65. Eu vou estar aqui pra cuidar de você. (presente)

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Pov'Andrew.



Fiquei olhando Meredith subir as escadas até ela sumir de vista, e por mais um tempo naquela direção só para não encarar Liliana, eu amava minha mãe, os sentimentos que tinha relacionados a ela eram diferentes dos que sentia por Vicenzo, sentia pena da minha mãe e da sua fraqueza, mas não conseguia ter raiva por que sabia que ela era só outra vítima do sociopata que chamo de pai. Contra minha vontade a encarei e esperei por suas palavras, ficamos um tempo em silêncio até finalmente seus lábios se moverem, mas não saiu nada a princípio, eu já imaginava o que falaria.

- desculpa!

- veio aqui pra isso? - perguntei um tanto indignado e nada surpreso.

- vim aqui pra falar que eu sinto muito por tudo o que te aconteceu - tinha uma dor nos olhos dela, mas não me parecia culpa.

- você sabia que do caso deles? - essa era a pergunta que realmente me importava.

- não, não no início... Eu desconfiei, mas só tive certeza depois.

- quando foi esse depois?

- quando você foi pra clínica, eu os vi... Mas seu pai jurou que foi só uma algumas poucas vezes, que... Que não significou nada - sua fala saiu envergonhada - que era pra causa do câncer... Ele se sentia mal.

Eu lembro o quanto ele se sentia mal!

- como pôde perdoar ele?

- por vocês, para terem um pai - sua justificativa teria sido aceitável se o cara em questão fosse um bom homem.

- ele é um bosta - falei alto demais - ele me agrediu... que merda você queria? - perguntei frustrado, respirei fundo pra me acalmar, estava começando a ter dificuldades em controlar meu temperamento.

- por favor.

- por favor? Por favor??? Que ... - ia chamar um palavrão - EU TE PEDI POR FAVOR - minha voz saiu áspera e cheia de acusação.

- eu estava doente... Tentando sobreviver.

- é isso que fala pra si toda noite? Isso te ajuda a dormir quando lembra que jogou  um filho em uma clínica e não foi visitar?

Eu não queria acusar, mas era difícil.

- o que queria que eu fizesse.

- que tivesse sido a minha mãe.

- Andrew você precisava de ajuda - ela falou com sofrimento.

- eu também precisava de você, porra - gritei, eu não queria gritar - droga - tudo que eu não queria era fazer uma cena ali.

Olhei em direção as escadas e vi a figura imóvel de Meredith me encarando triste.

- eu precisava de você mãe, do seu abraço, de uma ligação que fosse dizendo que me amava...

- Andrew - Liliana se aproximou e eu me afastei - eu não sabia o que falar, eu estava doente... Também precisava de ajuda.

- doente! Eu sei... Eu sei, eu tentei me convencer disso, mas você não tava morta... Se não conseguia pegar a merda do telefone era só pedir pra alguém ligar... Eu precisava disso mãe.

- eu tô aqui agora filho - ela tentou se aproximar outra vez e tocar meu rosto, segurei seus pulsos para lhe afastar e falei devagar.

- você mandou eu esquecer a surra que seu marido me deu... Você o escolheu naquele dia... Você ignorou tudo o que me aconteceu... Você me deixou passar por isso sozinho...

- filho - Liliana chorava desesperada - eu te amo ... Eu sei que errei.

- eu também de amo mãe, mesmo você me deixando lá sozinho... eu te amo... Eu te perdoo por isso, mas eu nunca vou entender como pode me amar como diz e ainda estar com ele... Nunca vou aceitar que prefira viver essa vida medíocre.

- eu amo ele.

- como? - soltei seus pulsos rápido e me afastei o máximo que pude - como pode viver um casamento abusivo desse?

- seu pai nunca me bateu.

Virei devagar e encarei Liliana.

- existem vários tipos de agressões... Física, verbal e psicológica... Ele nunca te bateu ou gritou... Mas te manipulou pra aceitar uma traição... Pra, aceitar a agressão FÍSICA contra seu filho, te manipulou tanto que tá aqui tentando me fazer sentir culpa por me libertar dessa família.

- ele não me pediu pra vir.

- eu sei que não... Mas você acha que precisa disso... Mãe - me aproximei dela e toquei seu rosto - você é tão linda... E mesmo com seus erros, eu te amo... E eu sei que tentou fazer o melhor, mas o papai não te ama - as lágrimas dela caiam sem parar - ele não te ama - repeti - ele só não aceita perder, por isso ele precisa nos manipular, olha a sua volta... Por favor tira essa venda ilusório dos olhos e perceba que esse homem que você diz amar te humilhou, e destruiu seus filhos, a Carina gosta de garotas... Ela nunca quis ser advogada... E por mais que meus sobrinhos sejam uma coisa maravilhosa... É injusto... Angelo deixou Maggie e casou com Meredith por que o homem que diz nos amar não aceitou uma mulher negra na família, Angelo se tornou um manipulador como Vicenzo...

Liliana fechou os olhos com força.

- eu preferia ter morrido.... Eu ouvi meu pai transando com outra mulher... Ele me bateu... Me jogou em uma clínica sozinho... Que amor é esse que machuca tanto? Como pode viver com isso? Ver seus três filhos infelizes?

- Andrew por favor.

- até quando vai fingir que não vê isso? - a soltei.

- ele... Ele só tentou fazer o melhor.

- continua se enganando.... Talvez perceba a verdade quando um dia seus três filhos se matar... ou matar alguém.

- o que tá falando? Você não machucaria seu pai? - vi o pânico no olhar dela.

- nunca! Ele não vale apena... A morte seria fácil demais... se não se importa quero passar o máximo de tempo com quem realmente me importa.

- vale apena?

- o que?

- perder seu irmão?

- vale apena perder seu filho? - revidei, mas não houve resposta - Meredith é a coisa que eu mais amo no mundo, eu nunca mataria ninguém por mim, mas por ela sim... E pra sua pergunta: sim ela vale apena... Ela vale tudo o que eu fizer, por que ela foi a pessoa que me amou quando eu tava no fundo do poço, ela viu em mim algo bom, algo que valesse apena amar, Meredith foi a pessoa que me fez querer viver.

Liliana ficou calada então eu prossegui.

- todos os dia dos últimos anos eu quis muito morrer, mas mesmo quando ela não estava comigo era a razão pra eu não desistir... Eu só queria não ter desistido tão fácil... Sabe, se um dia você achar que merece ser feliz de verdade... eu vou estar aqui pra cuidar de você.

- eu sou feliz.

- tudo bem, só lembra disso.


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