Charlie teve a nítida impressão de duas coisas: uma era que, julgando por sua cabeça dolorida, que ela havia dormido por muito tempo. E, segundo, era que a culpa de ela ter acordado era um bipe insistente e muito chato que não parava de soar, perto do ouvido dela, mas não parecia ser seu despertador.
Durante vários minutos, ela tentou forçar sua mente extremamente lenta, quase grogue, a tentar formular um pensamento decente. Contudo, conforme as sensações em seu corpo foram voltando a inundá-la, ela se arrependeu amargamente de ter acordado. Seu corpo inteiro parecia ter sido passado em um moedor de carne, mas havia uma dor muito incômoda no meio de suas costas que se destacava. E foi por causa dela que, surpresa, Charlie se deu conta de que estava deitada um pouco de lado, com algo pressionado contra seus quadris para mantê-la no lugar.
Extremamente desconfortável, ela começou a se mexer, tentando trocar de posição, mas acabou estremecendo ao sentir algo repuxar, literalmente, dentro de seu braço, como se houvesse um tubo ali ou coisa assim?
— Charlie? — uma voz que ela conhecia muito bem a chamou, ansiosa — Querida, você acordou? Consegue abrir os olhos?
Querendo falar com Morgan e perguntar a ele o que diabos estava acontecendo, Charlie se esforçou para erguer suas pálpebras pesadas, levando mais tempo do que gostaria para focar sua visão turva em qualquer coisa, inclusive seu próprio marido. Por fim, ela finalmente foi capaz enxerga-lo de verdade, ficando surpresa ao perceber que o cabelo dele estava despenteado, seu rosto transparecia exaustão e havia manchas escuras debaixo de seus olhos, como se ele não dormisse a dias. Aquela visão a confundiu tanto que ela mal se deu conta de que, atrás dele, havia uma parede branca e uma pequena janela que ela não conseguiu reconhecer.
— Oh, Charlie... — ele começou a chorar um momento depois, movendo o rosto para mais perto dela — Você finalmente acordou... Eu estava tão preocupado.
— Onde estamos? — ela finalmente conseguiu falar, tossindo ao sentir sua garganta ressecada e ouvir sua voz quase pedregosa, de tão rouca — Droga, eu preciso de água...
— Aqui, querida... — na velocidade da luz, ele puxou uma garrafa cheia de água com um canudinho na ponta e a colocou diante das lábios — Beba o quanto quiser, mas devagar, está bem? A enfermeira disse tudo o que você ingerir tem que passar primeiro pelo médico, a partir de agora... — ele explicou, enxugando as lágrimas com a outra mão.
— Médico? — ela o questionou, confusa — Estamos em um hospital...?
Porém, antes que ela pudesse terminar aquela pergunta, sua própria mente lhe respondeu, soterrando-a com um monte de lembranças perturbadoras do que havia acontecido no escritório de Morgan: as confissões de Samantha, o medo da morte, uma arma apontada na direção de Morgan... E um tiro que a tinha atingido em cheio.
— Merda... — ela se pegou rindo de nervoso, não apenas por toda a situação terrível, mas também de alívio ao se dar conta de que Morgan, apesar de claramente perturbado, não estava ferido — Acho que esse foi o auge das minhas ações impulsivas, não é?
— Deus... Eu achei que nunca mais poderia ouvir esse risada de novo... — ele soluçou, com a expressão miserável, enquanto corria o dedo gentilmente por sua bochecha, com o mais leve dos toques — Eu senti tanto medo...
— Eu fiquei tão mal assim? — ela gemeu, sabendo, pelas dores agudas em seu corpo, que era muito provável que sim.
— Chamei a ambulância o mais rápido que pude, mas mesmo assim você perdeu muito sangue... — ele contou, desolado, enquanto novas lágrimas escorriam por suas bochechas; Charlie desejou poder erguer a mão e enxuga-las, mas a porcaria do tubo enfiado nela não permitiria — Os médicos levaram você para uma cirurgia de emergência, assim que chegamos no hospital. A bala não tinha atingido nenhum órgão vital, felizmente, mas ainda assim precisava ser retirada e você precisava de uma transfusão de sangue. Os médicos me disseram que a sua condição era crítica, porém que havia esperanças... Mas, ainda assim... — ele engoliu em seco, com os olhos verdes cheios de lágrimas — Eu tive tanto medo de perder você...
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Como Seduzir o Seu Marido
RomanceDesde os 17 anos, Charlie Foster é apaixonada por Morgan Sullivan, o gentil sócio de seu pai que rapidamente se tornou seu melhor amigo. Agora, aos 20, e depois de várias tentativas frustradas de fazer Morgan vê-la como mulher, Charlie se vê impedid...