Capítulo 4

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Outubro de 1730

Os dias se seguiram na medida do possível. Eleanor participava das refeições comigo e às vezes nos cruzamos pelos corredores da ala. Trocamos algumas palavras enquanto estávamos na mesa e nada mais.

Eu me dediquei ao projeto de um novo celeiro. Ela recebia as costureiras para provar os novos vestidos que foram encomendados.

Não tinha muito o que fazer, preso ali.

Finalmente, recebi um recado do meu pai.

Aiden, meu filho. Lamento interromper seus dias de descanso, mas há um assunto que tenho que tratar contigo. Te aguardo as 9h.

Nunca fiquei tão feliz por ser convocado pra alguma coisa.

Me vesti rapidamente e me preparei para sair.

- se me permite, onde vai?-- ela me perguntou, me olhando de longe.

- meu pai me convocou para uma reunião. Não devo voltar logo.

- eu gostaria de sair um pouco.

- oh, claro.

- eu posso?

- claro. Não precisa pedir. Se apronte que eu te levo para conhecer o lugar.

Antes que eu terminasse de dizer, Eleanor tinha desaparecido. Retornou rapidamente, com um lindo vestido florido, seus cabelos presos em um coque e um sorriso radiante.

- você está linda.-- quando vi já tinha falado.

- obrigada. Aiden.

- vamos conhecer o castelo Leod, do Clã Mackenzie.

- posso te perguntar uma coisa?

- quantas quiser.

- por que estamos isolados nessa ala e você não sai por nada? Quero dizer, às vezes o tédio toma conta...

- é uma tradição. O casal recém casado é dispensado de todas suas tarefas por vinte e oito dias. Lua de mel. E mesmo que estamos fingindo, é necessário manter as aparências de um casal fogoso.

Ela não pareceu entender tudo que eu disse, mas não a culpo. Apesar de serem próximos, nossos clãs tinham costumes completamente diferentes.

Caminhamos pelo castelo, fui mostrando os lugares para ela. Chegamos no pátio e eu disse:

- Eu preciso ir à reunião, mas vou deixar Brenda contigo. Ela conhece tudo por aqui e vai te mostrar.

- obrigada, Aiden.

Como estávamos em público, me permiti dar um beijo em sua testa. Não era muito íntimo, mas o suficiente para os presentes verem que estávamos nos dando bem.

Segui para a sala de meu pai, quando abri a porta, todos pareciam estar me esperando.

- bom dia.-- falei, envergonhado.

- está atrasado.-- meu pai disse, me dando tapinhas nas costas.

- peço desculpas.

- não é necessário. Todos nessa sala sabemos o motivo de seu atraso.

Os homens de confiança do meu pai estavam ali, e todos riram quando ele disse isso. Eu tinha que levar na brincadeira, era algo comum para eles.

- então vocês também sabem que eu não quero que essa reunião se estenda demais.-- comentei, indo para minha cadeira.

Eles riram e fizeram piadas sobre minha performance sexual, sobre eu estar magro e sobre ter um bebê a caminho. Brinquei com eles, como se fosse verdade. Mal eles sabiam que o mais próximo que eu cheguei de Eleanor foi o beijo na testa a alguns minutos atrás.

Depois das brincadeiras, discutimos sobre o inverno estar próximo e sobre nossas estratégias para sobrevivermos a todos.

O problema com abastecimento pareceu ter se resolvido, com os rebanhos e o trigo trazidos por Grant. Com os homens de volta ao trabalho duro do clã, as mulheres se dedicaram em buscar lenha e tecer roupas e cobertores. Todo ano nos preparamos para o pior, e algumas vezes acertamos. Fortes nevascas e doenças não podem ser previstas e nem evitadas. Mas sempre tínhamos uma estratégia para manter o povo vivo.

O outono já estava gelado, o medo de uma geada de outono queimar toda as pastagens antes da colheita, era o que preocupava a todos.

Decidimos então, formar uma frente de colheita, em que todos os camponeses se uniram para colher tudo que havia nos campos do clã. Quer seja feno, alfafa ou trigo, tudo deveria ser colhido o mais rápido possível. Tudo estocado e pronto para o inverno.

Que, segundo o velho ancião, teríamos um gélido inverno nesse ano.

A reunião durou o dia todo. Me preocupei com Eleanor. Mas confiava em Brenda, então sabia que estava tudo bem.

Quando voltei para nossos aposentos, ela estava me esperando, tricotando algo.

- Olá, que bom que voltou.-- ela disse, sorrindo.

- lamento ter demorado muito. Mas era algo importante. Como foi seu dia?

- muito bom. Brenda me levou para conhecer o resto do castelo e a feira na cidade. É um lugar muito adorável.

- excelente. Fico feliz.

Por um instante fiquei olhando para ela. Sorrindo, cabelo quase todo solto, face rosada. Tinha engordado alguns quilos, estava linda. Me peguei admirando a mulher que eu duvidei amar um dia. Mas se continuasse assim, logo amaria.

Seria fácil amá-la.

Ela percebeu que eu estava olhando e logo disse, mudando de assunto:

- Soube que vocês tem um grande estábulo de ovelhas.

- sim. Se quiser, podemos visitá-lo qualquer dia desses. Agora nossos dias de reclusão acabaram, podemos sair por aí.

- eu adoraria.

- vamos amanhã logo após o almoço. Na parte da manhã, vou trabalhar, mas a tarde podemos sair.

Ela sorriu e foi para o quarto. Eu fui para meu escritório, precisava terminar o projeto do celeiro para apresentar ao meu pai. Talvez poderíamos fazer esse celeiro, antes do inverno, caso todos se dedicassem.

Eleanor e eu nos encontramos no jantar, bem trajados, como se fosse uma noite especial. E talvez poderia ser, quando ela estivesse pronta.

As memórias de Ophelia estavam sumindo. E a minha afeição por Eleanor aumentava a cada dia.

Naquele jantar, ela usava um vestido vinho, que tinha um ótimo contraste com sua pele, marcava seu busco e seu quadril, expondo suas clavículas e a curva de seu pescoço me era extremamente atraente. Enquanto ela comia, despreocupada, eu me peguei imaginando como seria tirar aquele vestido de seu corpo.

Me assustei com meus pensamentos, pois jamais tinha chegado a imaginar isso, mesmo quando ela ergueu sua camisola até as coxas, eu não tinha ficado excitado.

Afastei meus pensamentos, me forçando a comer aquele purê de abóbora, quando queria estar me deliciando no corpo daquela mulher.

Logo após o jantar, ela se recolheu. Eu permaneci sentado, olhando para sua porta. Ora desejando ir até lá, ora desejando que viesse até mim.

Mas nenhuma dessas coisas aconteceram.

Deitei-me sozinho, pensando em como eu poderia fazer ela se apaixonar por mim.

Sob as Regras do Clã Onde histórias criam vida. Descubra agora