Capítulo 15

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Saí do quarto cheio de alegria. Agora entendi o porquê do mês recluso. Eu adoraria ter um mês todinho com Eleanor. Aproveitaria cada manhã, cada tarde e cada noite.
  Meu sangue fervia por ela.
  Todavia, ninguém poderia sequer imaginar que tínhamos consumado o casamento depois de tanto tempo.
  Nossa farsa durou muito tempo.
  Encontrei com meu pai na sala de reunião, parecia que estavam discutindo sobre o gado ou coisa parecida.
  – meu pai – cumprimentei – preciso de um minuto contigo.
  – aguarde um instante, meu filho – ele rebateu, e continuou sua reunião.
  Não demorou muito, logo os fazendeiros terminaram e saíram.
  – diga, Aiden. O que é que tem de tão importante?
  – estive conversando com Eleanor…
  – vocês sumiram ontem a noite! Nos deixaram preocupados!
  – sim, lamento a preocupação, mas…
  – foram vários dias longe dela. Eu entendo o que sentiram.
  Pensei bem, ele não sabia não. Ele não sabia como era finalmente se entender com a pessoa que ama e fazer amor apaixonadamente.
  Apenas dei um risinho forçado.
  – bom, mas isso não vem ao caso, não é mesmo? – ele continuou, vendo meu constrangimento.-- Diga o que tem para dizer.
  – Eleanor acha que conhece o tal perseguidor.
  – oh! Vai facilitar nosso trabalho. Quem é o maldito?
  – Martin Sawyer.
  – como assim? O primeiro marido retornou dos mortos?
  – não seja ridículo… ele forjou sua morte por conta dos credores e fugiu. Agora quer reaver a esposa, já que ela é a herdeira de um clã.
  Meu pai bateu a mão na mesa e se levantou, irado.
  – filho da puta desgraçado! Como pode fazer uma coisa dessas?
  – meu pai, ele é um maldito. Fez coisas horríveis com Eleanor, antes de forjar essa morte, devia a muitos soldados e fazendeiros. Era um apostador de meia tigela. Eu peço sua permissão para encontrá-lo e fazer com que ele pague por tudo.
  Meu pai veio até mim e colocou as mãos sobre meus ombros.
  – meu filho, faça o que tiver que fazer.
  – não existe nada que um bom homem não faça por aquilo que ele luta e ama.
  Ele sorriu orgulhoso.
  – os homens estão a seu dispor. Faça o que for necessário. Proteja sua esposa.
  – obrigado, meu pai.
  Saí dali e fui procurar Duncan imediatamente. Ele era um grande guerreiro e era essencial para rastrear e encontrar aquele canalha.
  Havia um certo boato no Castelo de que Duncan era um bastardo de meu tio, Angus. Meu tio o trouxe ainda pequeno para ser educado no Castelo e desde as minhas primeiras memórias, Duncan estava comigo. Meu tio, infelizmente, morreu em uma batalha ainda jovem, deixando o menino sob cuidados do meu pai. Duncan logo se tornou um grande guerreiro e um dos homens mais importantes para o Clã.
  Meu pai tinha muita consideração por ele, concedendo uma casa próxima ao Castelo e um lugar à mesa em todos os banquetes.
  Entrei em sua casa, apressado e ele estava afiando suas espadas, sentado junto a uma lareira.
  – bom dia, Duncan – saudei, me aproximando.
  – bom dia, Mackenzie. Te procurei ontem a noite e não te encontrei, seu pai estava preocupado.
  – já me entendi com meu pai.
  – imagino bem o que você foi fazer ontem.-- ele comentou, sorrindo de lado maliciosamente.
  – Duncan, meu velho amigo. Eu tenho uma missão para você.
  Ele levantou os olhos e parou o que estava fazendo, curioso
  – Aiden Mackenzie tem uma missão para mim? Por favor, não diga que voltaremos para o clã Grant.
  – pensei que tinha gostado do tempo que passamos lá.-- falei, rindo.
  – aquele é o lugar mais triste que já vi. Lady Eleanor tem um grande trabalho pela frente para transformar aquilo em um lugar habitável.
  – oh, você odiou o Clã Grant, eu já entendi.
  – sim, odiar é a palavra certa. Mas eu fui, porque somos amigos.
