A turnê não foi longa. Ficamos no máximo 52 dias viajando, cumprindo a agenda. Decidimos então deixar o último show perto de casa.
Tocamos para um grande público e tudo seguia como deveria ser com os rapazes. No camarim, passava a toalha ao redor do rosto para suavizar as gotas de suor pelas 2h em cima do palco e querendo apenas descansar.
— Vocês viram aquela ruiva peituda bem de frente da pista? — Erryk nosso baixista imitava o tamanho dos seios e fazendo o famoso gesto de "beijo do chefe".
— Quem não notou? Era maravilhosa dos pés à cabeça e o tamanho colossal daqueles peitos me fez imaginar tudo — respondeu Cregan arrumando suas baquetas.
Essas conversas não me importavam mais, minha mente estava ocupada com as mensagens de Rhaenyra pedindo para conversar sobre algo importante. O que seria afinal? Ela enfatizou não ser nada grave, para não se preocupar, mas precisava falar cara a cara. Difícil não pensar no pior com essa mensagem.
Assim você não ajuda Rhaenyra!
— Vamos encher a cara e finalmente se preparar para o último show da turnê amanhã e depois não preciso olhar a cara de vocês por um bom tempo — disse animado Cregan enquanto enrolava seus cabelos castanhos escuros em um rabo de cavalo baixo — Hoje boa parte de nossas admiráveis fãs estaram bebendo aqui ao lado. Aliás, Daemon tinha duas que não paravam de olhar para você, essas você nem precisa de muito esforço — terminou rindo.
— Não tenho interesse Cregan, por mim, podem fazer bom aproveito.
— O que acontece? — ele se aproximou e colocou a mão na testa — não está febril, mas está falando asneiras. Desde quando você recusa isso?
— Muita coisa mudou, ok? Não estou mais afim apenas...
— Alyn finalmente aconteceu!
— O quê? — surgiu Alyn enxugando as mãos com um sorriso travesso no rosto — Daemon menstruou? Parabéns, cara — deu tapinhas no braço para me provocar.
— Cala boca seu idiota! — respondi rindo revirando os olhos.
— Então que porra seria Cregan?
— Daemon está apaixonado.
— Não acredito! — Erryk e Alyn responderam na mesma hora.
— O nosso libertino está completamente domado...
— Um bando de idiotas, vão comer alguma boceta e me deixem em paz.
— Pelo visto ele ficou nervoso — riu Erryk chegando mais perto — se ficar nervosinho só piora.
— Vou fumar e ir para o hotel. Fodam-se vocês.
— Ui! A donzela ficou nervosa — Alyn respondeu com as mãos para o alto e provocando — Você precisava apresentá-la para nós. Não podemos deixar você ser iludido por qualquer uma.
Mostrei o dedo do meio com às duas mãos e então segui para o lado de fora e finalmente, fumar em paz. Acendi o cigarro encostando na parede e senti o alívio da nicotina e fumaça entrando nos meus pulmões. Fechei os olhos apreciando o vento daquela noite refrescando o corpo quente.
O que Rhaenyra queria? Não consigo ter paz imaginando todas as possibilidades dessa conversa. Se era apenas quando voltasse, por que diabos ela me avisou?
— Você ficou ainda mais bonito com o tempo.
Essa... voz... Estava mais rouca, mas eu conhecia essa voz.
Movimentei meu rosto para o lado, abrindo os olhos enquanto soltava a fumaça para longe. Então eu vi... A mulher com a pele escura reluzente e seus cabelos cacheados imensos caídos... Bem na minha frente, estava o motivo personificado da ruína que a minha vida se transformou.
— Oi Daemon — ela não mudou nada. Nett puxou os enormes olhos cheios de cílios dela. Esses malditos olhos castanhos, sempre me perdia neles.
— Como você ainda tem a coragem de aparecer?
— Eu sei que você tem todos os motivos para me odiar Dae, mas eu realmente preciso conversar com você.
— Eu não tenho nada para falar com você — eu queria sentir raiva, rancor, mas quando a vi depois de tantos anos, as malditas lembranças brotaram na minha mente. Infelizmente ela mexe comigo. Pouco, mas mexe. Isso aconteceria com qualquer um, ainda mais com o passado que tivemos.
— Dae, escute...
— É Daemon! Você não tem o direito de me chamar assim como se nada tivesse acontecido. Some da minha frente! — virei as costas jogando a bituca de cigarro no chão e seguindo a direção da porta.
— Falei com a nossa filha!
Agora a raiva apareceu.
— Minha filha, não sua, nunca foi! — voltei em sua direção me segurando para não cometer nenhuma loucura e esfregar a cara dela, no chão.
— Eu vou direto ao ponto — sua voz era firme — Estou doente Daemon, e queria apenas o seu perdão.
