Capítulo 48 - Charlie

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— Você está bem?

Ao som da voz de seu marido, Charlie desviou o olhar da fonte diante dela, tentando controlar as emoções conflitantes que batalhavam em seu peito. Caminhando para mais perto dele, ela se deixou envolver por seus braços, sentindo-se imediatamente mais calma, enquanto contava.

— Estou sim. É só que... — fitando novamente o chafariz que guardava tantas lembranças, Charlie suspirou — Eu sofri tanto nesse lugar... Mas, agora ele vai ser destruído e vou poder virar essa página da minha vida por completo... É... — ela lutou para colocar em palavras o que estava sentindo, mas não conseguiu — Não sei... Acho que é muita coisa para processar...

— Eu entendo, querida. Não se preocupe. — ele a abraçou pelos ombros, observando a fonte junto com ela — Temos a tarde inteira para fazer a última vistoria e pegar as chaves. Como você disse que não há nada que queira levar daqui, então não há pressa.

— Anthony estaria uma fera, não é? — ela murmurou consigo mesma, embora soubesse que ele também ouviria — Ele adorava esse lugar porque, pelo menos na mente narcisista dele, era uma prova da inteligência e da vitória dele. Provavelmente você presenciou isso na sua frente, mas ele adorava se gabar de como tinha sido esperto na juventude, saindo da pobreza quando se envolveu com a minha mãe e fez questão de engravidar ela o mais rápido possível, apenas para ter acesso ao dinheiro dos Foster... — Charlie teve o instinto de abraçar a si mesma, mas acabou colocando as mãos sobre os braços de Morgan, que ainda a envolviam, o que imediatamente a fez se sentir reconfortada — Nem ao menos me lembro de quando foi a primeira vez que o ouvir dizer isso quando eu era criança, em uma das poucas vezes em que consegui me encontrar com ele, mas me lembro perfeitamente de uma vez em que o meu avô me encontrou chorando no meu quarto. Eu estava me sentindo péssima, sabendo que meu pai era um lixo e sentindo que tinha ajudado ele a enganar minha mãe, além de ter matado ela no parto...

— O quê? — Morgan engasgou, pasmo — Mas é claro que não! Você era apenas um bebê....

— Foi exatamente isso o que ele me disse... — Charlie relembrou, com um suspiro melancólico — Eu devia ter apenas uns 7 ou 8 anos na época, mas eu me lembro que ele me deu uma bronca por pensar naquilo. Pode parecer loucura, mas foi o fato de ele ter ficado bravo comigo por pensar isso que me mostrou o quanto eu estava errada. — ela riu, tristonha — Vovô odiava injustiças e saber que ele achava errado eu me comparar com Aro me fez perceber que de fato não compartilhava nada com ele, além do sangue. Antes de morrer, no hospital, uma das coisas que vovô me disse foi que a maior alegria da vida dele era saber que eu era inteligente o suficiente para saber que meu pai não merecia meu amor ou minha confiança, por isso eu jamais desperdiçaria meu coração com ele e nem correria o risco de ser enganada... Talvez Anthony também soubesse que nunca conseguiria nada de mim e por isso fazia questão de deixar claro que me odiava... — Charlie refletiu, com um murmúrio.

— Ele odiava você porque era um idiota ganancioso e manipulador que não era capaz de amar ninguém além de si mesmo. — Morgan refletiu, abraçando com mais força — Foi por isso que ele se aproximou de alguém como Samantha, querendo fazer dela uma esposa troféu. E foi exatamente isso que acabou tirando a vida dele.

— Sou muito malvada em ter esperanças de que ele esteja me vendo vender a mansão dele para uma demolidora e doar todo o dinheiro que ele acumulou durante a vida para a caridade? — ela sorriu enquanto erguia o olhar para o marido, desfrutando muito daquela imagem mental.

— Nem um pouco. — Morgan lhe devolveu um sorriso tão satisfeito quanto o dela — Inclusive, espero que o demônio tenha providenciado um camarote para ele no inferno, para que Anthony possa ver tudo em primeira mão.

— É por isso que eu amo você... — ela gargalhou baixinho, voltando sua atenção para o chafariz antiquado novamente — Mas confesso que fico triste em saber que esse carinha vai virar pó também. Quer dizer, não é como eu quisesse tirar ele daqui e coloca-lo no meio do nosso apartamento. — ela deu de ombros, fazendo-o rir — Mas, bem, foi onde nos conhecemos. Por mais infernais que tenham sido os três anos que passei aqui, não consigo não ter nada além de pensamentos bons quando estou nesse lugar.

Como Seduzir o Seu MaridoOnde histórias criam vida. Descubra agora