Passou os primeiros dias de vida de Aderyn.
Ela mamava muito bem e era uma criança bem tranquila. As criadas eram apaixonadas por ela.
Logo ela fez quinze dias e tivemos a missa para batizar e apresentar Aderyn ao povo.
A notícia do seu nascimento foi bem recebida entre o povo, ninguém ousou comentar nada sobre ser uma menina. Era uma alegria e ponto.
Eu comecei a redigir uma carta para meu pai mas, infelizmente, não fui capaz de terminar. Precisava de inspiração, coisa que me faltava naquele momento.
Então ali, naquela manhã, na igreja, enquanto o padre batizava minha filha, eu pude ver meu pai e seus homens chegando e se acomodando nos fundos da igreja.
Meu corpo travou e eu gelei, não consegui pensar em nada além do desespero que senti. Meu pai estava ali na igreja para o batizado de Aderyn!
Toda celebração foi gloriosa, houve muita alegria entre os presentes e quando o padre despediu o povo, meu pai caminhou entre as pessoas para vir até nós, no altar.
– Pensei que receberia o convite para o batizado de minha primeira neta – ele disse, fazendo com que Eleanor me olhasse com grandes olhos assustados, ela imaginava que eu tinha convidado – mas não tem problema, sei que a chegada de um bebê é muito alvoroçada para um casal.
Meu pai estava trajado como um líder escocês, acompanhado de alguns homens de confiança.
– eu sinto muito, meu pai. Mas como disse, a chegada de um filho deixa nossa cabeça a mil – falei, disfarçando, e colocando o braço em torno de Eleanor, que segurava Aderyn.
– não tem problema, meu filho. O que importa é que eu estou aqui. Como você está, Eleanor?
– estou bem, obrigada, lorde Mackenzie. E eu sinto muito por não ter avisado. Alguns criados foram encarregados de enviar as cartas, algo deve ter dado errado.-- ela se desculpou, elegante como sempre.
– não se preocupe,querida. Agora, se me permite, gostaria de conhecer minha neta.-- ele falou, despreocupado.
Eleanor mostrou-lhe Aderyn, que estava enrolada em uma manta branca toda bordada, sua pele rosada e seus cabelos avermelhados se destacavam nos braços de sua mãe.
– oh, céus! É a criança mais bonita que eu já vi!-- ele exclamou, encantado, colocando uma mão em meu ombro– olha essa cabeleira ruiva! Puxou a você, Aiden! Parabéns pela linda filha!
– obrigado, meu pai. Venha cear conosco!
– eu fico grato.
Caminhamos até fora da igreja e logo embarcamos na carruagem para voltarmos para o Castelo.
Meu pai não disse muita coisa no caminho, apenas elogiou Aderyn diversas vezes. Foi como se nossa discussão nunca tivesse existido.
Tinham preparado uma ceia digna de um rei no almoço, recebemos os nossos convidados e meu pai não saiu de nosso lado.
A chegada de Aderyn marcava fielmente a Era Eleanor no Clã Grant, pondo fim e um tempo de pobreza e miséria, guerras e tristeza. O Clã estava em paz e havia alegria, apesar das dificuldades que enfrentamos.
O fato de ela ter nascido junto com o sol ilustrava bem este significado. Coisa que contamos a todos, enaltecendo o nascimento de nossa filha.
Logo após termos despedido nossos convidados, deixei meu pai com Eleanor para resolver alguns assuntos do clã com os conselheiros. Em sua ausência, era necessário fiscalizar de perto o trabalho de cada um.
Não demorei muito, mas quando retornei aos nossos aposentos, me surpreendi com ambos sentados junto a lareira, admirando Aderyn.
– oh, já retornou, Aiden!-- exclamou meu pai, surpreso.
– sim, interrompi algo?-- brinquei, me aproximando deles.
Aderyn dormia tranquilamente nos braços de Eleanor, provavelmente após mamar bastante.
– estava dizendo a Eleanor sobre como Aderyn será uma excelente herdeira do clã Mackenzie – ele comentou, despreocupado.
Meus olhos procuraram os de Eleanor, cuja expressão de decepção disfarçada me causou um frio na barriga.
– ah, é?-- falei, sendo cauteloso.
– se pensava que só por conta de ser uma menina, eu não iria requerer sua parte no acordo, pensou errado. Eu não me importo com o sexo do seu filho. Só quero garantir que sempre tenha um Mackenzie para governar o povo.
Conforme ele falava, minha agonia aumentava. Quando ele terminou de falar, Eleanor me encarava sem dizer nada e eu não sabia o que dizer.
– pois é, meu pai.
