Conte-me mentiras

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As portas do elevador abriram e sai com passos largos e pesados pelo corredor da multinacional onde eu e Viserys éramos donos. Meu nome e cargo sempre fizeram parte da empresa, isso foi estipulado por nossos pais e mesmo Viserys me odiando não conseguiria mudar o meu direito em testamento.

Rhaenyra me acompanhava acelerando os passos tentando me alcançar. Contou com detalhes a conversa que teve com seu pai, mostrou as fotos e alegações sem fundamentos e não consegui conter a minha raiva.

Sem bater, entrei por impulso em sua sala deixando a porta chocar com força na parede. Os funcionários olhavam curiosos e alguns com um pouco de medo pela movimentação tentando entender quem era esse rapaz, chegando de repente, sem precisar ser anunciado.

Viserys estava sentado em sua cadeira presidencial ao telefone. Os olhos púrpura se arregalaram quando minhas mãos agarraram as golas de sua camisa branca amarrotada e ergui atingindo-o na parede, batendo grosseiramente e aproximando olho no olho com raiva.

— Eu nunca encostei em Aemma!

Rhaenyra estava um pouco atordoada com a cena, encostou suas mãos no batente da porta e tentava prestar atenção na conversa. Pelo vidro consegui visualizar Rhaenys correndo até a sala mandando todos os funcionários voltarem ao trabalho e fechando a porta em seguida. Eu, Viserys e Rhaenys éramos membros do conselho responsáveis pela empresa e todos teriam voz ativa para qualquer decisão.

— O que está acontecendo? — perguntava irritada — Aqui não é lugar para acertar a briga infantil de vocês.

Soltei Viserys ainda o fitando com um olhar zangado e frio.

— Viserys me acusa de um suposto relacionamento com Aemma.

— O QUÊ? — Rhaenys vira seu rosto, incrédula para meu irmão — Por que isso agora Viserys? É um desrespeito com a memória de Aemma.

— Desrespeito foi o que essa praga fez com o sangue do seu sangue. Uma traição sem pudor apunhalando meu peito — Viserys arrumava sua camisa tentando recuperar o fôlego — depois de um mês quando decidiu abandonar nossa família, percebi as saídas recorrentes de Aemma, então disponibilizei um segurança para vigiá-la, por medo de acontecer algo, pensando apenas em sua segurança. Então recebi as fotos dela entrando no condomínio do seu apartamento, e momentos juntos em um restaurante.

— Viserys você é um estúpido! — Rhaenys respondia irritada e raivosa, quase violenta para ser mais exato — Eu e Aemma ajudamos Daemon com a criança.

Rhaenyra parecia surpresa, piscando rapidamente enquanto me olhava. Estava visivelmente chateada por toda essa situação.

— Ele tinha 20 anos, com uma recém-nascida nos braços e você despachou longe de sua família.

— Eu não sou o culpado dessa situação, Daemon tinha uma ótima opção enviando a menina para um orfan...

— CALA BOCA VISERYS! — já vi Rhaenys de todos os jeitos, mas essa reação quase cometendo um assassinato era novo — Você não tem direito de falar nada. Eu e Aemma achamos absurda a sua decisão, mas ela não queria contrariá-lo, então teve a ideia de ajudá-lo em dias alternados.

Viserys me encarava com uma expressão enigmática.

— Isso é verdade Daemon?

— Agora você decide me ouvir? Você sabe a consideração que sempre tive por ela, e vocês finalmente se conheceram por que eu a apresentei. Acha mesmo que sou tão canalha ao ponto de trair você? — uma dor latejou em meu peito, estava exausto dessa situação.

Um silêncio incômodo preencheu a sala. Ofeguei cansado e caminhei até a porta sem dizer nenhuma palavra.

***

— Daemon, por favor não vai embora — Rhaenyra me seguiu até o elevador. Sua voz transmitia um sentimento de arrependimento, mas não estava com cabeça para qualquer conversa.

— Eu preciso organizar meus pensamentos Rhaenyra, aproveite esse tempo e decida o que realmente quer da sua vida.