  – eu tenho uma missão para você, pois é o melhor rastreador que eu conheço. Um exímio guerreiro investigador.
  Ele sorriu, orgulhoso de si.
  – por que tanta bajulação? O que aprontou?
  Sentei-me ao seu lado.
  – soube que Eleanor está refugiada aqui por conta de um perseguidor?
  – eu soube sim. Inclusive, as más línguas disseram que você também recebeu uma ameaça.
  – exatamente. Tem alguém procurando por ela.
  – e você quer que eu descubra quem é?
  – eu já sei quem é. Eu quero encontrá-lo. Por isso preciso de você. E suas habilidades de rastreador.
  Duncan ficou confuso.
  – Você sabe quem é?
  – sim. Martin Sawyer foi casado com Eleanor, e forjou a morte para fugir de credores. Agora com o fim do inverno, a notícia da morte de Nolan Grant e os filhos, e que Eleanor assumiu a liderança está correndo pelo reino. Ele soube e está procurando por ela, para reaver o casamento. O desgraçado quer ser o líder dos Grant.
  Ele ouviu tudo atentamente.
  – isso tudo é difícil de acreditar. Mas como é você que está dizendo, eu aceito a missão.
  – sabia que podia contar contigo.
  – diga quais informações você tem.-- ele falou, guardando a espada na bainha.
  – nada. Sei que ele enviou um recado para mim, há uns dias atrás. E tinha enviado a ela também. Ninguém o viu, nenhuma informação.
  Duncan revirou os olhos.
  – assim fica complicado.
  – apenas uma pessoa pode me ajudar, e essa pessoa é você.
  – tem o recado que recebeu?
  – sim.
  Entreguei o pequeno bilhete.
  – Quero saber onde ela está – ele leu, analisando tudo.-- você soube na hora que se tratava de Eleanor?
  – sim.
  – como esse bilhete chegou em suas mãos?
  – estávamos resolvendo um sumiço de algumas ovelhas, esse bilhete estava nos estábulos.
  – oh… Sawyer sabia que Eleanor tinha trabalhado alguns dias no estábulo?
  – muito provável. Talvez ele foi até lá para procurar por ela.
  – Sawyer pode ter alguém para ajudá-lo. Como o indivíduo que a atacou nos estábulos aquela vez.
  Minha mente se acendeu.
  – o tal desertor que usava as cores dos Grant! Talvez ele era um parceiro de Sawyer e levaria notícias a ele, mas Eleanor o matou.-- exclamei, me lembrando do incidente.
  – logo o inverno chegou e ele ficou sem saber onde ela está.
  – provavelmente soube, por aqui mesmo, que ela tinha partido. E enviou ameaças a ela.
  – exatamente, Duncan!
  – vou precisar falar com Eleanor.
  Sem perder tempo, convoquei Eleanor para uma reunião com Duncan no meu escritório. Sentamos os três frente e frente, Duncan era um excelente investigador.
  – lady Eleanor, é uma honra revê-la – ele saudou, beijando sua mão educadamente
  – igualmente, Duncan. Agradeço sua atenção nesse caso.-- ela respondeu, esfregando as mãos, ansiosa.-- meu marido me assegurou que você é o melhor no que faz.
  – eu agradeço a confiança, lady Eleanor. Vou me dedicar para encontrar Martin Sawyer, mas para isso preciso de algumas informações.
  – diga o que precisa, Duncan.
  – você, por acaso, teria a tal mensagem que recebeu, com a ameaça?
  Eleanor pensou por um instante.
  – lamento. Já faz alguns dias, e se eu guardei, ficou em minha casa.
  – oh… pode me dizer, com precisão, o que estava escrito?
  Ela refletiu novamente.
  – estava escrito: eu soube o que você fez.
  – só isso?
  – essa foi a primeira. A outra estava escrito: eu vou querer…não!-- se corrigiu – eu quero tudo de volta.
  – certo. E como essas mensagens chegaram até você?
  – eu estava no campo acompanhando uma carga de gado, e encontraram um bezerro morto com o primeiro bilhete preso. O segundo apareceu nas portas do castelo, após um banquete.-- ela relatou, com voz trêmula.-- ele estava bem perto de mim
  – fique calma, querida – eu falei, segurando sua mão.
