Sob as Regras do Clã

Capítulo 13

Acordei junto com os galos da cidade, não havia nenhum raio de sol no horizonte e eu já estava de pé. Sentia ansiedade em retornar para casa.
Minhas malas estavam prontas e minha caravana também. Meus homens partiram comigo. Fizemos todo o possível por Eleanor e seu povo, mas estava na hora de partir.
Enquanto eu conversava com Duncan sobre o trajeto para casa, Eleanor me chamou para a tal despedida.
- Aiden, eu te agradeço por tudo que fez por mim e pelo clã - ela disse, me entregando uma caixinha de madeira que cabia na palma da mão - Isso é um reconhecimento do Clã Grant a Aiden Mackenzie.
- obrigado - eu respondi, abrindo a caixa. Analisei o conteúdo, uma medalha com o brasão de seu clã. - fico agradecido.
- eu e os conselheiros desejamos que retorne em breve.
- farei o possível. Também aguardo vocês no Clã Mackenzie.
Ela sorriu e apertou minha mão. Eu me inclinei e a abracei. Eleanor ainda tinha cheiro de erva doce. Meu coração acelerou e fiquei excitado com sua proximidade. Só Deus sabia o quanto eu a queria.
O abraço durou alguns instantes. Mas eu me soltei, antes que fizesse alguma bobagem.
- então, adeus, Eleanor.-- eu falei, com a voz meio embargada.
- adeus, aiden.
Entrei na carruagem e partimos.
Fiquei assistindo a paisagem até que seu território desse lugar ao meu. Uma viagem longa e cansativa, mas necessária. Ao entardecer, vi o castelo de meu clã surgindo no horizonte, os muros de minha cidade e senti alívio por estar chegando.
Meu pai me recebeu com festa.
Um banquete e músicas estavam à minha espera, o povo dançou quando eu cheguei.
Meu pai me deu um grande abraço.
- Aiden, meu filho. Não sabe o quanto senti sua falta.-- ele falou, olhando em meus olhos.
- eu também, meu pai. Estava ansioso por voltar.
- onde está Eleanor?-- ele perguntou, olhando ao redor.
- ela ficou.
Seu olhar mudou.
- Eleanor ficou?
- sim. Ela é a senhora de seu clã, não pode ir embora.
- Aiden, meu filho...
- eu sei o que vai dizer. Mas acredito que não vamos unir os clãs. Aquele é o povo dela. Esse é o meu.
- Você é o marido dela. Se casou com ela.
- por meio de um acordo. Ela não me ama. Ela foi obrigada a casar comigo. Por tudo que ela passou, Eleanor merece ser a senhora do próprio povo, sem dividir isso com o marido.
- amor não importa. O que importa são as alianças.
- temos uma aliança ainda. Mas ela cuida do povo dela e eu cuido do meu.
Dei as costas e fui direto para meus aposentos. Queria um banho e queria descanso. Senti raiva de mim mesmo por tudo que disse, pois no fundo, eu estava apaixonado por ela e faria o que fosse necessário para que ela me amasse.
Abri a porta da ala e estava tudo lindo e organizado. Olhei pela porta e vi o quarto onde ela dormia. Desejando ter dormido com ela pelo menos uma vez ali, ter alguma memória com ela.
Não fui capaz de entrar naquele quarto. Ele ainda tinha cheiro de erva doce.
Fui para o outro, onde eu dormia.
Tomei um banho quente e me deitei, não me importei com a festa que havia no salão.
Estava cansado mentalmente.

Clã Mackenzie, Abril de 1731

O restante do inverno passou e logo a primavera chegou colorindo tudo e trazendo uma brisa quente e reconfortante. Quero dizer, a definição de quente para quem vive nas Terras Altas era completamente diferente. significava que haveria menos neblina e chuva, mas não que veríamos um sol escaldante.
Meu pai e eu não tocamos mais em assunto que envolvesse Eleanor.
Os camponeses iniciaram as plantações e eu estava encarregado de tomar conta da agricultura do clã. Cada semente que era plantada, eu anotava. Acompanhava negociações o dia todo, dentro do clã e com os clãs aliados.
Apareceram alguns desertores dos Grant que foram devidamente punidos pelas invasões. Vez ou outra, algumas ovelhas eram levadas, mas sempre encontrávamos o culpado.
Certo dia, recebemos uma mensagem ameaçadora.

Quero saber onde ela está.

Apenas isso.
Meu pai entendeu na hora que se tratava de Eleanor.
- você a deixou lá, e agora tem alguém procurando por ela!-- ele gritou, apontando para mim.
- impossível ser sobre ela. Eleanor está no clã dela há meses.
- a notícia não deve ter se espalhado por todo canto. Pode ser os Campbell.
- os Campbell estavam em paz, quando eu vim embora. Eles sabem que ela assumiu a liderança. Eleanor tinha certeza que não haveria mais problemas com os Campbell.
- você a deixou lá e agora temos problemas com sabe lá quem.
- não tem nada a ver com Eleanor, meu pai. Pode ser qualquer mulher.
Mas eu sabia que era sobre ela. Eleanor temia por sua vida, antes de se casar comigo. Ela sabia que corria perigo, mesmo Sawyer estando morto.
Fiquei preocupado.
Imediatamente, redigi uma mensagem e mandei levar para ela. Eleanor precisava estar em segurança.

Querida Lea,
Como está? Lamento ter demorado a escrever, estou tendo muito trabalho por aqui.
Espero que esteja bem. Recebi um recado estranho aqui e temo por sua vida. Por favor, se cuide. Se estiver em perigo, não hesite em pedir ajuda.

Dois dias depois, recebi a resposta.

Querido Aiden,
Sinto sua falta. Estou bem, apesar das saudades que sinto de você. Ultimamente, também recebi recados estranhos e o povo anda apreensivo. Não estamos em rixa com ninguém, há paz no clã. Entretanto, algo nos perturba.
Gostaria de pedir abrigo no castelo, se não for pedir demais. Tenho homens de confiança para cuidar de tudo por aqui.
Mas acredito que estou vulnerável nesse lugar, onde ainda muitos não concordam comigo.
Poderia me abrigar por alguns dias?

Quando terminei de ler, senti um misto de preocupação e de alegria. Preocupado, pois ela não estava segura. Alegre,pois a veria novamente.
Imediatamente, comuniquei ao meu pai e ele enviou uma caravana para buscá-la