Capítulo 20

204 24 1
                                    

O cadáver de Sawyer foi jogado na ribanceira abaixo. Ele não merecia um enterro e seu corpo não servia nem para adubo.
A leveza no olhar de Eleanor foi restaurada. Não havia medo, não havia desespero e nem pavor.
Ela tinha sido vingada.
Meu pai não perguntou nada, ninguém tocou no assunto depois. Foi como se nada tivesse acontecido.
Na noite seguinte, nos reunimos para um grande banquete no salão principal. Havia músicos, danças, muita alegria no lugar.
Me surpreendi quando ela me chamou para dançar. Toda a animação contagiante parecia palpável. A música, os cheiros, as danças, as pessoas ao nosso redor.
Eleanor dançou comigo várias vezes. Entre uma música e outra, me perdia em seus beijos e desejava seu corpo com toda força do meu ser.
- vamos nos sentar para comer - ela convidou, respirando ofegante pela dança animada - estou faminta
- vamos sim. Vou pedir que tragam nossos pratos.-- respondi, conduzindo ela para nossos lugares.
Sentei-me ao lado de meu pai, que bebia em sua taça.
- vejo que estão apreciando o banquete - ele comentou, sorridente.
- no Clã Grant não tem festas como aqui.-- comentei, enchendo minha taça também.
- em nenhum lugar no mundo, eu acredito.
- tem razão, meu pai.
Enquanto a criada colocava nossos pratos na mesa, ficamos em silêncio. Eleanor segurava minha mão sob a mesa.
- bom, agora que já resolveu suas pendências...- começou meu pai, seriamente.-- já pensou no que vai fazer a seguir?
- como assim, meu pai?-- questionei, confuso.
- Eleanor vai retornar para seu clã?-- ele foi direto, e atraiu a atenção dela.
Eu não soube o que dizer e Eleanor também não.
- Ora, meu filho. Não podemos fingir que não teríamos essa conversa.
- não é o momento, meu pai.
- e quando será? Estão casados a meses, ela foi embora para seu clã. Não vai me dizer que não tem que conversar sobre isso? Como vai ser? Ela vem pra cá a cada estação,passa duas semanas aqui e volta para sua casa?
As palavras de meu pai me atingiram como se fossem um tapa na cara. E o pior de tudo: ele tinha razão.
- estamos nos divertindo no banquete. Não é a hora de falar sobre isso.-- rebati.
- você decide. Mas você não deve esquecer como funcionam as regras.
Eu não respondi, apenas dei um gole em minha bebida.
Mesmo sem olhar para o lado, eu sabia que Eleanor estava preocupada.

Após o banquete, retornamos para nossa ala. O silêncio dominava, pois não havia como fingir que meu pai não tinha dito nada.
Ela entrou no quarto e começou a retirar suas roupas, em silêncio. Depois se dirigiu a cama, ajeitando os cobertores para se deitar.
- pensei que iríamos conversar - comentei, me aproximando.
- Aiden, por favor...- ela respondeu, continuando o que estava fazendo.
- não podemos fingir que nada está acontecendo.
- eu sei. Mas eu prefiro aproveitar o tempo que temos junto de outra forma.-- ela se sentou, puxando os cobertores até a cintura.
- você pretende retornar para o Castelo Grant?-- perguntei, temendo pela resposta.
Ela ficou em silêncio e eu entendi o que ela queria dizer.
- você vai retornar, não é mesmo?-- eu falei, esperando que ela não percebesse minha agonia.
- Eu preciso cuidar do meu povo, Aiden. Eu sou a senhora daquele lugar.-- ela disse, tentando parecer firme, mas sua voz tremulava.
- pensei que tínhamos nos acertado.
- e eu não disse o contrário. Estamos bem.-- ela insistiu, se levantando em minha direção.
- não, não estamos. Como faremos certo, se você estiver a milhas de distância de mim?
Ela piscou, pensativa.
- o que sugere então? Que eu abandone meu povo e fique aqui?
Eu não ousei responder.
- você me apoiou quando eu precisei assumir a liderança. Pensei que estivesse do meu lado!-- ela exclamou, decepcionada.
- eu fiz o que era certo. Eu não deveria assumir um clã que não era meu.
- e agora? Eu devo renunciar?
Eu pensei um pouco.
- não, claro que não...- me rendi, segurando seus ombros - aquele é seu lugar e eu não posso pedir que faça isso...
- Aiden, meu amor... me ajuda a tomar uma decisão, por favor.
- eu não sei... esse pensamento tem tirado meu sono há tempos. Para ficarmos juntos, temos três opções: você renuncia, eu renuncio ou unimos os clãs.
Ela balançou a cabeça, pensativa.
- eu ainda não tenho poder suficiente para isso. Há um ano atrás, nossos povos estavam em guerra. Convencê-los de se unir a vocês, seria praticamente impossível. Eles me matariam, antes de deixar isso acontecer.
- eu sei, mas não temos outra alternativa.
Eleanor enlaçou os braços no meu pescoço, olhando em meus olhos.
- podemos deixar esse assunto para outro momento?-- ela sussurrou.
Naquele momento, sentindo seu cheiro, vendo sua boca entreaberta implorando por um beijo, ela poderia me pedir metade do meu clã, que eu lhe daria sem pensar duas vezes.
Eu a beijei. Intensamente.
Tentei não pensar que logo ela retornaria para sua casa, e eu ficaria só com as lembranças.
Ela me empurrou para a cama e montou sobre mim. Precisei de muito autocontrole, pois a visão de seu corpo sobre o meu, sedento de prazer, exalando desejo, arrancando de mim tudo que podia, me era extremamente tentadora.
Eu não podia evitar de apalpar todo seu corpo, nem ao menos de beijar seus seios e seu pescoço.
Minha função era estar ali para fornecer a ela todo o prazer que ela precisava.
E posso dizer que cumpri, quando ela gozou sobre mim, puxando meus cabelos e gemendo meu nome.
Aquela era a melhor sensação que eu poderia sentir.

