Capítulo 36 - Charlie

417 35 2
                                    

Planejar e imprimir tudo o que precisava para o abaixo-assinado consumiu a noite inteira de Charlie. Ao que, sendo sincera, ela estava até mesmo agradecida. Não era como se ela fosse conseguir dormir muito, estando agitada e angustiada daquele jeito, de qualquer maneira.

Felizmente, Morgan parecia estar tão ocupado quanto ela e, também graças aos seus esforços para evita-lo, Charlie tinha conseguido fugir dele mesmo quando o marido voltou para casa e, mesmo ela tendo pedido que não o fizesse, deixou um prato de comida fresca e quente do lado de fora de seu quarto. E, por mais que aqueles cuidados ainda fizessem o coração dela derreter, agora uma parte dela se sentia nauseada. Não por Morgan estar sempre pronto para ajudá-la, mas sim porque ela sempre precisava de algo. Quando, em todo o tempo que os dois se conheciam, ela o havia ajudado em alguma coisa ou dado algo a ele? Ela nunca tinha pago sua faculdade, oferecido um teto a ele ou armado um casamento de fachada apenas para que ele não perdesse uma herança. Em compensação, Morgan...

Era por isso que ela faria de tudo para aquele abaixo-assinado funcionar! Para que, pela primeira vez, ela pudesse resolver seus próprios problemas sem criar novas e sem incomodar ninguém, especialmente Morgan. Afinal, ela acreditava em si mesma. Charlotte Foster era perfeitamente capaz de resolver tudo aquilo sozinha, sem dúvidas! Quer dizer, talvez... Com sorte...

Contendo um gemido de insegurança, Charlie empurrou a pasta onde havia guardado os papéis dentro de sua mochila e verificou os potes de ração e bebedouros de Sawyer e Matilda, que tinham decidido tirar um cochilo na parte ensolarada da varanda, antes de sair. Felizmente para ela naquele dia, Morgan havia saído mais cedo que o normal, depois de receber uma ligação de Hiroshi que pareceu alarmá-lo, por isso ela não teria que explicar que estava prestes a faltar a aula naquela manhã para poder andar em círculos pelo bairro onde ficava o abrigo, para recolher assinaturas. Ela precisava de no mínimo 100 para fazer alguma diferença, embora nem sequer soubesse se havia aquela quantidade de casas em um bairro tão humilde quanto aquele.

Ao colocar a mão na maçaneta da porta, ela se viu parando por um instante ao se lembrar do que Morgan havia dito naquele dia, antes de ir para o trabalho resolver a emergência. Como ela tinha usado o banho como desculpa para não tomar café da manhã com ele, Morgan tinha batido na porta para avisar que estava deixando panquecas e suco de laranja para ela na mesa de jantar.

— Eu acabei de saber sobre algo que posso ignorar. — ele tinha lhe dito através da porta fechada e ela quase podia ver o sorriso triste em sua voz — Mas, Charlie... Independente de como as coisas acontecerem... Eu quero que você saiba que vai ficar tudo bem. — aquela voz macia e gentil a tinha deixado com vontade de chorar — Apenas me prometa de que vai se lembrar que, tudo o que eu faço, eu faço pensando em você.

Assim, antes mesmo que ela pudesse pensar em algo para responder, ele havia ido embora, deixando sozinha no apartamento com sua angústia e sua vontade de começar o abaixo-assinado o mais rápido possível. E era o que ela estava pronta para fazer, quando trancou a porta atrás de si e partiu para o abrigo, sentindo como se o dia cinzento e chuvoso do lado de fora estivesse refletindo seu humor sombrio. Tanto que, ao finalmente entrar no lugar que significava o mundo para ela, Charlie mal parou para falar com Jack, indo direto para o escritório de Vivian, que estava sentada em sua mesa, encarando a tela de seu celular, pensativa.

— Vivian! — Charlie a chamou, arrancando a pasta de dentro da mochila e a jogando sobre a mesa, para que a amiga pudesse vê-la — Eu tive uma ideia que pode nos ajudar!

— Isso é ótimo, Charlie... — Vivian sorriu, e uma parte de Charlie ficou feliz ao vê-la parecendo tão tranquila novamente — Mas, você não deveria estar na faculdade?

— Isso não importa! Olhe, me deixe falar primeiro, por favor... — ela implorou, ao mesmo tempo que Jack entrava no escritório, provavelmente para saber porque Charlie parecia tão apressada — Eu sei que os advogados disseram que era uma ideia inútil, mas é a nossa melhor opção agora. — tirando o maço de papéis onde seria feito o abaixo assinado, ela os mostrou a eles ansiosamente — Eu passei a noite inteira pesquisando sobre como fazer um abaixo-assinado que fosse levado a sério e conseguir chegar nisso aqui. Dizem que respostas costumam ser melhores quando isso é feito com assinaturas de verdade, ao invés de algo online, porque demonstra o comprometimento das pessoas em ajudar aquela causa e que ela é importante para a comunidade ao redor...

Como Seduzir o Seu MaridoOnde histórias criam vida. Descubra agora