Capítulo 42 - Charlie

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— Você tem realmente um emprego fascinante, Sra. Sullivan. — uma das mulheres que rodeavam Charlie, uma ruiva de feições congeladas que ela nunca conseguiria se lembrar do nome, riu, embora não parecesse nem um pouco genuíno.

Forçando o milésimo sorriso torto que precisava dar naquela noite, Charlie correu os olhos ao redor, procurando desesperadamente por Morgan no meio daquele mar de pessoas elegantes e corporativas que só pareciam saber conversar sobre lucros, status ou, se ela tivesse sorte, suas últimas férias esquiando no sul da França ou qualquer coisa do gênero. Como sua esposa, é claro que ela não poderia recusar o convite de comparecer à comemoração que Morgan tinha decidido realizar no escritório para comemorar o sucesso de mais um de seus investimentos. Contudo, quando ela o tinha ouvido dizer a Hiroshi que organizasse uma festa, ela tinha pensado em salgadinhos, coquetéis e funcionários felizes com a bonificação. Mas não foi isso o que ela tinha conseguido.

Havia comida, claro, mas ela era entregue pelos garçons em bandejas reluzentes, ao invés de ficar em cima de uma mesa onde todos pudessem se servir, e vinha em porções tão pequenas que Charlie poderia passar o resto da noite comendo tudo o que lhe ofereciam e, ainda assim continuaria com fome. A bebida era cara e ninguém parecia conseguir falar sobre ela sem mencionar que datavam de antes de Cristo, mas todas eram ácidas e desciam queimando por sua garganta, sem bem ao menos um pigo de suco de fruta para ajudar, o que tinha feito Charlie desistir de beber há horas atrás. E os funcionários pareciam felizes, é claro, mas... Era uma maneira muito refinada e contida de felicidade, do tipo que deixava o ambiente repleto de sussurros abafados, ao invés de conversas altas e alegres.

Aquilo sem dúvida não era o que Charlie chamava de festa.

Quando Morgan lhe dissera que aquela comemoração aconteceria dois dias antes da audiência para a revisão do testamento de Anthony, Charlie até mesmo tinha ficado feliz, achando que seria uma boa maneira de descarregar a tensão e aproveitar uma noite divertida ao lado de Morgan, conhecendo os sócios dele. Sua, tensão, porém, só tinha aumentado e ela daria tudo para estar em casa, na cama, com seu marido, naquele exato momento, ao invés de estar sendo obrigada a rodar por aquela enorme sala, cumprimentando um milhão de desconhecidos, separada de Morgan pela simples razão de que ele estava sendo obrigada a fazer a mesma coisa, só que com conhecidos.

Mas, talvez, o pior disso tudo tivesse sido descobrir que, como a esposa de Morgan, ela parecia ter o dever de ser a "anfitriã" da festa, ou seja lá o que isso significasse. Por isso, ela tinha passado a noite inteira de pé, cumprimentando incontíveis desconhecidos que não se cansavam de tentar convencê-la, uns de maneira mais discreta e outros nem tanto, a fazer com que Morgan aceitasse uma sociedade com eles. Isso quando não estava sendo rodeada por suas esposas, como naquele momento, cujas risadinhas ensaiadas e sorrisos sem emoção a lembravam de Samantha de uma maneira extremamente incômoda.

Deus, mais do que nunca ela entendia porque Morgan se sentia tão tentado a deixar aquele tipo de lugar para trás.

— E então, Sr. Sullivan? — a mulher ruiva balançou uma taça de champagne elegantemente, encarando-a com expectativa — Poderia sanar uma curiosidade que todas nós temos e nos contar onde foi o seu casamento?

— Foi no campo? O Sr. Sullivan sempre me pareceu extremamente discreto e formal, por isso acho que uma cerimônia intimista combinaria com ele... — uma mulher loira divagou, pensativa — Na Irlanda, talvez? Ou na Holanda, que sabe? Ouvi dizer que os jardins de lá tornam as fotos panorâmicas divinas...

— Ou talvez uma cerimônia intimista em uma ilha particular? — outra moça, apenas alguns anos mais velha do que Charlie e de longos cabelos pretos, tentou adivinhar, animada — Casamentos na praia são simplesmente encantadores...

Como Seduzir o Seu MaridoOnde histórias criam vida. Descubra agora