  Na manhã seguinte, quando finalmente conseguimos sair da cama, Eleanor recebeu uma mensagem de seu clã.
  Ainda sentada à mesa, frente a frente comigo, ela começou a ler em voz alta:
  -"Cara Senhora Grant, espero que sua estadia no Clã Mackenzie esteja sendo agradável. Envio essa mensagem para lhe informar que precisamos que retorne o mais breve possível. Alguns desertores se reuniram e desejam tomar o Castelo. Sua presença é necessária para decidir como proceder. Não podemos correr o risco de entregar o poder de nosso Clã, mas mãos de desertores. Aguardo sua presença, General Gordon."
- oh...- eu disse, quando ela terminou, porque não tinha palavra alguma para dizer além disso.
- Oh, Aiden. Preciso retornar! Esses desertores aproveitaram a minha ausência para criar uma revolta!-- ela exclamou, preocupada.
- Faça o que tiver que fazer, minha querida.
Ela empurrou a xícara de chá, se levantou e veio até mim. Eu a enlacei pela cintura, olhando-a de baixo.
- Gostaria que fosse comigo.-- ela disse, acariciando meus cabelos com os dedos delicados.
- eu não posso. Tenho trabalho por aqui.
- eu sei, mas... não quero deixá-lo.
Encostei minha cabeça em seu abdômen. Temia que esse dia chegasse. E ele chegou mais rápido do que eu pensei.
- você tem uma missão com seu povo, Eleanor.
- eu sei... mas queria ficar contigo...- ela resmungou, beijando minha cabeça carinhosamente.
- vá cuidar de seu povo. Coloque ordem naquele lugar. Se precisar de apoio militar, meus homens estão à disposição. Mas isso é uma coisa que só você pode fazer e mais ninguém.-- eu afirmei, olhando para cima, procurando seus olhos.
- Oh, Aiden...eu te amo.
- eu também te amo, Lea. Agora vá arrumar suas coisas. Precisa retornar o mais breve possível.
Ela saiu imediatamente.
Aquela tinha sido a coisa mais dolorosa que eu tinha feito. Eu estava deixando ela partir. E não podia fazer nada para impedir, pois não havia escolha.

Eleanor se vestiu e preparou suas malas. Sua caravana logo se aprontou, todas as carruagens e os cavaleiros, todos ansiosos por retornar. Exceto ela.
Meu pai olhou para as carruagens e se aproximou, dizendo:
- vocês conversaram sobre isso?
- meu pai, temos três escolhas: ela renuncia ou eu renuncio. Ou unimos os clãs.
Ele ficou mudo.
- o clã Grant está passando por um momento difícil, Eleanor teme que o povo não aceite uma união de maneira nenhuma. Afinal, há um ano atrás, nossos homens estavam se matando. Eu sou seu filho único. Único herdeiro desse lugar. Se eu renunciar, quem ficará em meu lugar? Ela lutou por sua posição e merece, mais do que ninguém, ser a senhora daquele clã. Ela salvou o povo de perecer no inverno. O que faremos? Se o senhor tiver uma opinião, é bem vinda.-- eu disparei, sentindo alívio quando terminei de falar.
Meu pai ficou mudo por um instante e, depois, disse:
- Eleanor foi entregue para se casar contigo, pois, aos nossos olhos, jamais precisaria assumir a liderança do Clã. Eu nunca permitiria esse casamento, se sequer imaginasse que te colocaria nessa posição, meu filho.
- eu sei. Mas o improvável aconteceu. E por mais que eu a ame, jamais pediria que renunciasse ao seu lugar de direito, para vir ficar comigo aqui.
Meu pai me olhou, com olhos cheios de ternura.
- vejo que a ama muito, meu filho.
- mais do que o senhor imagina.
Ele colocou a mão sobre meu ombro e ficamos assistindo os cavalariços terminarem de montar tudo para partir.
Eleanor chegou, elegante e fina. A Senhora do clã Grant.
- tenho que partir, meu marido.-- ela falou, com a voz embargada, segurando minhas mãos.
- eu te desejo sorte e força. Espero que consiga dominar seu povo.-- meu pai falou, dando-lhe tapinhas no ombro e se afastando.
- Minha amada...- eu falei, trazendo suas mãos aos meus lábios e beijando-lhes carinhosamente - Sentirei saudades a todo instante.
- por favor, vá me visitar.
- eu irei. Se precisar de alguma coisa, pode me pedir. Eu escreverei todos os dias.
Ela me abraçou.
- eu te amo tanto, Aiden.
- eu também te amo, Eleanor.
Eu a beijei. E foi o beijo mais sofrido da história. Pois só Deus sabia o quanto eu queria segurá-la ali, impedir que partisse. Queria que ficasse comigo para sempre.
Mas não fiz nada disso. Apenas me despedi. E fiquei assistindo a caravana sair da cidade e sumir no horizonte.
Foi como se um pedaço de mim tivesse sido levado.

Sob as Regras do Clã Onde histórias criam vida. Descubra agora