Um pedido apropriado

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— O show foi remarcado para hoje a noite.

Daemon só poderia estar brincando. No dia que combinamos o ensaio para nosso casamento ele aparece com essa informação antecipando esse maldito show.

Fazia tantos anos que não tocava com a banda ou entrava em uma turnê e agora bem em cima da hora isso acontece.

— Eu avisei sobre essa apresentação. — tentou justificar após meu semblante nervoso desaprovando essa decisão.

De fato, ele me avisou. Era para semana que vem e isso não seria nenhum problema, porém hoje? Justo hoje? Como avisarei os convidados que se deslocaram apenas para essa data?

— Porque a mudança repentina?

— Segundo Mysaria, o estádio entrará em reforma antes do esperado e como será um evento gratuito com outras bandas, o ideal é unificar a grande cerimônia em apenas um dia. — ele ajeitava sua guitarra colocando nas costas e verificava todos os cabos em sua mala se certificando de não esquecer nada — Na questão publicitária, será benéfico para todos.

— Você não está mais com a banda, por que isso seria importante?

Seus olhos se encontraram com os meus com uma leve tristeza. Meu comentário talvez mexeu um pouco com seus sentimentos, o que realmente não esperava.

— Eu sempre gostei disso Rhaenyra, você me conheceu assim e sabe melhor do que qualquer outra pessoa que larguei tudo por nós.

— Não pedi para fazer isso!

Saiu ríspido e machucado assim como estava. Não eram as melhores palavras e estava sendo injusta pelo julgamento. Ele realmente largou tudo para o meu melhor e nunca foi contra qualquer sonho que decidisse seguir.

No entanto, esse interesse inesperado em voltar a tocar, a mudança do show tão próximo do nosso casamento e a possível chegada de mais um filho, me deixou na defensiva.

Amo Daemon, mas ele é um homem. Homens principalmente na idade dele recorrem a soluções adolescentes para fugir das responsabilidades.

Pelo visto ele se cansou dessa vida.

De mim.

E precisa de um tempo longe.

A verdade é que nada disso me incomodaria se não fosse hoje, esse maldito show hoje.

— Podemos remarcar para amanhã, não será um dia perdido meu amor. — suas mãos acariciaram meu rosto e seu toque sempre me acalmou.

Segurava minhas emoções por conta da gravidez. O medo de perder mais um filho era algo que perpetuava em minha mente. Não fiz nenhum teste, marcamos para depois uma consulta mais detalhada evitando qualquer medo futuro. Mesmo sem a certeza em mãos, Daemon não duvidava estar com mais um filho no ventre.

Massageei suas mãos fechando os olhos tentando não transparecer minha tristeza.

Ele acariciou docemente a barriga e encostou sua testa com a minha.

— Eu volto logo — beijou carinhosamente meu rosto e sua voz soava terna — Prometo fazer todos os seus caprichos e pedidos.

Olhei em seus olhos ainda magoada, mas não poderia prendê-lo ali.

Assenti com a cabeça não conseguindo dizer nenhuma palavra.

Isso passaria assim que voltasse, mas agora, não conseguia conter a sensação decepcionada que sentia.

***

Aegon ainda estava na casa de Rhaenys e decidi deixá-lo algum tempo por lá até ajustar tudo o que precisava. Avisei aos convidados e ao buffet pela mudança da data e deitei na cama olhando o teto tentando tirar os pensamentos pessimistas.

Nettles saiu, Aegon não estava, Daemon voltaria apenas amanhã cedo e ficaria sozinha nessa enorme casa no dia que deveria ser minha enorme alegria.

Nosso casamento era algo importante, não importava se morávamos juntos por dois anos, essa celebração tem um significado maior para mim. Pode ser o medo de perdê-lo ou o fato de precisar deixar tudo escondido para não ser um assunto em destaque na imprensa pelo nosso parentesco.

Precisava dessa certeza que ele seria meu, inteiramente.

O toque do celular reverberou pelo quarto. Tentei alcançar sem me mexer, esticando o braço próximo da cômoda. Olhei a tela e o nome de Laena piscava. Pensei por alguns segundos se realmente deveria atender. Meu humor estava péssimo para qualquer conversa e certamente ela falaria por horas e horas expondo sua opinião.

