Capítulo 3

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"Ah!" A exclamação de dor de Elain ao ser acertada na mão pelo chicote disciplinar soou por todo recinto.

Ela havia errado a nota do piano outra vez, sua pequena e delicada mão estava vermelha e dolorida, e dado fato de sua pele ser tão sensível, Elain sabia que teria que usar luvas por alguns dias para esconder a marca roxa.

"Perdão madame Clod" pediu humildade, sua voz doce e gentil soando pela sala, sua fronte abaixada em respeito - mesmo que indesejado - pela tutora.

"Concentração, Srta. Archeron! Se continuar tocando de forma tão lastimável nunca alcançará o que é necessário para ser uma boa Lady, e futura esposa!" Ralhou.

E quem disse que quero alcançar os parâmetros de uma esposa perfeita? ; Pensou Elain.

"Me esforçarei mais" respondeu acoada. Embora quisesse gritar sobre a baboseira que era ser uma boa esposa nas concepções daquela sociedade machista, Elain não tinha escolha a não ser acatar as palavras da tutora.

"Deveria seguir o exemplo de sua irmã mais. Na sua idade a Srta. Nestha já tocava essas partituras com perfeita!" Disse.

Qualquer um pode tocar essas partituras com perfeição depois de treinar até não sentir os próprios dedos; pensou novamente.

Elain lembrava bem como teve que cuidar dos dedos da irmã mais velha depois de ela ter passado horas a fio treinando o piano a mando da mãe delas.

"Eu irei madame Clod" respondeu com sujeição a severa tutora.

"Comece de novo" ordenou. Elain obedeceu prontamente.

Como Elain suspeitava, sua mãe não demorou para colocá-la em aulas, assim como havia feito com Nestha. Aulas de etiqueta e boas maneiras, literatura, música, canto, dança, artes, idiomas, bordagem, caligrafia e gramática, e design. Seu pai também exigiu aulas de matemática, história, geografia, astrologia, xadrez e equitação, e embora sua mãe não tivesse gostado muito da ideia, ela também não contrariou. Elain por sua vez estudava por conta própria, política e econômica - pelo menos o básico do assunto -, e se esforçava especialmente em herbologia e jardinagem. Ela havia descoberto, que assim como a Elain original, ela adorava plantas, especialmente as medicinais, mas também estudava sobre as agrícolas, flores e plantas em geral, por ter uma queda pelas medicinais acabava consequentemente estudando as venenosas. Era um assunto bastante interessante. Pelo menos para ela.

Quando a aula findou, Elain se retirou o mais rápido que pode - sem quebrar o decoro, é claro - da sala de aula. A presença de sua tutora era opressora, só de ficar perto dela Elain tinha a sensação de mal-estar.

Deveria ser por voltar do meio dia agora, o que significava que ela deveria se dirigir para a enorme sala de jantar, com mais lugares que a família de cinco membros poderia ocupar. Seu pai, John Archeron, havia voltado no dia anterior de uma de suas viagens de negócios como mercador. Ele deveria acompanhá-las no almoço, e elas não podiam chegar antes do Lorde da casa.

O almoço já estava posto quando ela chegou. A cadeira do Senhor da casa - na ponta da mesa - estava vazia, sua mãe estava na cadeira direita a ponta, e Nestha na esquerda, a pequena Feyre de três anos estava a um lugar vago de Nestha. Ela parecia inquieta, assim como toda criança da idade dela quando parada muito tempo em um mesmo lugar, sua parecia tão insatisfeita com a postura de Feyre quanto indiferente a presença dela.

Elain sorriu para a irmã mais nova a se aproximar. Com a indiferença da mãe em relação a ela, Feyre havia se agarrado ao parente mais próximo que estivesse disposto a dar amor à ela, Elain não se importava de ter a irmã a seguindo para todo lado, para ser bem sincera. Feyre pulou de seu acento correndo em direção a ela assim que a viu.

"Ella!" Exclamou abraçando sua cintura. Embora fosse dois anos mais velha que a pequena Feyre de apenas 3, Feyre já estava quase da altura dela. Parecia que o mal da baixa estatura a perseguia mesmo nessa vida.

