Capítulo 32

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  – de acordo com as informações de Jones, foi obra de alguns desertores que conseguiram escapar.
  Ela levou as duas mãos ao rosto, chorando.
  – imagine o que fizeram com nossa filha, Aiden!
  – oh, não pense isso, querida – eu falei, tentando reconforta-la, com um carinho nas costas – Dawn ainda está com ela, Aderyn está sendo bem cuidada.
  – por Deus, Aiden. Vá até lá e traga nossa filha para casa!-- ela me pediu, com lágrimas nos olhos.
  Eu engoli em seco. Aquela era minha vontade, só bastava ela pedir. E tendo pedido, eu iria no mesmo instante.
  – agora mesmo estou partindo, Lea. E só volto para cá com Aderyn nos braços.-- prometi, beijando sua testa carinhosamente.
  – não há ninguém além de você, a quem eu confiaria essa missão, Aiden.
  Levantei-me naquele instante e me preparei para as buscas. Vesti-me, peguei minha espada e meu arco e flechas. Encontrei-me com General Gordon e imediatamente partimos para a tal fazenda, ao encontro da minha filha.

  Cavalgamos aquela noite toda sem parar nem para comer, nem dormir. Seguimos viagem paisagem adentro até avistar a divisa de nossas terras com o Clã de meu pai, outrora meu também.
  As primeiras propriedades tinham o brasão Mackenzie hasteado, para que ninguém se confundesse e invadisse as terras sem querer.
  Na hora do almoço, encontramos com os homens de Gordon que já estavam ali em patrulha e investigando os arredores.
  – Já estamos na fazenda do Lorde Boyd – informou Edward, se aproximando, e apontando para uma área ali perto – por ali encontraram o pobre Jones. Seguimos a leste até onde rastreamos a carruagem deles.
  – e tem novidades, Edward?-- cobrou Gordon, impaciente
  – os homens Mackenzie assumiram a investigação mais adiante.
  – ora e por quê?-- me irritei.
  – aqui é território Mackenzie, mesmo estando em paz, não temos autorização para realizar nossos assuntos por aqui– rebateu Edward, de forma fria.
  – eu sou um Mackenzie. Essas terras são de meu clã. Eu estou autorizando vocês a seguir a investigação!-- gritei, me exaltando.
  Gordon gesticulou para que os homens seguissem adiante e nós os seguimos.
  Continuamos a patrulha até que avistamos guardas com brasão Mackenzie cavalgando as margens de um riacho. Os homens de Gordon pararam, em respeito a eles.
  – Sou eu, Aiden Mackenzie! Estamos em busca de minha filha, que foi raptada!-- gritei para que eles ouvissem.
  Os homens vieram em nossa direção e quando estavam mais próximos, reconheci que era Duncan.
  Saltei de meu cavalo, eufórico, e ele me imitou. Nós nos encontramos com um abraço.
  – Aiden!-- ele exclamou, segurando meu rosto entre suas mãos – Há quanto tempo, meu amigo!
  – Duncan, não imaginava te encontrar aqui!
  – estou liderando a patrulha por aqui, meu amigo. Vamos recuperar sua filha, pode ter certeza.
  – então vamos. Não podemos perder tempo.
  Voltamos para nossos cavalos e continuamos seguindo o riacho, até encontrar um pequeno vilarejo.
  Nós aproximamos com cautela, pois não havia ninguém na rua, e isso, aquela hora do dia, era muito estranho.
  Duncan estava acompanhado de Simon e alguns outros companheiros, que outrora também eram meus. Estávamos ali, reunidos por uma causa nobre. Como nunca pensei que fôssemos nos encontrar assim novamente.
  Como ali eram suas terras, eu deixei que ele conduzisse a ronda.
  Enquanto cavalgamos entre as casas, ouvi um certo ruído vindo de uma cabana, que foi imediatamente abafado, quase passando imperceptível.
  Gesticulei para que todos parassem e fizessem silêncio absoluto.
  E novamente o ruído.
  Aquilo podia ser qualquer coisa, mas para um recém pai com os ouvidos apurados, foi bem claro como um choro de bebê abafado.
  Duncan e eu nos aproximamos da casa, cujo som estava sendo emitido. Ele bateu na porta umas três vezes e nada. Bateu novamente, chamando dessa vez. E a porta foi aberta.
  Surpreendente, era Ophelia.
  Sim, Ophelia, a minha ex namorada. Ela tinha partido do Castelo Leod para viver na Fazenda do Lorde Boyd, mas não imaginava que a encontraria em uma cabana no meio do nada, possivelmente como refém.
  – posso ajudar, senhor?-- ela falou, e naquele instante percebi que ela realmente era uma refém.
  – eu e meus homens estamos de passagem e estamos procurando uma estalagem – mentiu Duncan, ele era muito bom para investigar.
  – aqui é a propriedade de lorde Boyd, senhor. Não tem estalagem aqui.-- ela respondeu, meio ofegante.
  – oh, eu sinto muito. Poderia me informar onde encontro uma estalagem por essas bandas?
  – siga nessa estrada ao sul e vai encontrar uma vila, por lá tem uma estalagem.
