Sob as Regras do Clã

Capítulo 3

  Quando os primeiros raios de sol saíram no horizonte, eles acertaram em cheio a minha retina. Maldita ala leste! O Sol saiu timidamente, mas o meu sono fugiu a galope.

  Me revirei na cama várias vezes, na intenção de voltar a dormir. Nem mesmo as peles macias sobre o colchão mais confortável do Castelo foi capaz de trazer meu sono de volta. A noite passada tinha sido estranha.

  Como percebi que não conseguiria dormir novamente, levantei-me e fui ao banheiro.

  Lavei meu rosto, escovei os dentes, penteei os cabelos. Fiquei um instante me olhando no espelho e questionando minhas escolhas de vida. Na verdade, não apenas escolhas, como também obrigações.

  No quarto ao lado, estava minha esposa. Cujo corpo ainda eu não havia reclamado. Apesar de ter sido traumático, eu precisava falar com ela sobre isso. Tínhamos uma obrigação sobre nossos ombros.

  Mas no meu interior, queria que continuasse assim. Talvez um segredo nosso. Já que ela parecia odiar o fato de se deitar comigo, poderíamos evitar isso. Eu realmente não queria me deitar com outra mulher.

  Bati na porta umas três vezes, e ela prontamente abriu. 

  – Bom dia , Eleanor. Lamento acordar você, ainda é cedo e, para ser sincero, duvidei que me atenderia.

  – a porta estava aberta, senhor.-- ela falou, assumindo uma postura defensiva, abraçando a si mesma.

  – me chame de Aiden. Senhor é para os criados. Você é minha esposa.

  – me desculpe, senh… Aiden.-- ela se corrigiu a tempo.

  – sobre ontem…

  – e-eu estou pronta agora, e-eu juro. Se quiser.. – ela me interrompeu gaguejando, aflita.

  – não me interrompa, por favor. 

  Ela concordou com a cabeça, engolindo em seco e eu podia ver as lágrimas surgindo em seus olhos.

  – Sobre ontem, – continuei – eu não sei o que pensou que eu fosse, mas jamais te forçaria a alguma coisa. Percebi que a ideia de consumar o casamento é terrível para você, afinal perdeu o marido a pouco tempo. Para mim, também é incômodo, pois antes desse acordo de paz, eu tinha alguém. Então, tenho uma proposta para você.

  Seu semblante mudou assim que eu terminei de falar, Eleanor me olhava atentamente.

  – Por enquanto, poderíamos manter um casamento de fachada. Ninguém saberia que não dividimos o leito conjugal. Afinal, é bem comum casais dormirem em quartos separados. Porém, devo lhe pedir segredo sobre o que estamos conversando.

  – eu aceito.

  – você continua dormindo aqui e eu no outro quarto. Quando estivermos em público, fingimos que somos um casal normal.

  Ela sorriu, concordando. Ela tinha um lindo sorriso.

  – ótimo. Bom, é só isso.

  Sai do quarto, como se tirasse um peso de meus ombros.

  Ela não estava pronta para se deitar comigo e eu também não estava pronto para esquecer Ophelia.

  Um dia, estaria. Aquele acordo não seria vitalício. Uma hora, Eleanor superaria o luto de seu marido e eu conseguiria fechar meus olhos sem pensar em Ophelia.

  Desci para o pátio. Tinha muita coisa para resolver. A festa durou bastante na noite passada, pois ainda havia canecas cheias de vinho por todo lado, alguns bêbados no chão e nenhuma viva alma trabalhando.