Capítulo 26

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  O outono foi um pouco chuvoso, mas ainda assim conseguimos cumprir o cronograma de preparação para o inverno. Terminamos de formar o estoque de feno e alfafa, os caçadores tinham tido muito trabalho e quando a primeira nevasca caiu, eu pude suspirar aliviado.
  Era Natal.
  Eleanor ostentava sua barriga por onde passava. Todos paravam para olhar. No banquete de Natal, ela chamou a atenção de todos os presentes e o nosso bebê já estava ganhando mimos de Natal.
  Eu e meu pai não tínhamos trocado nenhuma carta, simplesmente estávamos de relações cortadas. Eu estava magoado por ter sido usado em seu plano e não queria que ele soubesse da gravidez de Eleanor.
  Mesmo sabendo que seria impossível esconder isso para sempre. Afinal, as luas da gravidez já estavam terminando, ainda naquele inverno nosso herdeiro iria nascer.
  Algumas curandeiras diziam que era fim de fevereiro e outras no início de março.
  Mas só nosso bom Deus podia dar a certeza.
  Quando nos recolhemos, sentamos juntos frente a lareira e conversamos sobre as expectativas para o inverno.
  Eleanor estava dedicada a tricotar o máximo possível para o enxoval do herdeiro. Pouco a pouco, ela passou suas funções para mim. Afinal, quando o bebê nascesse, ela queria cuidar dele pessoalmente.
  Precisava de alguém para ficar em seu lugar.
  Era uma honra poder ser seu homem de confiança. Ela confiava em mim mais do que em qualquer pessoa.
  E agora que o povo e o conselho do clã viram seu valor, Eleanor tinha homens a disposição dela para o que fosse necessário.
 
  O inverno foi rigoroso. Passou janeiro e chegou fevereiro, a barriga de Eleanor estava tão grande que parecia estar prestes a explodir.
  Ela deixou de atuar como a líder, deixando tudo que fosse trabalhoso demais em minhas mãos. Sorte a minha que eu sabia lidar com os conselheiros.
  Todos os dias, antes de dormir, eu sentia a criança mexendo e aquela altura de gravidez, seus movimentos pareciam mais trotes de cavalo do que asas de passarinho. Porém, minha escolha de nome continuava Aderyn.
  Conforme os dias de fevereiro iam passando, eu via a ansiedade de Eleanor para o parto. Ela separava lençóis e cobertores, preparou o pequeno berço e mandou lavar todas as roupas do bebê.
  As parteiras estavam em prontidão e a cada cólica, ela me olhava pedindo para que não a deixasse só.
  Mas era sempre um alarme falso.
  – É o terceiro alarme falso esse mês, querido – ela falou, na banheira de água fumegante.
  – Anna disse que o último mês é assim mesmo. Estamos muito ansiosos, por isso – comentei, fazendo uma breve massagem em seus pés. – seus tornozelo estão…
  – gordos como um porco! Eu sei!-- ela exclamou, tirando o pé de minhas mãos.
  – Anna também disse que esse inchaço é normal no fim da gravidez.-- eu disse, pegando seu pé novamente.
  Aquela banheira era perfeita para nós dois. A parteira Anna nos explicava tudo sobre gravidez e parto, então nos deu a dica de tomar banho na água quente.
  Visto que o inverno ainda nos castigava, ficar na água fumegante era um alívio.
  – você está tão ansioso quanto eu?-- ela perguntou, passando as mãos sobre sua grande barriga
  – mais do que você pensa.
  – temo que será um bebê muito grande.
  – não se preocupe, as parteiras estão preparadas para qualquer tamanho de bebê.
  – você diz isso porque não é de você que ele vai sair.
  Eu não pude evitar uma risada sincera.
  – Eleanor, poderíamos sair um pouco.
  – como assim? Sair para onde?
  – eu sei lá. Estamos trancados nesse Castelo desde o início do inverno. Todos aqui esperam ansiosamente pela chegada do bebê e eu acho que isso está atrapalhando um pouco…
  – você tem razão. Anna previu no final de fevereiro, hoje já é dia 28.
  – acho que deveríamos sair por aí, nós divertir um pouco. Sair desse ar do castelo.
  – boa ideia. Por favor, pense em onde podemos ir para arejar nossas mentes. E talvez assim, o bebê queira nascer.
  Eu prontamente obedeci.
  Sai da banheira quente e me vesti rapidamente. Precisava de um destino que nos deixasse relaxados e livres de ansiedade. Não tinha como o bebê nascer com o castelo todo em volta, todos cheios de ansiedade.

