Capítulo 25

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Conforme as semanas iam passando, o outono se aproximava. Trazendo consigo ventos e chuvas impiedosas. Havia muito trabalho por todo o Clã e começamos a receber os impostos.
  As colheitas terminaram de vez e o clã estava abastecido para o inverno.
  Diferente do ano anterior, havia lenha e mantimentos para manter o povo seguro, abrigado e bem alimentado. Só por isso, a população já era extremamente grata.
  Entretanto, não era só isso.
  Quando a barriga de Eleanor ficou evidente, logo a animação tomou conta do Castelo e das cidades vizinhas.
  Todas as noites, enquanto ela dormia, eu levantava o cobertor para analisar de perto a casinha do meu bebê. Onde ele estava sendo gerado.
  Aos poucos, sua silhueta se modificou para abrigar aquela criança.
  E conforme os dias se passavam, ela ficava mais radiante. Seus cabelos criaram um brilho indescritível, sua pele também. Eu olhava para ela como um bobo, admirando toda sua beleza.
  Eleanor ficava incomodada, por conta de toda minha admiração. Eu não podia ver ela se despindo que corria para assistir seu corpo escultural.
  A experiência da gravidez estava sendo deslumbrante.
  Era uma sexta-feira, o frio estava aumentando e todo o castelo estava se recolhendo ao pôr do sol. A chuva caía sem piedade e tudo que podíamos fazer era ficar assistindo pela janela.
  – estou aliviada por saber que meu povo não vai morrer de frio nem de fome – ela comentou, se aproximando de mim com uma tigela cheia de uvas.
  – está comendo de novo?-- eu brinquei, enlaçando sua cintura, que agora tinha uma circunferência maior.-- você, pelo visto, não morreria de fome de maneira alguma!
  – oh, Aiden, não seja grosso!-- ela fez um bico – eu preciso comer bastante para que o bebê nasça cheio de saúde.
  – Lea, querida, você pode comer tudo o que quiser. Sabe que eu estou brincando… você está autorizada a fazer tudo o que quiser.
  Ela sorriu e beijou minha bochecha.
  – o que tanto olha pela janela, querido?-- ela perguntou, entretida.
  – estou pensando que hoje fazemos um ano de casados.
  Ela ficou surpresa.
  – é verdade! Quinze de setembro!-- ela exclamou, me beijando apaixonada – já faz um ano!
  – sim, querida… feliz aniversário para nós.
  – não estava chovendo assim, quando nós casamos…
  – não, estava tudo meio alaranjado, tinha neblina e fazia frio de madrugada.
  – as chuvas chegaram cedo esse ano!
  – ainda bem que já estamos preparados desde já. Nesses próximos dois meses, precisamos colher o feno e a alfafa para as criações.
  – você já delegou essas tarefas para os encarregados, meu bem.
  Sim, ela tinha razão.
  No ano anterior, foi tudo uma tribulação e um sacrifício para manter o povo vivo. Eu estava meio traumatizado e ansioso para evitar que acontecesse de novo.
  Ela foi até a lareira, sentou na poltrona e colocou os pés sobre um banquinho.
  – Aiden, venha cá.-- ela me chamou e eu prontamente obedeci – coloque sua mão bem aqui
  Ela conduziu minha mão até a lateral de seu umbigo, fiquei tão imóvel que nem respirei. Então senti um movimento de dentro de seu ventre. Como as asas de um pássaro se estimulou sob minha mão.
  Era real. Mais real do que nunca.
  Tinha uma criança dentro dela.
  – oh, meu Deus!-- exclamei, emocionado – é como as asas de um pássaro!
  – no início eram como asas de borboleta, mexiam levemente às vezes. Agora já está mais forte e dá pra sentir de fora.-- ela sussurrou, me olhando nos olhos
  – nem posso acreditar que estou sentindo nosso filho se mexer!
  – eu acho que é uma menina, Aiden.
  Me surpreendi, abrindo minha boca.
  – não me diga!
  – não me peça para explicar. Mas eu sinto que é uma menina.
  Inclinei minha cabeça em seu ventre.
  – você é uma garotinha?-- perguntei, emocionado – se for uma garotinha, eu já tenho um nome para você!
  – ah, é mesmo?-- Eleanor perguntou, curiosa.
  – Aderyn.
  – o que significa?
  – Pássaro. Quando ela se moveu e eu senti, foi como as asas de um passarinho.
  – é um nome lindo. Aderyn.--Eleanor repetiu o nome, sorridente.-- creio que vai combinar muito bem.
  – sim! Vai ser uma menina esperta como você!
  – e ruiva como você – ela completou, passando as mãos entre meus cabelos.
  – eu estou tão completo, com vocês aqui.-- comentei, segurando suas mão junto ao meu peito.
  – eu também, Aiden.
  Ela me beijou lentamente.
  – já comunicou seu pai sobre a gravidez?-- ela perguntou de repente, me fazendo gelar. – quero dizer, a notícia está se espalhando pelo clã. Logo ele vai saber.
  – Bom, prefiro comunicar logo após o nascimento.-- falei, tentando afastar a onda de ansiedade que se apoderou de mim.
  – acha que ele vai lidar bem, se for uma menina?-- preocupou -se Eleanor, acariciando a barriga novamente.
  – não podemos fingir que é o contrário das expectativas. Esse ainda é o mundo em que vivemos.
  – ela será minha sucessora. Sem nenhum problema. Estará na linha de sucessão. E ninguém passará em seu lugar.
  – como quiser, minha querida.
  – como vai ficar a situação em seu clã?
  Eu gelei novamente.
  – como assim?
  – você sabe, você é o herdeiro de seu pai, mesmo com Duncan, você ainda é o primeiro na sucessão.
  – eu não quero pensar nisso agora. Afinal, eu vivo aqui agora.
  – você não pode fingir que não é um Mackenzie, Aiden. Seu pai ainda vive, e quando ele deixar de viver, a responsabilidade com o clã vai ser de quem?
  Eu senti meu coração disparar, precisava dizer a ela. Mas tinha muito medo de sua reação.
  – Você vai permitir que Duncan fique no seu lugar?-- ela continuou, me poupando de dizer alguma coisa – ele é um guerreiro exemplar. Seria um excelente líder.
  – sim, seria.-- respondi, me levantando para buscar um copo de água, precisava mudar de assunto – quer água, querida? Precisa beber muita água.
  – quero sim, obrigada. O problema vai ser me levantar dez vezes durante a noite para fazer xixi.
  Eu dei uma risada e lhe entreguei o copo.
  – temos um nome: se for menina, se for menino, você escolhe.
  – não tenho pensado muito sobre isso. Pensei em Hugh ou Kendrick.
  – isso é o melhor que se pode fazer?-- perguntei, rindo.
  – não seja cruel. É mais difícil do que parece.
  – não é não. Eu pensei em Aderyn em segundos.
  Ela me deu um tapinha no peito, levemente irritada. Ficou pensativa por alguns instantes e depois disse:
  – Archie.
  – gostei.
  – verdadeiro. Essa criança veio do que é verdadeiro entre nós. Embora estamos casados há um ano, Aiden, esse bebê só veio depois que aprendemos a amar verdadeiramente.
  Eu a beijei com ternura. E uma pitada de culpa.
  Ainda assim era terrivelmente apaixonado por ela. Me sentia verdadeiramente apaixonado por ela. Eleanor e aquela criança eram as coisas mais importantes que eu possuía.

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