  Duncan coçou a cabeça e disse, levantando-se:
  – lady Eleanor, você reconheceu o indivíduo que te atacou nos estábulos aquele dia?
  – não, por que?
  – tem certeza?
  – tenho. Nunca vi aquele homem antes. Só sei que ele era do clã Grant, pois Aiden conheceu as cores. Foi tudo muito rápido e violento.
  – certo. Acredito que Sawyer voltou quando soube que se casou de novo, mandou alguém espionar você e levar notícias a ele. Esse desertor, que os conselheiros de seu clã informaram. Talvez esse desertor seja um servo, criado de Sawyer.
  – eu vivia num vilarejo minúsculo e não podia sair nunca. Sei que Sawyer era um homem de posses, por isso meu pai me obrigou a casar com ele. Ele tinha várias propriedades, era convidado para altos eventos. Então pode ser um amigo, ou um servo de confiança.
  Ouvi atentamente a ela. Tinha sido obrigada a se casar com aquele monstro e ir morar com ele no confim da terra, sofrendo as maiores atrocidades sem ninguém para ajudá-la.
  Eleanor era uma dama de ferro.
  – vou precisar ir até o clã Grant, Aiden – ele me informou, sendo firme – gostaria de levar dois homens comigo para concluir essa investigação.
  – você tem a minha permissão para o que for preciso, para encontrar Martin Sawyer.-- eu informei.
  – já estou indo então. Tenho uma viagem para planejar. – ele se levantou e virou-se para Eleanor – lamento te dizer isso, mas não gosto nem um pouco do Clã Grant. A atmosfera de lá não me agrada.
  – Os Grant causam esse efeito nas pessoas.-- ela respondeu, confirmando.
  – mas eu irei. E encontrarei o tal Sawyer.
  Ele deu as costas, apressado.
  Eleanor estava com os dedos entrelaçados aos meus.
  – ele irá encontrar Sawyer, não vai?-- ela murmurou, olhando pela janela.
  – mais rápido do que você imagina.
  – ele mesmo vai capturá-lo?
  – não. Eu quero estar lá. Ai de quem estiver no meu caminho – respondi, sentindo uma fúria surgir dentro de mim.
  – eu quero olhar nos olhos dele, antes que você o mate.
  – ah, mas vai ter tempo de sobra entre o momento em que eu capturá-lo e quando eu finalmente o matar.
  Eleanor não respondeu. Ela entendeu bem o que eu quis dizer.
  Como o Clã Mackenzie estava passando por um momento de paz, era difícil me imaginar como um homem violento. Meu pai me poupava de batalhas, ultimamente, mas quando me tornei homem, com apenas 18 anos, tive minha iniciação no exército.
  Participei de diversos treinamentos e fui convocado para várias batalhas. Tanto em problemas internos, como aliado de outros clãs.
  Tinha visto a morte de perto várias vezes.
  Tive que me despedir de grandes guerreiros.
  Tinha responsabilidades de herdeiro, por isso não podia me deixar abalar por qualquer coisa.
  As sessões de tortura dos cativos eram algo que meus olhos não queriam ver, mas foram obrigados. Afinal, era meu dever.
  Nos últimos dois anos, eu praticamente não saía em batalha, mas meus conhecimentos não tinham sido apagados.
  Deixei Eleanor no castelo com meu pai e os conselheiros e fui até às masmorras.
  Um lugar escuro e úmido, cuja luz do sol não iluminava. As paredes de pedras eram adornadas por correntes e algemas.
  Fazia muito tempo desde a última vez que eu tinha estado ali. Me lembro que capturamos um espião do clã adversário.
  Eu fiquei responsável por tirar dele o máximo de informações possível. Um trabalho árduo e pesado, minha mente ficou perturbada por alguns dias.
  Nas masmorras tinham chicotes, facas, lanças e todo tipo de porretes.
  O sangue seco no chão úmido contava um resumo do que acontecia ali.
  Respirei fundo, enojado com as memórias obscuras que eu tinha com aquele lugar.
  Duncan não demoraria a encontrar Sawyer. Eu faria questão de capturá-lo pessoalmente e de lhe oferecer o melhor tratamento de um Mackenzie.
  Analisei bem o que tinha ao meu redor.
  Sawyer mal podia imaginar o que tinha à sua espera.

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