– bom, eu vou deixar vocês descansarem. Fique bem, Eleanor. Com licença.
Meu pai nos deixou a sós e quando a porta fechou, Eleanor apenas se levantou e foi em direção ao quarto.
Eu a segui em silêncio.
Ela colocou Aderyn no berço cuidadosamente e disse, bem calma:
– quando pretendia me dizer que seu pai exigia nosso primeiro filho na linha de sucessão de seu clã, em troca de você vir viver aqui?
– eu sei, eu sei… deveria ter te contado.
– sim, deveria. Ele não deixou você vir aqui a toa, não é mesmo?-- ela perguntou, colocando as mãos na cintura – Quando você veio viver comigo, Aiden, já tinha em mente ter um filho comigo para unificar nossos clãs?
Quando mais ela falava, mais arrependido, por não ter contado a ela, eu ficava. Não respondi, apenas sentei na beira da cama.
– Aiden, eu estou falando com você.-- ela falou, firme.
– bem, eu gostaria de te lembrar que você mesmo me disse que não podia ter filhos. Quando aceitei esse acordo, imaginei que nunca chegaria a acontecer isso! Muito menos que você fosse saber de tudo!-- me expliquei, sem saída.
– oh, puxa vida! Agora a culpa é minha por ter tido a Aderyn!-- ela exclamou, agitando os ombros, sarcástica.
– não foi isso que eu disse, Lea.
– você faz um acordo com seu pai, prometendo que nosso primeiro filho seria herdeiro do clã em seu lugar, sem me comunicar. E depois diz que isso nunca aconteceria, pois eu acreditava que não teríamos filhos. Agora eu fico sabendo disso tudo por seu pai.
– sim. Eu deveria ter te contado. Mas não encontrei um bom momento para isso.-- argumentei, me colocando na defensiva.
– como não? Você podia ter me dito quando veio para cá, não tinha problema nenhum nisso. Também poderia ter me dito quando eu te contei que estava grávida ou em qualquer momento dos nove meses que passei gerando Aderyn. Você teve tempo de sobra para me contar.
– eu sei, eu sei – concordei, me dando por rendido – eu deveria ter te contado sim. Mas quando vim para cá, eu aceitei tudo que fosse necessário para ficar contigo. Eu não me importava com qualquer condição. Meu pai se aproveitou do estado miserável em que eu estava, quando você veio embora e me deixou lá!-- eu exclamei, me exaltando um pouco – eu não deveria ter aceitado este acordo sem ter conversado contigo antes e peço desculpas por isso.
Eleanor apenas me escutou, sem dizer nenhuma palavra. Acredito que o que ela queria ouvir era um pedido de desculpas.
– eu realmente acreditava que não teríamos que nos preocupar com esse acordo, pois não imaginava jamais ter filhos. Por isso, quando me anunciou a gravidez, eu fiquei tão atônito. Era uma realidade distante para mim. Mas agora Aderyn está aqui – eu disse, apontando para ela no berço – e nada disso importa.
– eu te disse que queria que ela ficasse no meu lugar. Era importante para mim – ela se lamentou, se aproximando de mim.
Eleanor estava muito sensível. Era um período delicado e eu sabia que ela estava frágil. Não adiantava nada, eu brigar e xingar, deixando ela alterada. Ela estava de resguardo, precisava se resguardar de todos sentimentos ruins.
– Querida, me escuta – eu falei, segurando em seus ombros e trazendo-a para perto de mim – não cabe a nós decidir o futuro de Aderyn. Nós dois tivemos nossos destinos traçados por terceiros e, só nós sabemos tudo que tivemos que abrir mão. Eu escolho deixar que ela escolha o que quer fazer.
Eleanor olhou para a filha no berço e depois olhou para mim.
– você promete?-- ela choramingou, sensível.
– prometo. Aderyn não será obrigada a se casar com ninguém. Nem assumir um Clã que ela não queira. Ela será dona de si.
Ela reclinou a cabeça no meu peito.
– ela está na linha de sucessão de dois clãs poderosos. E poderá escolher qual deles vai comandar.-- eu continuei – será uma mulher sábia e independente, assim como a mãe.
– obrigada, Aiden – ela sussurrou, e eu percebi que ela chorava baixinho.
Ficamos ali, nós três. Éramos uma família. E eu faria de tudo pelo bem da minha família.
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Sob as Regras do Clã
ChickLitAiden Mackenzie é o futuro líder de seu Clã, braço direito de seu pai, criado e preparado para liderar. Educado sob as regras de seu pai, fazendo o que for preciso para assegurar o melhor para seu povo. Eleanor Grant é uma viúva, filha do líder do C...