  Conversando com criados e soldados, descobri uma casa de veraneio de frente para um lago que estava descongelando, pela proximidade da primavera.
  Era um lugar fantástico, além de ter uma grande criação de ovelhas. Teríamos ali dias de paz e descanso antes da chegada do bebê.
  – fico grata, Aiden – ela disse, beijando-me – agora por favor, me leve daqui!
  – vamos fazer nossas malas. Fique ciente que seremos apenas nós dois.-- informei, me soltando de seus braços – não levaremos criados dessa vez.
  – oh, por que não?-- ela fez um bico.
  – estamos saindo daqui justamente porque precisamos de privacidade. Você quer Grettel ou Brianna atrás de você, perguntando como está o bebê a cada hora?
  – tem razão, eu não quero.
  – então vamos fazer boas malas e nos preparar para esses dias.
  Levamos três dias para montar as malas e organizar a carruagem que nos levaria até lá. Eleanor ficou muito animada e não teve mais nenhum alarme falso.
  A ideia de um descanso a dois no meio do nada fez bem a nós dois.
  Quando tudo finalmente estava embarcado, Eleanor quis fazer uma mala para o bebê também. Eu insisti que não era necessário mas ela disse, toda vermelha:
  – eu estou grávida, Aiden. E eu sempre tenho razão. Quero levar as coisas do bebê conosco. Imagine se ele nasce lá e não tenho nenhuma manta para enrolar ele?
  Eu não tinha argumentos contra isso. Na verdade tinha, mas não quis discutir, pois não é bom discutir com mulher grávida.
  Então, finalmente terminamos de embarcar tudo. Nossos servos nos levariam até a tal casa de veraneio. O frio tinha diminuído bastante, mas ainda era o inverno da Escócia.
  Por conta da neve na estrada, demoramos cerca de dois dias até chegar ao nosso destino. E Eleanor estava ficando profundamente arrependida de ter concordado nessa viagem.
  Seus tornozelos e pés estavam inchados e seu mau humor, por conta dos incômodos da gravidez, estava totalmente direcionado a mim.
  Fiquei muito grato quando pude ver a casa de veraneio no alto da colina.
  Toda de pedra, muito elegante com seu telhado de madeira e janelas viradas para a paisagem.
  Pela proximidade do lago, tinha uma massa de ar frio que dominava o lugar. Mas não era problema, pois a casa era muito bem construída e bem servida de lareiras.
  Quando entramos porta adentro, suspirei aliviado.
  – Oh, Aiden, que lugar aconchegante!-- ela exclamou, encontrando uma poltrona para se sentar – adorei esses tapetes!
  – eu também, meu bem. Vou acender as lareiras. Os servos vão descarregar nossas bagagens.
  – não se demore, pois quero andar pelo lugar, antes que o sol se ponha.
  – combinado.
  Deixei Eleanor analisando a sala e fui acender as lareiras. Deixei as chamas altas, para que, quando a noite chegasse, estivesse tudo quente e reconfortante.
  Os criados logo desceram as malas e suprimentos, passaríamos ali uma semana. Trouxemos bastante comida, afinal não podíamos deixar Eleanor com fome na reta final da gravidez.
  Logo espalhei frutas pela casa.
  E coloquei água para esquentar também. Eleanor merecia um longo banho quente, após a viagem cansativa.
  Retornei a sala e ela estava folheando um livro.
  – tudo pronto, querido?-- ela perguntou, quando seus olhos cruzaram os meus.
  – sim, minha senhora – eu respondi, puxando-a para um abraço, não muito apertado por conta da barriga.
  – sabe do que eu preciso agora?
  – não me diga que é um banho.
  – oh , você sempre sabe o que preciso, Aiden – ela sorriu, surpresa, e logo me deu um longo beijo. – temos esse lugar todo para nós, meu bem, não podemos perder tempo.
  Eu sorri maliciosamente.
  Mas ela apenas queria massagem durante o banho, e depois, nós caminhamos pela propriedade.
  Era uma bela propriedade.
  A neve estava descongelando, assim como o lago próximo dali. Então, a grama surgia trazendo um pouco de verde para a paisagem.
  O vento já havia diminuído consideravelmente, deixando o clima agradável,apesar do frio.
  Caminhamos de mãos dadas até que o cansaço nos venceu. Retornamos para a casa para um jantar tranquilo.
  Preparei um rápido purê com carne de carneiro e uma salada leve. Não demorou muito para que nós fôssemos dormir.
  Me aconcheguei no seu corpo até que dormíssemos juntos, enquanto o bebê mexia alegremente em seu ventre. O frio chegou de madrugada, mas não me importei, pois a lareira era excelente.

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