— Você merece todo o sofrimento do mundo e nunca vou te perdoar.
— Como pode? Você me amava! — disse, aproximando-se, não acreditando nas palavras que acabou de ouvir.
— SIM, EU AMEI! — angústia, seria a palavra para definir o que estava passando — E você conseguiu destruir tudo isso, eu não consigo expor meus sentimentos para quem realmente merece ouvi-los por que você acabou comigo por dentro — com ela meus sentimentos apareciam sem aviso, era como se despertasse uma raiva e dor por apenas estar bem ali, parada, se sentindo ainda com razão, depois de tudo.
— Eu nunca quis te machucar, mas me apaixonei por outra pessoa e não tive coragem de terminar tudo e decidi fugir.
— Você deixou uma criança recém-nascida nos meus braços e foi embora. Chega agora se encontrando com ela chamando de filha. Você não é nada, apenas um pedaço de lixo que não serve nem para adubo.
Seu semblante mudou na hora e ficou realmente abalada com os comentários.
— Ela nunca foi sua filha Daemon, não poderia cuidar dela, o pai nunca quis essa criança. Então apenas, deixei em suas mãos. Sua família é rica, poderosa, tem influência e pensei que deixaria em um orfanato. Porém você sempre foi dramático, apegado, e resolveu mesmo criar ela — rindo debochada tentando me ferir depois das farpas trocadas.
— Não me importo com o que você diz, quero apenas que desapareça e nunca mais chegue perto dela ou então não responderei por mim.
— Vai ser igual aquela vez que sentiu ciúmes? Que você quase matou aquele homem?
Ela estava preparada para soltar todas as injúrias da minha adolescência imprudente quando estavamos namorando. Tinha 19 anos, estava alterado devido ao álcool e reagi quando um cara tentou puxá-la a força. As cicatrizes dos meus punhos e outras que tenho no corpo, resultado de decisões estúpidas, estão cobertas pelas tatuagens.
— Você me conhece Alys, sabe do que sou capaz.
Sua postura alterou e moveu seus pés para trás se sentindo um pouco ameaçada.
— Daemon... Eu só queria o seu perdão. Estou arrependida de tudo e o universo resolveu me punir por escolhas erradas — olhava apenas para seus pés e os braços cruzados tentando se abraçar para consolar a si mesma — Nunca... Deveria ter te deixado.
Os olhos negros se encontraram com os meus e estremeci ao lembrar como me olhava antes.
— Não me importo com você!
Fui embora em direção ao hotel. Chegando ao meu quarto, caí pesadamente na cama colocando as mãos no rosto. A respiração estava acelerada e meus pensamentos confusos. Nesse momento só conseguia pensar em Rhaenyra.
***
Abri a porta do apartamento devagar. Era tarde da noite e Rhaenyra me esperaria. Encostei a guitarra perto da mesa e coloquei a mala no chão.
Rhaenyra estava deitada no sofá dormindo. Ela gostava de ficar encolhida com as mãos pressionadas entre as coxas. Agachei devagar olhando para o seu rosto. Os cabelos soltos espalhados nas costas e alguns fios caídos na pele macia das bochechas. As maçãs do rosto estavam coradas pelo calor aconchegante do cobertor. Era linda, passaria o dia inteiro olhando-a e não me cansaria.
Deslizei os dedos curvados pela pele macia do seu braço sentindo um leve arrepio pelo meu toque. Seus olhos púrpuras se abriram tentando entender quem estava na sua frente. Levou as mãos para os olhos esfregando até despertar do sono profundo.
— Daemon? Droga, queria estar acordada quando chegasse, que horas são? — estendeu seu braço tentando encontrar seu celular na mesinha próxima ao sofá.
— 01h da manhã — disse enquanto sentava na beirada do sofá — desculpe, era para chegar mais cedo, mas infelizmente o trânsito não colaborou.
— Tudo bem, o importante é você estar aqui — ela sentou ficando na mesma altura dos olhos.
Inclinei beijando-a com suavidade, passando o polegar na bochecha rosada. Rhaenyra envolveu seus braços ao redor do meu pescoço e senti acariciar a nuca devagar, viajando suas mãos pelos ombros, até chegar no tórax, se aproximando ainda mais. Eu precisava dela. Mais dos lábios macios e suspiros contidos que fazia enquanto saboreava e quando dei por mim, estava devorando sua boca, puxando-a para o meu colo. Queria senti-la ainda mais, ao redor do meu corpo, o calor da sua pele, as curvas dos seus quadris. Ela participava com a mesma devoção emitindo sons sedutores que me deixavam louco.
