34. A conversa vai ser longa. (presente)

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Estava saindo do táxi quando meu celular começou a tocar, olhei o número desconhecido, paguei a corrida e peguei minha mala, atendi a ligação parada na calçada do prédio onde Andrew morava, havia passado a noite e parte do dia em um avião, estava cansada com fome e pouca para ver a cara de Andrew, possivelmente ele não entenderia nada.

Ligação on.

- alô? Quem fala? - perguntei.

- sou eu! - duas palavras foi o que precisei para saber que era ele, a voz de Andrew saiu pelo aparelho.

- Andrew? Oi - sorri para o celular, parecia uma boa coincidência.

- oi! Como você está? - sua pergunta saiu nervosa.

- bem! Eu acho que bem, mas não me ligou pra saber se estou bem - questionei divertida, Andrew parecia sem jeito.

- não! Cheguei em casa ontem umas dez da noite, dormi a noite toda e só acordei agora.

- e me ligou pra contar isso? - não conseguia parar de rir.

- não, é que estou nervoso - adimiti - eu preciso... - ele respirou fundo.

- pode falar Andrew, nos sempre falamos de tudo... Isso mudou?

- tô escovando os dentes.

- sério? O que mais? - eu estava quase gargalhando, amava ouvir Andrew nervoso, olhei para cima vendo as sacadas dos prédios contando 26 andares, ele deveria estar em algumas daquelas sacadas.

- tô com fome... Acho que faz umas 26 horas que não como, minhas costas doem da viagem, meu cabelo tá bagunçado.

- o que mais?

- lembrei agora que não tem comida em casa, então vou ter que sair pra comer, e tá frio aqui, tô me sentindo solitário, uma pessoa me falou que deveria te ligar e falar que te amo! - e ele soltou a última coisa que esperava ouvir.

- Andrew?

- desculpa por isso.

Ligação off.

- Andrew? Oi? - olhei a tela do celular - ele desligou?

Olhei para o celular que estava tocando outra vez, quando ia atender ouvi alguém chamar meu nome.

- Meredith?

- Sam? É... - que grande merda, olhos a tela do aparelho e para ela, eu não poderia encontrar outra pessoa agora?

- oi! O que faz aqui?

- bom! ... Eu não sei como falar isso pra você - que coisa mais constrangedora, como falaria para ela que vim atrás de Andrew? Do namorado dela?

- quer falar com Andrew! - ela sacou.

- desculpa, eu sei que estão juntos - queria me enterrar bem agora.

- ah, isso? - ela começou a rir - não, eu tenho namorado, mas não é Andrew - sua palavras me pegaram de surpresa.

- o que? Espera... Ele mentiu?

- nos tivemos um lance, muito tempo atrás... Mas agora somos só amigos, então sim, só a parte que era eu a tal garota... Tinha mesmo uma namorada, mas eles terminaram, ela era chata demais tenho que falar.

- calma, isso tá muito confuso.

- ele só falou por que não queria que o achasse um trouxa - Sam explicou.

- eu nuca pensaria isso dele.

- eu falei, mas ele não me ouve... Vem, vamos subir?

- vai falar com ele também?

- não, eu moro aqui, na verdade foi eu que o forcei a alugar o apartamento, ele morava em um apartamento de merda com mais dois caras, era ridículo - o modo afetuoso que Sam falou de Andrew me deu uma pitada de ciúmes.

- você parece gostar muito dele.

- gosto, quase como um irmão, eu não tenho mãe, só pai, e ele não é muito presente... Andrew é um bom amigo.

- tudo bem.

Sam me guiou para de dentro do prédio e até o vigésimo terceiro andar, apartamento 203. Agora eu estava muito nervosa, só havia uma porta que me deparava de Andrew, olhei para ela.

- não vai desistir agora!

- não.

- meu apartamento é aquele - ela indicou - boa sorte.

- valeu.

Esperei Sam entrar no apartamento dela então bati, ouvi passos na casa e a voz abafada de Andrew falando "tô indo".

*****

Pov'Andrew.

Havia acabado de fazer uma merda, ligar para Meredith e desligar na sua cara, agora ela não atendia, sentei no sofá e fiquei pensando em todos os acontecimentos das últimas semanas, uma verdeira loucura, parecia que tudo o que evitei sentir nos últimos anos voltou a tona como se o fogo que estava brando tivesse sido eriçado e agora queimava forte.

Depois de pensar um pouco percebi que por hora eu só poderia resolver uma coisa: comer, ela poderia não ter atendido por vários motivos, incluindo o marido dela, levantei do sofá para poder me arrumar quando ouvi a batida na porta, só poderia ser Sam, ninguém subia sem ser anunciado.

- tô indo - falei alto e segui até a porta abri preparado para fazer uma piada, mas perdi a fala ao ver a loira parada na minha porta, linda como sempre, usando botas calça de couro, uma camisa preta por baixo de um casaco pesado, só lhe faltou o chapéu.

- sabia que é falta de educação desligar na cara dos outros? - seu tom era divertido.

- você aqui? Você está aqui mesmo? Pera! Por que?

Olhei para fora em busca de uma segunda pessoa, mas não havia, era só ela e uma mala, e eu sem saber o que fazer.

- preciso te contar uma coisa - Meredith parou de sorrir.

- entra - peguei a mala dela e a deixei entrar - estava indo me arrumar estou com fome.

- você falou na ligação - Meredith falava tranquilamente - se quiser pode se arrumar, também estou com fome.

- ok... Fica aqui, já volto.

Mesmo tendo a sensação de que possivelmente eu estaria alucinando deixei Meredith na sala e fui me arrumar, tentei não demorar, tirei a calça de um pijama e vesti calça moleton, uma camisa de algodão e por cima um casaco moletom, hoje não estava tão frio, calcei meus sapatos, tinha certeza que voltaria para sala e ela não estaria lá, nem a maconha me causou alucinações tão reais quanto aquela.

Peguei minha carteira, as chaves do carro e meu celular, entrei na sala na dúvida que veria Meredith, ok! Eu não ia precisar de terapia e sim de psiquiatra, Meredith não estava ali.

- eu pirei, fiquei doido de vez.

- pior do que era? - Meredith saiu da varanda.

- você está aqui!

- claro que sim! Tá achando que sou uma alucinação? - ela estava rindo animada.

- sim.

- você nunca foi criativo Andrew - Meredith chegou nem perto e pegou minha mão - sou de verdade.

- é, você é... Eu só não consigo entender por que está aqui!

Sai ontem de casa, e parecia que estava tudo bem, pelo menos no que se pode, tirando os detalhes sobre minha conversa com Angelo! Estava tudo ótimo.

- vamos comer, a conversa vai ser longa.

******

Ela foi atrás dele mesmo!

Ansiosa por essa conversa.

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