Capítulo 30

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  Eu continuei cumprindo os deveres no clã no lugar de Eleanor. Ela dedicava todo seu tempo à pequena Aderyn, que logo começou a crescer.
  Tinha lindos olhos claros e grandes como os de Eleanor, mas uma vasta cabeleira ruiva que chamava a atenção de todos.
  No início do verão, organizamos a segunda edição dos Jogos do clã Grant. No ano anterior, tinha sido um sucesso e o povo aguardava ansiosamente por mais uma festa.
  Enviamos convites aos nossos aliados e anunciamos a todos, queríamos atrair o máximo possível de visitantes. Visto que era essencial para o comércio dali.
  Logo recebemos os competidores das diversas modalidades, era uma grande honra para todos.
  Na tarde de abertura, estava sol e a temperatura bem agradável. A chuva tinha dado uma trégua, então era um clima ideal para as festividades.
  Eleanor chegou na nossa tenda, acompanhada de duas criadas, com Aderyn nos braços.
  – oh, meu Deus! – exclamei, admirando as duas – eu deveria ordenar que tal beleza ficasse escondida na minha sala de tesouro particular.
  – Aiden, querido, assim você me faz corar – ela respondeu, ligeiramente envergonhada. – como estão as coisas por aqui?
  – tudo nos conformes. Foi meio difícil sem nossa adorada senhora, mas estamos dando conta.
  Ela deu um risinho e beijou minha bochecha. Peguei Aderyn nos braços, estava gordinha e rechonchuda, as bochechas eram redondas e rosadas.
  – e você, princesa, veio participar da festa com o papai?-- perguntei, sentindo seu cheirinho.
  Por incrível que pareça, Aderyn cheirava a erva doce, como a mãe. Depois de tanto tempo, eu ainda não tinha resolvido o mistério de por que o cheiro de erva doce. Será o sabonete? Algum perfume especial? Ela tomava banho no chá? Só Deus para saber.
  Sentamo-nos lado a lado, enquanto a aglomeração de pessoas só aumentava em volta da grande fogueira.
  Eleanor presidiu a abertura, com um discurso rápido. Logo tivemos as primeiras modalidades e o povo aprovou tudo. Tinha até esquecido como era gostoso participar de um grande evento.
  A pobre Aderyn não aguentou por muito tempo. Era apenas um bebê ainda e não era saudável ficar até altas horas sem dormir, no barulho.
  – Dawn, por favor leve Aderyn para casa – Eleanor pediu, entregando-lhe a criança. – eu preciso ficar um pouco mais, mas ela está cansadinha. Eu já a amamentei, preciso que coloque-a para dormir em casa, no silêncio.
  – sim, senhora – a jovem respondeu prontamente.
  – vou chamar Jones, ele a escoltará na carruagem até o Castelo. Acredito que não demoraremos muito por aqui.-- eu completei.
  Fiz um gesto para que Jones viesse até nós.
  – sim, senhor?-- ele cumprimentou, educado.
  – preciso que escolte Dawn e a pequena Aderyn até o Castelo.
  – com a minha vida, senhor.
  Eles saíram pelos fundos da tenda.
  Segurei a mão de Eleanor, puxando-a para perto.
  – sinto meu peito partir – ela comentou, pesarosa.
  – não se preocupe, querida. Dawn é a melhor ama que temos.
  – eu sei, mas Aderyn é tão pequenininha.
  – vamos ficar mais uma hora e já vamos para casa também.
  Ela concordou e nós ficamos ali.
  Cerca de uma hora depois, as competições terminaram e podemos sair dali.
  Ao chegar no Castelo, nos surpreendemos com a ausência de Jones e Dawn, e consequentemente, de Aderyn.
  – eu quero saber onde Jones está!-- gritei com os cavalariços e guardas dali.-- eles saíram do recinto há uma hora e ainda não chegaram aqui?
  – senhor, senhor. Lamento – me informou Philips, chateado – Jones não apareceu aqui em nenhum momento desta noite.
  Olhei para Eleanor e nos seus olhos tinha a maior expressão de desespero que eu havia visto na vida.
  Minha pequena filha, acompanhada da ama e de um guarda, estava desaparecida.
  Ordenei as buscas, enquanto as criadas tentavam acalmar Eleanor. Mas não estavam obtendo êxito, pois do pátio do Castelo eu podia ouvir seu choro.
  – eu quero que vasculhem todo o recinto e os arredores!-- ordenei, gritando.
  Os guardas se agitavam, correndo de um lado para o outro. Os cavaleiros sairam em disparada e eu podia. Era os guardas abrindo casa por casa nos arredores.
  Retornei para nossos aposentos. Eu precisava ser o apoio de Eleanor.
  – meu bem, eu estou aqui – eu falei, entrando no quarto.
  Eleanor estava na janela, chorando, acompanhada de seus criadas de confiança. Ela se virou para mim, desesperada e em prantos.
  – onde está minha filha, Aiden?
  – eu mandei os homens vasculhar a área, meu bem. Logo vão trazê-la para casa.
  – eu sabia que não deveria ter me separado dela! Ela devia ter ficado ao meu lado!-- ela exclamou, chorando, sentindo toda a culpa do mundo sobre seus ombros.
  – não adianta ficar pensando nisso agora, querida. Isso foi um atentado a nós. Aproveitaram a agitação da festa para nos atacar.
  – mas quem poderia ter feito uma coisa como essa?-- ela perguntou, respirando fundo e limpando as lágrimas do rosto.
  – eu não sei. Estamos em paz com todo mundo. Não temos nenhum inimigo declarado.
  – oh, céus… tudo menos a minha menininha!-- ela voltou a chorar, encostando no meu peito.
  Minha vontade era sair chutando tudo pela frente, gritando de desespero. Porém, eu precisava ser o porto seguro de Eleanor.
  Fiquei com ela até que o chá para acalmar fez efeito, e Eleanor finalmente adormeceu.

  Desci a procura dos meus homens, precisava de informações sobre as buscas por Jones, Dawn e minha filha Aderyn, que seguiam desaparecidos.
  Encontrei General Gordon com seus homens, e por seu comportamento eu pude perceber que ele estava furioso.
  – o que está acontecendo aqui?-- perguntei, exaltado.
  – oh, senhor Mackenzie. – ele cumprimentou com uma breve reverência – estou recebendo os relatórios dos homens. Vasculharam e interrogaram as pessoas no recinto, temos informações de alguém que viu a carruagem saindo ao leste.
  – Jones sempre foi de confiança. Ele não estaria envolvido?-- questionei, em momentos como aquele, qualquer pessoa era suspeita.
  – de maneira alguma, senhor. A integridade de Jones é certa. Ainda mais sobre a pequena Aderyn. Dawn e Jones dariam suas vidas por ela.-- se explicou Gordon – Suspeitamos de uma abordagem violenta e um sequestro.
  Aquele era o pior dos pesadelos.
  – temos alguma informação sobre alguém que nos quer mal?
  – ainda estamos apurando, senhor. Afinal o território do clã é vasto.
  Meu coração batia descompassado e o desespero fazia minha mente falhar. Era como se eu estivesse em um pesadelo e não conseguisse acordar.

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