— Eu vou decidir pelos dois agora mesmo — disse Rhaenys — já que ambos estão aqui em sua cidade natal, por que não passam o final de semana em casa? Corlys pergunta sempre de você Daemon e Laena ficaria feliz por sua companhia Rhaenyra.

Juntei as sobrancelhas pensativo. Queria apenas minha casa.

— Não tem opção primo, você vai, isso não é uma pergunta.

— Desde quando ficou tão mandona?

— Desde quando você nem tinha cabelos no saco, agora pare de ser ingrato e mexa essa bunda mole até o meu carro.

***

Rhaenys vivia próxima à praia devido à paixão de Corlys pelo mar, ele foi almirante por muitos anos e atualmente trabalha apenas com importação e exportação de especiarias.

— É uma miragem ou esse filho da puta finalmente veio me visitar? — disse Corlys abraçando com três tapas nas costas e uma risada estrondosa.

— Que recepção mais calorosa.

— Para caras de boceta igual você, merece a melhor das recepções.

Ele terminou a frase vislumbrando Rhaenyra.

— Eu não te vi Rhaenyra, me desculpe pelo linguajar — colocou as mãos na boca se sentindo envergonhado.

— Tudo bem, eu já escutei coisas piores, não precisa se desculpar — ela parecia estar deslocada depois de todos os acontecimentos recentes.

Analisei suas mãos mexendo ansiosamente os anéis dourados, era algo sutil, mas sabia que eram ações de desconforto no qual não conseguia evitar. Agarrei seus dedos, escondido enquanto conversava com Corlys tentando acalmar sua ansiedade e senti um tremor singelo da sua pele com o meu toque.

***

Passamos horas conversando do passado em sua biblioteca. Corlys contava sobre todas as viagens que fez quando estava ausente e parecia realmente animado por estar essa noite em sua casa.

— Certo, certo Corlys agora vá para a sala, preciso conversar com Daemon as sós — disse Rhaenys abrindo a porta sinalizando com a mão a sua saída.

— Você está me expulsando da minha própria casa meu amor?

— Estou sendo gentil ainda.

— Não case Daemon, elas te dominam e você não consegue fazer mais nada sem elas — levantou encarando Rhaenys enquanto saia fazendo-a soltar um sorriso tímido.

Nem casei e Rhaenyra já conseguia dominar todos os meus pensamentos.

Rhaenys se apoiou na mesa de madeira próxima à janela. Observava a paisagem noturna sentindo o vento gelado no rosto, esvoaçando seus cabelos pretos com mechas brancas.

— Então, você pode me explicar o que realmente está acontecendo? Já vi Viserys irritado com você, mas ao ponto de pensar que estava tendo um caso com Aemma e expor dessa maneira, é algo realmente grave.

— Ele está ficando velho, prima. Tenta encontrar justificativa para tudo de ruim que acontece na vida dele e seu esporte favorito é me culpar — não precisava contar sobre meus sentimentos por Rhaenyra, não gostaria de ser julgado agora.

— O motivo não seria você e Rhaenyra juntos então?

Como ela sabia? Fiquei parado olhando para ela tentando reformular uma resposta.

— Não sei do que está falando.

Parabéns Daemon, ótimo argumento.

— Não seja cínico Daemon, eu vi vocês entrando no banheiro no dia da festa. Viserys pode ser ingênuo, mas eu não.

— Eu... Tentei evitar — sorri lembrando do dia.

— Sim, você estava evitando tão bem que a puxou pelo braço e fechou a porta.

Passei as mãos pelos cabelos e queixo sorrindo.

— Daemon, Daemon... Você nem disfarça — ela se aproximou dando tapinhas nas costas e balançando a cabeça — não vou te julgar, nossa família é assim mesmo e vocês combinam. Dois caóticos que deixam Viserys de cabelo em pé — ela ri levemente.

Deixei a cabeça cair nas mãos esfregando meu rosto suspirando. 

— Não queria intensificar isso Rhaenys, mas ela mexeu comigo, tentei ao máximo não aprofundar...

— Você não deveria negar esses sentimentos Daemon. Deveria expressar isso para ela.

— Está pedindo demais.

Rhaenys ri tombando a cabeça para trás. Senta na cadeira e pega em minhas mãos carinhosamente. Ela parecia ser mais minha irmã do que o próprio Viserys.

