Aquele ano terminou e o Ano novo iniciou com neve e muito trabalho pela frente. Os dias que se seguiram foram cheios de trabalho. Levei meus homens e alguns camponeses para a floresta na intenção de conseguir o máximo de lenha que pudesse. Também conseguimos alguns cervos.
Eleanor estava se dedicando a unir o povo, oferecia jantares e abrigo durante a noite, para evitar que os mais necessitados perecessem.
Ela estava confiante no seu trabalho, principalmente quando recebia resposta dos clãs rivais, aceitando a trégua no inverno.
Ninguém era idiota o bastante para guerrear em pleno inverno.
Tudo corria muito bem.
Meu pai permitiu que eu permanecesse ali até quando ela precisasse de mim. Seria um desafio, pois sentia muita falta do meu clã.
Eu sentia falta dos banquetes no salão, da música, das danças. Ali só havia fome e tristeza.
Não por falta de tentar, mas era difícil fazer o povo dançar. Afinal, não havia nenhum motivo para que comemorasse.
Os dias se passavam e aos poucos, as coisas melhoravam.
Era possível ter esperança no futuro.
Dois meses se passaram, e eu ainda era o braço direito de Eleanor ali. Houve certa resistência da parte dos mais patriarcais, principalmente quando ela permitiu que as mulheres se sentassem à mesa.
Porém, ninguém ousou enfrentar frente a frente. Podíamos ouvir cochichos pela cidade, mas ninguém disse nada pessoalmente.
Seria burrice.
Eleanor estava mantendo todos vivos, apesar de todas as dificuldades que havia por ali. Não seria nada inteligente ir contra um líder que estava salvando todos.
Faltando quatro semanas para a chegada da primavera, recebi uma mensagem de meu pai.
Aiden, meu filho,
Espero que esteja tudo dando certo com você e Eleanor. Também espero que o Clã sobreviveu ao inverno.
Mando essa mensagem, solicitando que volte. Acredito que tenha sido útil a Eleanor e ela consegue liderar sozinha de agora em diante.
Você, como meu braço direito, deve estar ao meu lado em nosso Clã. Te aguardo de volta.
Terminei de ler e reli mais algumas vezes.
Meu tempo ali tinha acabado, tinha feito um bom trabalho como braço direito dela. Porém, ainda não tinha conquistado sua afeição. Ela era tão indiferente a mim, quanto a qualquer outro homem.
Apesar dos meus esforços, nossa relação era apenas como de bons amigos e parceiros.
Recolhi minhas roupas e montei minha mala, pretendia retornar imediatamente para minha casa.
Com o inverno chegando ao fim, não havia mais neve e as pessoas já estavam voltando às suas atividades corriqueiras.
Haviam ovelhas nos pastos, lenhadores construindo e os camponeses preparavam o solo para as futuras plantações.
Eleanor estava colocando tudo nos eixos para recuperar o tempo perdido com a péssima administração de seu pai. Passava muito tempo em reunião com os responsáveis por cada departamento do Clã.
No jantar, eu me encontrei com ela.
Ainda era a dona de toda minha admiração e a cada dia, era mais capaz de me deixar perdido apenas entrando no mesmo cômodo que eu.
Ao me cumprimentar, tão gentil, sorrindo, fazia com que os meus sentidos ficassem a mil. Eu a imaginava nua em meus braços, me imaginava beijando seus lábios e seu pescoço.
Minha imaginação me fazia delirar.
Mas a realidade era que estávamos sentados frente a frente para o jantar.
– Jones me assegurou que Campbell não tem interesse nenhum em um conflito conosco, disse-lhe que vamos nos reunir logo após a primavera chegar.– ela comentou, entre uma garfada e outra.
Minha mente divagava entre meu desejo por ela e a mensagem que meu pai tinha enviado.
– Creio que ele saibam que eu os abominava tanto quanto eles.-- ela continuava a falar.-- não precisamos de nenhuma rixa com ninguém, quanto mais paz, melhor.
Eu mastigava em silêncio.
– você está bem, Aiden?-- ela interrompeu meus pensamentos.
– meu pai solicitou minha presença no clã. Devo retornar logo ao amanhecer.
– o que está dizendo?
– meu pai solicitou minha presença no meu clã e irei retornar logo ao amanhecer – eu repeti, firmemente.
– tão inesperado. Eu gostaria que ficasse.-- a expressão no seu olhar se tornou um misto de tristeza e decepção.
– já fiquei por tempo demais. Creio que seja mais do que capaz de seguir sozinha, de agora em diante.
– oh…– ele soltou o garfo e limpou o canto da boca com o guardanapo.-- você não irá retornar, não é?
Engoli em seco. Minha vontade era não partir. Mas se partisse, dificilmente retornaria.
– depende do que meu pai precisa que eu faça. Ele já está velho e eu preciso assumir meu papel.
– acredita mesmo que sou capaz de governar o Clã sozinha?
– você está governando há semanas e, eu diria que, está indo muito bem. Quero dizer: ninguém morreu de fome ou frio e não está em nenhuma guerra.-- eu disse, forçando um sorriso para aliviar o clima tenso que havia se instalado.
– mas isso foi graças a você, que está ao meu lado.
– não seja modesta… todos aqui sabem que é a pessoa ideal para guiar esse povo.
Ela sorriu de canto e baixou os olhos.
Um silêncio ensurdecedor surgiu entre nós e a tensão aumentou. Senti meu sangue ferver.
– eu não quero que vá, Aiden.-- ela finalmente disse.
– eu preciso ir.
– eu sei, mas…
– eu tenho um povo que precisa de mim. Assim como o seu precisa de você.
– você vai retornar?
– Eleanor…
– tudo bem, eu já entendi. – ela fez uma pausa, olhando para um ponto em seu prato, pensativa – Amanhã, pela manhã, vou fazer uma despedida para você. Em forma de agradecimento por tudo que fez pelo Clã Grant.
Eu concordei com a cabeça.
Ela deixou a mesa e eu fiquei só, olhando fixamente para onde estava sentada. Pensando em como tinha sido um covarde por não ter reclamado seus beijos e seu corpo, ali mesmo na mesa de jantar.
Fui me deitar ansioso. Queria retornar para meu clã, voltar para meu lar. Eleanor jamais olharia para mim com outros olhos, seria tolice pensar que ela iria me desejar.
Eleanor estava livre: era senhora de um clã e não precisava de ninguém. Tinha passado quatro anos casada e havia sofrido por uma vida inteira. Não havia motivo para ela passar o resto da vida comigo.
Eu tinha minhas obrigações com meu clã e não abriria mão. Ainda mais por alguém que não me correspondia.
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Sob as Regras do Clã
Chick-LitAiden Mackenzie é o futuro líder de seu Clã, braço direito de seu pai, criado e preparado para liderar. Educado sob as regras de seu pai, fazendo o que for preciso para assegurar o melhor para seu povo. Eleanor Grant é uma viúva, filha do líder do C...