Eu e Eleanor nos dedicamos ao cuidado do clã pelas próximas semanas. Um mês inteiro estudando o que podíamos fazer sobre o lugar. Colocamos a documentação em ordem, resolvemos as questões financeiras pendentes e também recebemos boas notícias sobre o fim da revolta que nos preocupava.
General Gordon estava sendo bem sucedido em suas missões, conseguindo por fim aos rebeldes e manter os camponeses mais pobres em segurança.
Pois a estratégia dos amotinados era invadir as propriedades do interior e tentar converter o maior número de pessoas para sua causa, quando não o tinham sucesso, queimavam as casas e torturavam as pessoas.
Algo muito doentio.
Mas nossa confiança nos homens de Gordon foi bem valorizada, pois as primeiras cartas já traziam boas notícias sobre sua missão.
As reuniões por novas taxas de impostos eram longas e cheias de discussão, mas Eleanor era uma líder firme e mantinha a ordem, apesar dos inimigos políticos.
A presença feminina pelo Clã era mais forte.
Logo, Eleanor conseguiu adaptar as mesmas regras do meu Clã, trazendo um sentimento de igualdade ali.
A organização das colheitas e rebanhos também ficou mais consistente. No primeiro mês, já havia o dobro de semente plantada na terra.
Tudo começava a se movimentar, lentamente, mas com seu próprio ritmo.
Com a chegada do verão, havia alimentos suficiente para realizar grandes banquetes para a alegria da população.
General Gordon retornou com os prisioneiros e a revolta finalmente estava encerrada.
Eleanor julgou cada um dos traidores, pois além de traírem a ela, estavam também contra o bem estar do povo.
Não foi algo fácil, mas no fim dos julgamentos, muitas cordas foram penduradas, como um aviso aos possíveis rebeldes que ainda se mantinham escondidos.
Houve paz no Clã Grant.Recebi diversas cartas de meu pai. Ele sentia muita falta de mim e esses sentimentos eram recíprocos. Não havia um dia em que eu não sentia falta dele.
A cada vez que eu usava meu kilt oficial, eu me lembrava dele.
Tinham sido longos dias sem a presença de meu pai. Suas cartas eram o que me mantinham forte.
Ele me contava que Duncan se tornou o mais feliz dos homens, quando recebeu seu kilt oficial e um broche com o brasão Mackenzie, se tornando assim parte de nossa família.
Ele também me mandava cartas.
Foi mais difícil do que eu pensei, abrir mão de toda a minha vida. Deixei para trás minha família e a minha casa, meu povo e meus amigos.
Por mais que a vida com Eleanor era doce e tudo por ali estava melhorando, eu sentia muita falta do meu antigo lar.
Estava ocupando funções importantes ao lado dela, eu sabia que era indispensável para o funcionamento daquele lugar, porém, senti falta de ser o filho do líder, o futuro herdeiro e senhor.
Eu estava lidando com tudo aquilo do meu jeito. Sempre saia para cavalgar e meditar em tudo. Não sei se Eleanor sabia dos meus sentimentos, mas eu não queria falar com ela sobre isso.
Eleanor não me pediu que eu abandonasse minha vida por ela. Eu fiz isso porque eu quis.Em julho, se iniciaram os jogos do clã Grant. Recebemos diversos competidores de várias modalidades de esportes.
Seria uma festa mais para unir o povo sob a nova liderança. Eleanor decidiu que seria bom para as pessoas terem um pouco de alegria em suas vidas amarguradas, já que os Clã havia passado por dias difíceis.
Arco e Flecha, espadas, natação, corrida com cavalos e outras formas de competição iriam acontecer por uma semana. Regado com muito uísque e carne de carneiro.
O cofre do Clã estava cheio graças aos altos impostos de Nolan Grant, então fizemos o esforço de montar esse festival.
Quando as pessoas começaram a chegar, as estalagens ficaram lotadas e não havia uma casa que não estivesse recebendo visitas.
Uma festa colossal.
Enviei cartas para que meu pai viesse também, Duncan deveria competir, ele era o melhor arqueiro que eu conhecia.
Na primeira tarde de festa, foi a maior alegria da minha vida, quando vi a caravana com o brasão Mackenzie chegando entre a multidão.
Corri em direção a carruagem e quando a porta foi aberta, me lancei ao pescoço de meu pai.
– oh, meu pai, como senti sua falta!--exclamei, emocionado.
– eu tive que vir pessoalmente, já que meu filho nunca mais voltou para me visitar – ele brincou, segurando meu rosto entre as mãos.
Abracei ele novamente. Senti meu coração disparar de tanta alegria.
– seja bem vindo ao Clã Grant, meu pai.-- eu falei, fazendo uma reverência.
Eleanor se aproximou de nós, sorridente. Ela estava vestida com elegância, com as cores do seu tartã, cabelos presos e toda a postura de uma líder. Senti muito orgulho dela.
– Lorde Alistair Mackenzie!-- ela anunciou, chamando a atenção dos presentes – É uma grande honra recebê-lo em nosso Clã. Seja bem vindo aos Primeiros Jogos Escoceses do Clã Grant.