— Eu acredito que você precisa engolir seu orgulho masculino e falar abertamente com ela.

— Não é tão fácil, preciso entender o que ela realmente quer e confiar em mim verdadeiramente.

Ela sorri.

— E nossa menina, como está? Ela sabe sobre mim?

— Claro, ela sabe tudo sobre você, só não se sente confortável em encontrar alguém da família é receosa e rancorosa. Tem que ir aos poucos.

Rhaenys se inclina encostando sua cabeça em meu ombro. De todos da família, ela é a única que considero mais próxima.

***

Eram 02h da manhã e não conseguia dormir. Desci até a varanda observando o movimento do mar e o céu limpo e estrelado. Não conversei com Rhaenyra em nenhum momento desde quando chegamos na casa de Rhaenys. Meus pensamentos estavam nebulosos e gostaria de organizá-los antes de qualquer conversa.

— Não consegue dormir também? — Rhaenyra apareceu encolhida devido ao frio e vento cortante da madrugada.

Usava um conjunto preto de moletom e os cabelos presos com um coque frouxo. Essa desgraçada era bonita mesmo dentro de um saco de batatas.

— Está frio demais para ficar aqui fora, sobrinha, deveria entrar antes que fique doente.

— Agora eu sou sobrinha? — seu olhar era sério e os lábios se fecharam não gostando da conversa — quando você sussurrava em cima de mim não era "sobrinha" que me chamava.

Ela sabia me provocar. Maldita garota atrevida.

— Eu não sei o que você é, confia cegamente em qualquer boato, não me dá uma oportunidade para se explicar.

— Como se você fosse o rei do diálogo né? Eu confesso que julguei mal e fui idiota às vezes.

— Às vezes?

Ela respirou alto se segurando para não me bater.

— Como não acreditar na história do meu pai? Você só me evitava no começo e tenho certeza que não era por ser meu tio. Tenha a decência de pelo menos me explicar.

— Eu não queria aprofundar nisso, pensava ser apenas um tesão passageiro.

— Mentiroso, se fosse apenas isso teria ficado comigo na primeira vez — ela se aproximou do meu rosto com a voz trêmula pela raiva — Diga de uma vez, por que me evitava?

— Por que eu sabia que me perderia em você! — gritei próximo do seu rosto.

Rhaenyra deu um passo para trás me analisando. Um sorriso preencheu seu rosto e me olhava maliciosamente.

— Eu gostei de ouvir isso.

— Você me irritou até começar a me expressar? — Arqueei a sobrancelha e franzi a testa.

— Sim, seu bobo — ela me deu um sorriso suave, se aproximando — e finalmente consegui.

A queimação em meu peito se intensificou com o seu olhar. Rhaenyra sabia como me domar. Fazia com tal maestria que mesmo sabendo da sua estratégia em me seduzir não conseguia escapar. Ela andou devagar, igual uma leoa querendo agarrar sua presa sem assustar para não fugir. O polegar e indicador pressionaram no meu queixo e com um puxão suave, levou minha boca até a dela.

O sabor sempre foi doce, intenso e viciante, era imediatamente consumido pela necessidade de ter mais.

Paramos para recuperar o fôlego. Tomei seu rosto com as mãos novamente e a beijei demoradamente abrindo a boca com as nossas línguas se esfregando.

— Vem para o meu quarto — disse puxando-a para dentro da casa.

***

Abri a porta devagar conduzindo-a para dentro. Andamos desajeitados, tropeçando enquanto tiramos nossas roupas.

— Tem certeza disso? Estamos na casa da Rhaenys. Não podemos fazer isso aqui — ela disse entre os beijos.

— É só você gemer baixinho — disse sussurrando mordendo seu pescoço — Pensar que podemos ser pegos a qualquer momento apenas deixa o sexo ainda melhor.

Seus olhos escureceram pela forma como falei, mordendo seu lábio inferior e me puxando pela cintura.

— Você é um cretino safado mesmo.

***

Espero que gostem e por favor deixem comentários, eu amo ler cada um deles. Me siga no Twitter: moneceles

Beijooos

Estranhos PrazeresOnde histórias criam vida. Descubra agora