Extra 01 - Morgan

369 28 0
                                    

Morgan não sabia porque estava ali. Ou, melhor dizendo, a verdade era que ele não deveria estar ali. E isso em todos os sentidos.

Havia muito trabalho para ser feito e muita papelada para ser assinada em seu escritório, como em todos os outros dias do ano... Mas, ainda assim, talvez pela primeira na vida, ele tinha encontrado dificuldade para se concentrar. Isso porque a imagem de Charlotte Manson pulando em um chafariz em frente a ele no dia anterior não saia de sua cabeça. Seu lado mais racional tentava argumentar que era apenas porque ela era uma pobre garota jovem e com pais claramente terríveis que não tinha como defender a si mesma e precisava de ajuda. Por isso, assim que terminasse de trabalhar, ele poderia visita-la da maneira mais adequada possível, como qualquer pessoa normal faria. Mas, não.

Ao invés disso, ele tinha saído mais cedo do escritório pela primeira em anos — talvez, de novo, pela primeira vez em sua vida —, só para poder ver Charlie novamente e acabar com aquele sentimento incômodo que estava maltratando seu peito a manhã inteira. O que era completamente inapropriado, é claro, já que ele não tinha assunto nenhum para tratar com Anthony e nenhum pai ficaria feliz de ver a filha recebendo a visita de um homem maior de idade, por pior que esse pai fosse. Contudo, ainda assim, ali estava ele, estacionando na frente da mansão dos Manson mais uma vez.

Dessa vez, porém, imaginando que conseguiria evitar Samantha se não entrasse pela porta principal, ele deu a volta na propriedade, imaginando que deveria haver outra entrada de carros ali perto. E, de fato, havia. Porém, foi ao longo daquele caminho que Morgan percebeu o quanto a mansão dos Manson estava, de fato, decadente. Havia amostras disso na festa do dia anterior, é claro, mas agora ele percebia que o casal Manson obviamente havia feito uma dívida a mais para poder aparar a grama do jardim e fazer uma limpeza na área onde os convidados ficariam. Ali, na parte dos fundos, onde ninguém poderia ver, a grama estava alta como um campo de trigo e as paredes brancas da mansão estavam manchadas de chuva, criando um visual quase abandonado.

É claro, Morgan havia estudado a situação financeira de Anthony durante semanas, antes de decidir se tornar sócio dele, e sabia perfeitamente que ele estava afundado em dívidas. Contudo, ele sempre tinha imaginado que aquele dinheiro estava sendo revertido em coisa como a manutenção da mansão, o pagamento dos empregados e coisas semelhantes. Mas, aparentemente, os Manson se importavam mais em manter com boa aparência apenas o que os outros podiam ver e ignorar o que ninguém jamais veria, por mais decadente que estivesse.

E algo lhe dizia que era exatamente assim que eles agiam com Charlie.

Com um suspiro, ele estacionou o carro, não ficando muito surpreso ao ter que esperar bastante até o senhor de aparência rabugenta sentado ali perto, que claramente era um funcionário da mansão, decidisse abrir o portão para ele, embora o tenha feito rapidamente e com clara insatisfação. Porém, sabendo que ele provavelmente estava sendo mal pago, ou talvez nem sequer pago, Morgan não podia culpa-lo por sua falta de cortesia.

Entrando na mansão sozinho e sem ninguém para anunciar aos moradores que ele estava ali — algo atípico para um lugar teoricamente luxuoso como aquele —, Morgan passou algum tempo apenas dando voltas, procurando por um caminho que o levasse até uma das partes da mansão que tinha conhecido ontem. Finalmente, ele se viu em um corredor que reconheceu como sendo o do escritório de Anthony, esperançoso de que, a partir dali, pudesse encontrar o quarto de Charlotte novamente. É claro, era pouco adequada querer ficar sozinho em um quarto com ela novamente, mas, sendo sincero consigo mesmo, ele preferia imitar Charlie e pular do primeiro andar, do que ter que perder tempo conversando com Anthony ou Samantha.

Ele ainda estava tentando reconhecer o caminho que poderia leva-lo ao quarto de Charlotte, quando passou pela porta do escritório de Aro, que claramente estava fechada. Porém, seu alívio só durou por um segundo, até que o som de vozes altas se ouvir muito claramente, parando-o em seu caminho imediatamente.

Como Seduzir o Seu MaridoOnde histórias criam vida. Descubra agora