O povo aplaudiu, abrindo caminho para que a gente pudesse passar.
Seguimos até nossa tenda, onde iríamos assistir as competições na arena. Meu pai se sentou ao meu lado, observando tudo ao redor.
– Onde está Duncan, meu pai?-- perguntei, lhe oferecendo um copo de uísque.-- pensei que viesse.
– Ele quis ficar. Ainda está se inteirando dos assuntos do clã. Foi um pouco inesperado, o que aconteceu em sua vida.
Eu pensei um pouco.
Eleanor estava recebendo os seus amigos aliados, seria um grande evento que mostraria a toda Escócia que o clã Grant possuía uma líder forte.
– e como ele está lidando com isso?-- insisti, querendo conversar com meu pai.
– bem, eu diria. Preferia que fosse você. Mas… estou satisfeito com Duncan.-- ele deu um gole em seu copo e me disse, murmurando:-- como estão as coisas por aqui? Uma festa dessa proporção significa que está indo bem.
– sim. Eu tenho todo o preparo para cuidar de um clã, meu pai. Estou sendo muito útil aqui– eu respondi, sorrindo.
– mas quem senta na cadeira é Eleanor.
– mas é claro.
– alguns diriam que é um homem frouxo, meu filho. Mas, eu digo que é justo. E louco de amor.
Eu não pude segurar o riso. E depois disse, bem mais sério que o habitual.
– não posso dizer que não estou feliz. Mas não posso negar que sinto falta de minha vida.
– era de se esperar, Aiden. Mas logo você se acostuma.
– eu espero.
Ficamos em silêncio, bebendo em nossos copos, assistindo a movimentação do recinto. Não iria demorar para a grande abertura, a fogueira já estava montada e os criados corriam de um lado para o outro, na organização.
Eleanor retornou a nossa tenda.
– finalmente recebi a todos. Creio que agora estou livre de obrigações – ela comentou, sentando em sua cadeira, depois se voltou a meu pai – como estão as coisas no clã Mackenzie, lorde Alistair?
– um deleite. Espero que, em breve, façam uma visita.-- meu pai respondeu, forçando um sorriso.
Eu percebi que havia algo estranho nele.
Não demorou muito e o orador iniciou o Evento, agradecendo os presentes e falando sobre os jogos que teríamos naquela semana. Logo depois passou a palavra a Eleanor que ordenou que acendesse a grande fogueira, dando o início oficial dos Jogos do Clã Grant.
As chamas rapidamente tomaram conta do amontoado de madeira, liberando uma tocha de fumaça que seria visto há milhas dali.
Os músicos tocavam e as pessoas gritavam, a euforia invadiu o lugar.
O povo daquele lugar tinha sido cruelmente levado sob o jugo de Nolan, que trouxe altos impostos e uma miséria sem tamanho, além de rixas com clãs vizinhos e uma ditadura pesada.
Aquele festival trazia um lampejo de esperança e a mensagem de que tudo passa e as coisas finalmente melhoraram.
Os combates de espada e as corridas de cavalo foram bem competitivos. Assistimos a todas as modalidades do dia e a festa foi acabar já era madrugada. Todos se recolheram, pois na tarde seguinte haveria muito mais.
Meu pai foi com sua caravana para nosso Castelo, era nosso convidado especial.
Alguns líderes vizinhos compareceram, mas eu nem fiz questão de acompanhá-los, pois preferia ficar com meu pai.
Nos recolhemos já eram altas horas.
Mas a noite foi curta, pois logo pela manhã, tivemos que estar acordados para receber os convidados para o desjejum.
Sentamos no salão de refeição.
Meu pai ao meu lado, ainda estranho.
Enquanto Eleanor dava atenção aos seus convidados, eu me aproximei para conversar melhor com ele.
– meu pai.
– diga, Aiden.-- ele respondeu, e depois deu uma colherada no mingau de aveia.
– estou preocupado com algo, me parece que o senhor está incomodado.
Ele parou de comer para me encarar.
– por que diz isso, Aiden?
– não sei, tem agido estranho.
– Aiden, quanto tempo faz que veio para cá?
– algumas semanas. Três meses e alguns dias.
– faz muito tempo, não é? Na verdade, meu filho, eu vim para ver como vocês estão.
– estamos bem. Eu e Eleanor…
– ela está grávida, meu filho?-- ele me interrompeu, sério.
Eu fiquei mudo.
– você se ausentou do clã com a condição de que seu filho retornaria para Leod, ficando no seu lugar. Mas você está casado há quase um ano. E até agora nada. Você é meu herdeiro direto. Eleanor se assenta na cadeira. Você sabe o que falta nessa história? Herdeiros!-- meu pai disparou, com certa impaciência.
Meu coração dentro de mim errou as batidas, senti minha boca secar. Não sabia o que dizer a ele.
– bom,-- finalmente respondi, dando uma risadinha para quebrar o gelo – falta de tentar não é.
– isso não é brincadeira.-- ele continuou com seriedade.-- imaginei que chegaria aqui e seria recebido com uma notícia de um bebê a caminho. Bebê Grant Mackenzie. Mas aparentemente, isso não preocupa a nenhum de vocês.