  Duncan concordou com a cabeça.
  – certo, dona. Muito obrigado.
  Ela apenas concordou com a cabeça como resposta e fechou a porta na hora.
  Olhei para Gordon e ele estava posicionando os homens ao redor da casa.
  Dessa vez eu mesmo bati na porta novamente. Umas cinco vezes seguidas. Até que a porta foi aberta com violência, e dessa vez era um homem alto e forte, estava armado e segurava Ophelia com uma só mão, segurando a espada junto ao pescoço dela.
  Ao invés de me assustar, senti uma onda de adrenalina invadir meu coração. E sem pensar duas vezes parti para cima dele com minha espada.
  Duncan e alguns homens me seguiram, conseguindo tirar Ophelia de suas mãos e rendê-lo no canto.
  Dentro da pequena cabana, tinha outras duas mulheres amarradas, e uma delas era Dawn, eu a reconheci imediatamente.
  Gordon se aproximou com mais dois homens rendidos, que tentaram fugir pelos fundos. Com a confusão, as mulheres gritaram e ouvi o choro do bebê novamente.
  – Dawn! Cadê Aderyn? Por favor, onde está ela?-- gritei, indo até Dawn, tirando as amarras de sua boca.
  – oh, senhor Mackenzie! Está ali naquele baú!
  Ela me apontou o baú no canto da cabana e eu corri até lá. Ergui sua tampa e encontrei minha filha, enrolada em sua manta, vermelha de tanto chorar.
  Abracei-a carinhosamente e ela se acalmou.
  – oh, céus! Ainda bem que ela está bem!-- suspirei aliviado.
  Gordon e Duncan se aproximaram para verificar como ela estava e aparentemente estava bem.
  – não se preocupe, senhor Mackenzie, eu cuidei dela com a minha vida! Ninguém tocou nela!-- disse Dawn, limpando a lágrimas.
  – sua senhora vai saber disso, Dawn. Ficamos gratos por sua lealdade!
  Sai da casa com Aderyn. Nada mais me importava. Senti seu cheirinho e a beijei carinhosamente.
  Gordon me seguiu, apressado.
  – senhor, senhor! Quais as ordens?
  – pegue esses animais. Quero eles nas minhas masmorras.
  Seus olhos se abriram, assustados.
  – escute aqui, Gordon. Eu quero saber tudo que eles sabem. Quais seus planos e comparsas. Quero saber para onde iam e o que iam fazer com Aderyn. Quando você tirar todas as informações deles, irá atrás dos outros. Até que não hajam mais nenhum dessa espécie por aí – eu falei, enraivecido – e depois eu quero todos eles mortos. Pendurados nos muros da cidade, como exemplo para que todos saibam o que acontece com quem mexe com minha família.
  Gordon apenas concordou com a cabeça e saiu, chamando seus homens.
  As pessoas das outras casas saíram pouco a pouco, oferecendo um lugar de descanso para nós.
  Entrei em uma casa, com Aderyn, para comer alguma coisa e dar um pouco de leite para ela. A mulher que morava ali me forneceu um pouco de leite de cabra. Ela me reconheceu, sabia que eu era daquele lugar.
  – obrigada, Mary – agradeço, sendo gentil – meu pai ficará sabendo de sua lealdade.
  – oh, Aiden. Isso não é nada. Sei que viveu um pesadelo com tudo isso. Você pode ter ido embora do Clã, mas nunca saiu dos nossos corações.
  Eu sorri, meio sem graça.
  – será uma pena que não será nosso líder um dia. Mas, se você estiver feliz com sua família, não importa onde estiver, vamos rezar pela sua felicidade.
  – obrigada, Mary.-- repeti, enquanto ninava Aderyn com carinho.
  Fiquei ali e até dormi um pouco com ela, precisava estar descansado para aguentar a jornada de volta.
  Acordei já estava quase anoitecendo, e Ophelia estava ali, preparando um jantar.
  Estava exatamente do mesmo jeito, cabelos cacheados soltos, vestido simples e seu jeito despreocupado. Mexia nas panelas como se estivesse brincando, distraída.
  Ao perceber minha presença, virou-se para mim e disse:
  – gostaria de te pedir desculpas. Por não ter respeitado seu casamento, já que eu devia ter imaginado que não iria mais me procurar. E também por ter te beijado aquele dia.
  – isso ficou no passado.
  – quando eu soube sobre o rapto de sua filha, fiquei terrivelmente triste. Então esses homens apareceram na propriedade, aterrorizando as pessoas. Eu senti uma obrigação de tomar conta dela para você. Fiquei presa com aquelas mulheres, protegi Dawn. Consegui leite para a bebê. Eu estava te devendo essa.
  Ela me olhava nos olhos, e neles eu via sinceridade. Ela realmente estava arrependida. E eu estava grato por tudo que ela tinha feito por Dawn e Aderyn.
  – Eu agradeço por tudo, Ophelia. E não pense mais nisso, o que passou, passou.
  Ela concordou com a cabeça e voltou para suas panelas.
  Senti meu corpo leve diante daquilo. Ela tinha superado nosso fim. Sem ressentimentos, sem mágoas.
  Eu me lembraria dela como uma mulher querida, que ficou no passado.

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