Paramos para recuperar o fôlego. Ela me olhava com intensidade, analisando minha boca, mordendo o lábio e tinha certeza que suas intenções não eram apenas de ficar nos beijos, mas precisava conversar com ela.
— Rhaenyra, o que você queria me contar?
Olhou fundo nos meus olhos e parou pensando em algo que não conseguia decifrar. Ela tinha essa mania de conversar consigo mesma, fingindo que ninguém ao redor perceberia.
— Rhaenyra? — tentei trazê-la de volta ao mundo real.
— Deixa isso pra outra hora... É algo, que consegui resolver — esfregava as mãos nos meus ombros tentando desviar a atenção da conversa.
— Não tem a ver com a mãe da Nett?
Seus olhos arregalaram.
— Como sabe disso? — saltou do meu colo, ficando de pé.
— Ela veio falar comigo.
As palavras cortaram o peito de Rhaenyra de alguma forma. Sua postura ficou rígida e seus braços cruzados apertavam forte.
— E você falou com ela? — disse de forma petulante olhando séria para o meu rosto.
— Sim.
O peito subia e descia com velocidade. Com certeza ela odiou essa informação. O que poderia fazer? Mentir? Precisava contar a verdade.
— Eu pensei... Pensei que só queria ver Nettles, não imaginava ir atrás de você.
Levantei me aproximando.
— Foi uma surpresa indesejada encontrar com ela, mas garanto que ela não aparecerá mais.
— Você matou ela?
— Por céus Rhaenyra, não! Que visão você tem de mim?
— Não sei, a forma como você falou parecia que desovara o corpo dela em algum lugar.
— Não, não — ri puxando-a pela cintura e atraindo até ficar colados corpo à corpo.
Acariciei seu queixo e a beijei novamente com uma intensidade incrível. Necessitava dela e a beijei como se fosse o último dia, precisava de cada pedaço, do seu ar, dos seus lábios, dela inteira.
As mãos deslizaram até sua bunda e apertei com tanta vontade que a fez saltar desenhando um sorriso de satisfação em seus lábios. Por algum motivo sua roupa causava um desespero selvagem. Fiquei admirado vendo-a com uma regata de alças finas brancas que demarcavam seus seios agora duros e sensíveis, sua saia preta estava quatro dedos acima dos joelhos, era de prega, conforme se movimentava, balançava de um lado para o outro, levantando mais, mostrando sua calcinha branca e meu deus ela estava me matando. No instante que percebi sua saia, desejei jogá-la no sofá, e fodê-la sem piedade, ouvindo seus gemidos por mais.
Meus lábios abandonaram sua boca e viajaram até o pescoço sentindo seu perfume. Sentia o cheiro, o sabor e a delicadeza de sua pele.
— Daemon... — ela sussurrava — preciso te fazer uma pergunta antes.
Olhei para os seus olhos.
— Quando você a viu, sentiu algo?
— Como assim? — estava confuso para qual rumo essa conversa estava indo.
— Você sabe... se sentiu balançado? Ela mexeu com você?
Sim, ela mexeu, mas nada se compara quando estou com você. Queria dizer isso, mas de alguma forma as palavras não saiam.
— Oh! Meu deus, você ainda tem sentimentos por ela — disse se afastando com os lábios levemente trêmulos.
— Não Rhaenyra, eu...
Ela não me ouviu, passou por mim, pegando a bolsa que estava no sofá.
— Eu preciso pensar — abriu e fechou a porta com extrema violência.
Merda!
***
Estava nervosa com Daemon, bem, não sei se seria nervosa ou com ciúmes por ainda ter um pouco de sentimento por sua ex. Ele pensou antes de responder e isso machucou meu coração com essa dúvida. Por que se conteve?
Meu estômago reclamou, não comi nada esperando sua chegada. Por sorte tinha um fast-food 24h, resolvi estacionar o carro e comer no local mesmo.
Peguei a bandeja assim que meu número foi chamado. Maldita mulher, tinha que aparecer agora? Tantos anos sem ligar para ele e de repente aparece assim, do nada, quando estávamos tão em paz?
Suguei o refrigerante do canudo brigando com meus próprios demônios.
— Rhaenyra? — uma voz grossa ecoou pelo local.
— Harwin? O que faz aqui?
***Será que Harwin vai atrapalhar alguma coisa?
Espero que gostem e por favor deixem comentários, eu amo ler cada um deles. Me siga no Twitter: moneceles
Beijooos

VOCÊ ESTÁ LENDO
Estranhos Prazeres
FanfictionConteúdo: ADULTO (+18) Rhaenyra participa do casamento de seu pai, Viserys, com sua amiga (ex amiga agora) de infância Alicent. Em meio ao turbilhão de emoções, seu tio Daemon aparece após diversos anos. Ela não sabia que esse reencontro reacenderi...