Eu me calei, sentindo uma pontada de raiva surgir.
– você precisa tomar uma atitude, Aiden.
– e eu vou fazer o que?-- me irritei – eu sei colocar meu pênis no lugar correto e fazer o que tem que ser feito.
Seu rosto corou, mas eu não iria aguentar aquilo calado.
– se não veio nenhum bebê, não é por falta de tentar.
– pois então, meu filho, você está fazendo sua parte. Se Eleanor não é capaz de te dar um herdeiro, ela não é a mulher ideal para você.
Eu me assustei. Meu pai tinha me apoiado tanto, parecia compreender meu amor por Eleanor e tudo que eu estava disposto a fazer por ela. De repente, ele estava me dizendo aquelas coisas sem sentido.
– não é a mulher ideal para mim? Não se esqueça de que foi você que me obrigou a casar com ela!-- exclamei, irritado.
Talvez as pessoas das mesas ao lado tinham escutado, mas eu não me importei.
– vamos conversar em um lugar mais reservado.
Meu pai se levantou, afastando o prato.
Caminhei pelo castelo indo até seus aposentos. Fechei a porta atrás de mim.
– o que quer conversar em um lugar apropriado, meu pai?-- questionei, nervoso.
– você não pensa, quando diz por aí que eu te obriguei a se casar com a senhora desse lugar?-- meu pai rebateu, se alterando.
– mas obrigou mesmo! Eu estava bem e feliz com Ophelia, seguindo minha vida de herdeiro. O senhor fez uma aliança com o maluco do Nolan e agora onde estou?
– era para você estar em casa! Com ela! Eu não contava que Nolan iria se matar! E acabar matando seus outros três herdeiros! Deixando apenas Eleanor para cuidar desse clã sem futuro!
– veja como fala desse lugar!-- eu o repreendi, surpreendentemente me ofendendo pela forma que ele falou sobre os clã Grant.
– eu não me importo com nada disso! Eu te preparei para ser meu herdeiro, Aiden! Para ficar no meu lugar! Eu quero você ao meu lado!
– não venha dar uma de coitado agora, meu pai. Na hora de me obrigar a me casar com uma estranha, o senhor foi bem autoritário! Me trancou por um mês no quarto com uma completa estranha com a missão de fazer um herdeiro! – eu despejei, sentindo um alívio sair de mim – pois veja só onde suas ações me levaram!
– você só tinha que fazer um filho nela! Só isso! Um bebê Grant Mackenzie!
Então eu entendi.
Meu pai só queria um herdeiro com o sangue dos dois clãs, dos dois povos. Para que no futuro viessem a se fundir.
Grant Mackenzie seria um clã poderoso, imenso. Visto que as fronteiras dos Grant não podiam ser vistas a olho nu para nenhuma das direções. A união dos exércitos e povos fariam uma grande potência.
Meu pai não estava se importando muito se eu estava feliz ou não.
Quando Nolan Grant morreu junto com os outros possíveis herdeiros, ele viu uma oportunidade de união que não podia deixar passar.
Era óbvio que seria a longo prazo. Não seria ele e muito menos Eleanor a fazer essa proeza.
Mas uma criança com o sangue Grant e Mackenzie tinha o poder de fazer isso. E meu pai era um estrategista magistral.
Eu o olhei e ele percebeu que eu havia entendido.
– Um bebê Grant Mackenzie?-- eu perguntei, com a raiva crescendo dentro de mim.
– oh, Aiden, não seja ingênuo. Essa é a oportunidade que nunca mais teremos.
– eu pensei que quisesse me ver feliz.
– e eu quero! Quero você de volta ao nosso Castelo, cuidando do seu trabalho. Quero que tenha em mente que um futuro brilhante espera o nosso povo!
– eu não imaginava que o senhor fosse capaz disso…– desabafei, me sentindo traído.
– Aiden. Meu filho.-- ele falou, se aproximando – eu fiz isso pelo bem do povo.
– e eu? Não pensou em como eu me sentiria?
– como assim? Está sendo um sacrifício para você ficar aqui trepando com ela? Vai ser um sacrifício ter um filho? Não seja ridículo!
Eu não quis mais responder. Apenas lhe dei as costas.
Caminhei sem rumo pelo Castelo, sentindo um vazio tomar conta de mim.
Tudo que eu acreditava era mentira. Meu pai não estava me apoiando porque me amava e queria minha felicidade. Ele tinha um plano para o futuro e esse plano dependia de que eu tivesse um filho com Eleanor, custe o que custar.
Retornei ao salão de refeição e Eleanor estava com seus convidados, totalmente a mercê do que havia acontecido. E eu nem podia falar com ela sobre o que tinha acontecido, pois eu tinha omitido a condição do herdeiro para ela.
Forcei um sorriso e me fiz de um bom anfitrião.
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Sob as Regras do Clã
ChickLitAiden Mackenzie é o futuro líder de seu Clã, braço direito de seu pai, criado e preparado para liderar. Educado sob as regras de seu pai, fazendo o que for preciso para assegurar o melhor para seu povo. Eleanor Grant é uma viúva, filha do líder do C...