trouxe os papéis até a altura de seus olhos, precisando fazer um esforço descomunal para se concentrar nas palavras que estavam impressas ali. Nunca antes em sua vida ele tinha saído do automático e ficado disperso em seu trabalho antes, mas Charlie havia mudado até mesmo aquela parte de sua vida. Agora, ao invés de facilmente se focar nas informações que precisava absorver e decisões que precisava tomar, ele não conseguia pensar em mais nada além de voltar para casa, para Charlie. E não apenas para deslizar dentro de sua buceta deliciosa, mas, talvez principalmente, para tê-la nos braços e poder conversar com ela, ouvir sua risada e simplesmente observá-la existir, o que ultimamente tinha se tornado seu passatempo preferido...

— Sr. Sullivan? — a voz de Hiroshi o tirou de seus devaneios, com o tom um pouco mais elevado deixando-o saber que não era a primeira vez que seu assistente tentava chamar sua atenção.

— Sim? — Morgan respondeu, desanimado.

— Você está bem? — foi o que o outro homem lhe perguntou, preocupado — Parece um pouco estranho, hoje. Nunca o vi assim tão...

— Desatento? — ele o completou, com um sorriso triste — Acho que tenho muitas coisas em que pensar, ultimamente, além da empresa...

— Oh, eu entendo. — Hiroshi riu, simpático — Ainda me lembro de como foram meus primeiros meses de casado. Tenho certeza que deve estar sendo desafiador não tirar algum tempo de folga e sair com a Sra. Sullivan em lua de mel...

Morgan piscou com aquele comentário, pela primeira vez dando-se conta que, de fato, não havia dado uma lua de mel à Charlie. No começo, tudo sobre a casamento dos dois era uma farsa, então aquilo nem sequer tinha passado pela cabeça dele e, depois, ele tinha ficado ocupado demais mantendo-a ocupada na cama... Mas será que Charlie tinha sentido falta? Será que ela gostaria de viajar para algum lugar bonito com ele, onde poderiam ficar sozinhos, longe do processo de Samantha e das ligações do trabalho dele, fazendo o que quisessem...

E aquele cenário acabou fazendo-o de voltar para o questionamento que vinha martelando sua mente na última semana, desde que Charlie havia lhe sugerido aquilo pela primeira vez.

— Hiroshi... — ele chamou a atenção de seu assistente, hesitante — Você acha que a empresa ficaria bem sem mim?

— Sem você? Como assim? — Hiroshi devolveu sua pergunta com outra, absolutamente pasmo — Do que está falando?

— Estou falando de me aposentar... Hipoteticamente. — Morgan explicou, tentando manter o assunto tranquilo, para que rumores de ele querendo se demitir não causassem o caos entre os funcionários, depois que Hiroshi saísse dali — Acha que haveria mudanças significativas por aqui, se eu encontrasse alguém com o mesmo perfil que eu para ser o sócio majoritário.

— Bem... — seu assistente parou por um momento, aparentemente não apenas para pensar com cuidado no que ele tinha dito, mas também para se recuperar de seu choque — Eu confesso que você me pegou de surpresa, mas... Sinceramente, Sr. Sullivan? Minha mãe trabalhou para o seu pai, por isso, eu posso dizer com propriedade que você fez muito bem para essa empresa, tornando ela algo menos restrito do que era antes. Com todo o respeito, mas todos, mesmo aquele que não o conheceram, sabem que seu pai gostava de controlar cada detalhe do que acontecia por aqui, mesmo que isso significasse que teríamos que recusar as propostas mais ousadas e atrasar entregas...

Assentindo silenciosamente, Morgan abriu um pequeno sorriso melancólico. Ele demorou uma vida inteira para entender que o comportamento controlador de seu pai, especialmente após a morte da esposa, não era apenas uma estratégia de negócio excessivamente rígida, mas também uma forma dele de lidar com sua dor. Ele não tinha conseguido prever e nem evitar a doença da única mulher que já tinha amado, mas era perfeitamente capaz de fazer isso com as empresas e os funcionários que estavam sob seu domínio. E isso tinha se estendido, para seu próprio filho. Parando para olhar para sua juventude agora, era quase assustador como Morgan simplesmente havia se deixado moldar passivamente por Robert, cumprindo com excelência suas expectativas mesmo quando ele não estava mais ali para julgá-lo.

Como Seduzir o Seu MaridoOnde histórias criam vida. Descubra agora