"Não corra Feyre!" ralhou sua mãe, Nestha ao lado dela compartilhava da mesma expressão de desgosto. Feyre se encolheu contra ela.

"Feyre ainda é jovem mãe, por favor perdoe-a" pediu em nome da irmã mais nova. Um sorriso doce e gentil enfeitava seus lábios.

"Me perguntou até quando irá enterceder em nome dela Elain" disse sua mãe, seu tom era repreendedo. "Na idade dela, ela já deveria saber se portar" acusou. Elain sorriu nervosamente.

"É como eu disse mãe, Feyre ainda é jovem, ela vai aprender" disse seu tom sendo o mais seguro que ela conseguia. Sua mãe apenas franziu o senhor em desgosto, sua atenção finalmente saindo delas. Feyre relaxou contra si.

"Oi Fey" saudou com um sorriso gentil e amável. Feyra sorriu brilhantemente para ela.

"Senti sua falta Ella" disse. Elain fez uma fingida cara de surpresa.

"Mas só estivemos separadas por algumas horas!" Exclamou com falsa surpresa.

"Mesmo assim" resmungou. Elain sorriu antes de assumir um firme.

"O que eu disse sobre correr?" Perguntou com falsa repreensão. Feyre a olhou como se tivesse sido pega em um ato descabido.

"Que eu não deveria correr pois posso cair e me machucar" disse quixosamente. Ela sabia que estava errada, mas não havia conseguido conter sua emoção ao ver a irmã mais velha. Elain vendo que sua irmã havia entendo o erro, sorriu para ela.

"Não corra mais, por favor, sim?" Pediu.

"Ok" respondeu, seu tom alegre voltando.

O patriarca da família Archeron escolheu aquele momento para chegar a sala de jantar. Elain guiou Feyre para seu acento. As mulheres saudaram o Lorde assim que ele se sentou.

Elain sorriu com a imagem da pequena Feyre tentando imitar seus modos de um jeito desajeitado.

Fofa; pensou.

Os almoços em família eram a parte mais desconfortável do dia na opinião de Elain, não por que a comida era desagradável, longe disse, mas a presença de Mara Archeron era tudo menos confortável.

Elain temia tanto quanto detestava a mãe. Ela não conseguia entender, como o ser que mais deveria cuidar delas e amá-las era tão cruel com elas. A rigidez exacerbada com Nestha, a fazendo a cada dia se tornar mais distante e mais parecida com a mãe. A indiferença com feyre, que fazia com que ela se agarrar-se  ao mais próximo que estivesse disposto a dar a ela o mínimo de amor.

E superestimação com ela mesma, sendo cobrando que ela alcança-se o padrão estúpido que a auta-sociedade impunha para uma esposa perfeita. A treinando e a moldando a força para que fosse nada além de  dócil, recatada e submissa. Delicada, dependente e  indefesa. Uma esposa troféu, bonita e educado, e apenas isso.

Sempre utilizando do discurso de que ela era a salvação da família. Mas salvar de que? Os Archeron eram uma das famílias mais ricas daquela parte do continente, ela usufruia de tudo que o dinheiro deles era capaz de comprar, do luxo. Isso não era o suficiente? Ela não se daria satisfeita até que estivesse ligada a um título nobre?

Elain sabia que a mãe era ambiciosa e que tinha o sonho de se casar com um nobre quando era jovem, mas não conseguiu. Mas isso era motivo para tratar as filha daquela forma?

Ela exigia tanto de Nestha que havia dias que sua irmã mais velha mal conseguia andar pela casa de exaustão. Usava métodos tão terríveis para moldá-la na futura esposa perfeita, Elain se perguntava se um dia seria capaz de superar os traumas. E Feyre, sua mãe a odiava por a causa de não poder mais engravidar, e assim não gerar o tão estimado herdeiro homem que ela queria.

Elain tinha muitas dúvidas sobre a vida, mas ela tinha uma certeza, uma única certeza.

Ela odiava Mara Archeron com todas as forças.

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