Sob as Regras do Clã

Capítulo 33

Na manhã seguinte, retornamos para casa. Uma viagem trabalhosa, visto que estava levando um bebê de colo. Tomamos uma breve chuva no caminho, mas eu fiz de tudo para proteger Aderyn.
  Minha pequena menina estava cansada e a maior parte do tempo chorava com fome. Toda hora precisava parar para alimentar ela.
  Aderyn sentia muita falta do leite da mãe. E eu tinha certeza que Eleanor estava em casa, com os peitos cheios de leite vazando.
  Demoramos muito na estrada, mas quando finalmente avistei o Castelo Grant, meu coração disparou.
  Ao nos aproximarmos, os guardas abriram os portões e a primeira pessoa que estava do outro lado era Eleanor.
  Saltei do cavalo com Aderyn e ela veio ao nosso encontro, de braços abertos e lágrimas nos olhos. Imediatamente tomou a bebê para si, aninhando em seu colo.
  – oh, Aiden, você trouxe minha menina de volta!-- ela exclamou, beijando Aderyn.
  – eu te prometi, não foi?-- eu respondi, abraçando as duas.
  – sim, prometeu.
  Fomos para nossos aposentos, Eleanor chorava de alegria e Aderyn estava sorridente em seus braços. As criadas prepararam um banho quente e Eleanor fez questão de banhá-la pessoalmente.
  Aderyn estava um pouco queimada do sol, com alguns arranhões, mas de maneira geral estava bem.
  Tomou um longo banho quentinho, depois mamou em sua mãe por quase uma hora. Mais pelo acalento do que pelo leite em si.

  Deixei as duas dormindo e fui me encontrar com Duncan, ele tinha vindo junto com Gordon para tirar as informações dos desgraçados que tinham raptado Aderyn.
  – Olá, Aiden – ele me saudou, se aproximando – como Eleanor está?
  – bem melhor, agora com Aderyn. Eu agradeço imensamente por tudo que fez.
  – isso não foi nada. Eu faria dez vezes mais.
  – você é um amigo leal.
  – um primo leal.-- ele brincou, sorrindo.
  – sim, um primo leal.
  Nós sentamos frente a frente, e ele se serviu de um copo de uísque.
  – como estão as coisas com meu pai?-- perguntei, sem rodeios
  – bem. Ele ficou bem deprimido quando voltou daqui. Acredito que seja porque você deixou claro que Aderyn não ficará na linha de sucessão.-- ele comentou, despreocupado – você fez isso?
  – fiz.
  – viu? Eu sempre tenho razão.
  Eu ri.
  – só não sei como você suportou a carga de ser herdeiro. Devo confessar que não aprecio a ideia de ser o sucessor de seu pai.
  – não me diga! Eu jurava que você estava gostando.
  – bom, no início pensei que seria uma boa ideia. Quero dizer, eu sendo o herdeiro, irá atrair alguma lady. Mas aí seu pai começou a despejar regras e trabalho e mais trabalho.
  Não pude evitar uma risada sincera.
  – pensava que minha vida era fácil?-- brinquei.
  – confesso que pensava sim. Mas hoje vejo que não era nada mole.
  – agora estou aqui com Eleanor, sou o braço direito dela aqui.
  – devo admitir que esse lugar não é mais o mesmo.-- ele confessou, olhando ao redor.
  – não foi fácil, mas nos dedicamos.
  – eu acredito que seu pai não quer me deixar no lugar dele.
  Olhei para Duncan, com seu copo de uísque na mão. Tinha a minha idade, mas era mais experimentado no trabalho, tinha sido um excelente guerreiro e investigador. Era meu mais fiel companheiro.
  – por que acredita nisso?-- perguntei, curioso para saber a resposta.
  – ele ficou realmente muito decepcionado quando você não aceitou colocar Aderyn no seu lugar. Ele contava com isso. Ou você, ou seu primeiro filho. E ele ficou sem ambos.
  – eu e Eleanor decidimos não colocar um fardo desses sobre os ombros de uma criança que acabou de nascer. Não seria justo com ela. Aderyn pode decidir isso por si própria quando crescer.
  Ele refletiu por um momento.
  – eu sei que parece besteira…– tentei me justificar frente ao silêncio da parte dele.
  – não, não diga isso. Você sentiu na pele o que um fardo desses pode fazer. Poderia estar com Ophelia agora. Mas foi obrigado a deixar seu amor, porque eu considero o que tinha com ela como amor. Se casou com uma moça que não conhecia. Tudo isso porque seu pai mandou. Eu entendo que não queira isso para sua filha.
  Duncan era um homem compreensivo.
  – obrigado, duncan.-- eu disse, grato.
  – você sabe que eu não me lembro de meu pai, eu era muito pequeno quando ele se foi. Mas eu gostaria que alguém nesse mundo sentisse orgulho de mim e acreditasse no meu potencial.
  – eu tenho orgulho de você. É o maior investigador que eu conheço. Um dos maiores guerreiros. E também meu amigo mais fiel.
  Ele maneou a cabeça.
  – não estou falando disso.
  – você procura a aprovação de meu pai, Duncan?-- eu perguntei, entendendo o que ele queria dizer.
  – e quem não procura? Ele é nosso senhor, nosso líder. E agora, meu legítimo tio. Eu gostaria muito que ele me aceitasse de verdade como seu sucessor.
  Eu refleti por um momento. Estava sendo muito egoísta, vivendo meu mundo e meus problemas, quando que, comparado aos de Duncan, eram mais difíceis de solucionar.
  – meu pai é um homem sábio, porém muito teimoso. Ele viu o seu valor, no momento que decidiu tirar você do anonimato de um bastardo e te colocar ao lado dele como um verdadeiro Mackenzie. Ele te colocou para ficar no meu lugar. Isso porque viu o seu valor. Mas ele está em estado de negação quanto a isso, pois é teimoso como uma mula.
  Duncan ouviu atentamente cada palavra, encontrando nelas sentido.
  – muito obrigado, Aiden.-- ele agradeceu, de forma sincera
  – por nada.
  Ficamos ali na mesa, bebendo juntos, por alguns minutos. Então, ele se levantou, arregaçando as mangas de sua camisa.
  – bom, agora eu tenho um trabalho a fazer.-- ele anunciou, pigarreando.
  – onde vai?
  – tirar todas as informações daqueles vermes imundos que estão nas masmorras. Até mais.
  Ele saiu caminhando tranquilamente. Tão calmo que, quem o visse andando, jamais imaginaria que estava indo para uma sessão de tortura.
  Eu, por outro lado, fui me deitar para descansar com Eleanor. Tinha sentido falta de ficar junto com ela, enquanto ela amamentava Aderyn.
  General Gordon e Duncan tomariam conta dos desgraçados, eu não precisava me preocupar quanto aquilo.