Entretanto, precisava desabar e ficar sozinha triste não era a melhor das ideias.

— Olá Laena!

— Finalmente atendeu! Porque a mudança de data? Aconteceu algo?

As lágrimas saíram sem aviso e desabafei todas as minhas angústias, medos e problemas dos últimos tempos. Falei do aborto, da insegurança com o meu corpo, da mudança repentina na rotina de Daemon.

Senti como se um enorme peso saísse dos meus ombros. Laena escutou tudo com atenção e em silêncio. Após desligar ela e Laenor apareceram rapidamente em casa com potes de sorvetes e chocolates de diversas marcas para se afogar nessa mágoa.

— Você se preocupa demais Rhaenyra — disse Laena esparramada no chão ao meu lado, olhando para o teto alto da sala, ouvindo música e sentindo o vento fresco bater na porta de vidro.

— Estou em uma fase insegura e qualquer mudança me deixa ansiosa, aflita.

— É apenas uma mudança de data, prima — Laenor acrescentou sem sair do meu lado — ele não desistiu do casamento, apenas quis fazer algo que gosta. Você não pode exigir tempo exclusivo com você.

— Não estou exigindo nada, sempre tivemos um relacionamento com liberdade em nossas decisões, mas... Foi repentino. De repente esse show apareceu e ele seguiu sem olhar para trás, sem dúvidas ou se importar em como estava sentindo.

— Nyra, ele sempre faz tudo por você. T U D O. Inclusive esse casamento. Você deveria colocar a mão na consciência e realmente entender um pouco o lado dele.

Eles tinham razão. O grande problema é a forma que tudo isso ocorreu, não está certo. Ele escondeu coisas antigamente, estava com medo dele esconder mais e ficar no escuro sem entender quando a bomba explodisse.

Não contei nada sobre as suspeitas sobre a morte de minha mãe para eles. Meu pai estava resolvendo a sua maneira e não queria envolver ninguém nesse assunto.

Coloquei as mãos na barriga involuntariamente pensando no pequeno dragão no meu ventre.

— Ainda doe? — Laena perguntou preocupada ao ver o meu gesto.

— Não, apenas refletindo.

Como não estava certa sobre a gravidez, resolvi não contar.

As horas se passaram e ficar o dia inteiro de bobeira, jogando conversa fora foi perfeito. Fiquei boa parte desses dois anos me dedicando ao trabalho e filho. Ter um momento só meu, mesmo em uma situação forçada, foi realmente bom.

Talvez Daemon queria isso também.

— Se troque! — Laena saltou alegremente ajustando sua roupa — Vamos sair agora mesmo.

— Não estou com vontade de sair.

— Não pedi sua opinião, nós vamos e ponto final.

Sempre tão autoritária.

— Certo sargento e para onde exatamente você estaria me levando?

— Segredo — uma piscadela atrevida e um sorriso sapeca estampou seu rosto.

Laenor não conteve uma risada. O que esses irmãos estariam aprontando?

***

Vesti algo completamente casual e confortável. Independente de onde iríamos, não gostaria de chamar atenção, seria apenas para descontrair.

— Você não vai assim! — o que acontece com esses irmãos? — Precisa de algo bonito e jovem.

Laenor começou a revirar meu guarda-roupa antes de permitir a invasão Velaryon. Jogou as roupas que encontrava na cama e separou as melhores opções.

— Quero apenas sair confortável, nada para chamar atenção.

— Para aonde vamos, você precisa estar divina — Laena pegava os cabides e combinava as roupas no meu corpo — Quando chegar lá, você vai me agradecer, confie em mim.

Minha única opção seria confiar.

Vesti as peças escolhidas e me permiti olhar no espelho.

Um short curto jeans com meia arrastão e coturno. Uma camisa flanelada xadrez, amarrada na cintura. A regata larga estampada com a banda Iron Maiden era uma antiga camiseta do Daemon no qual customizei e roubei após apreciar todos os álbuns da banda. As laterais formavam um enorme espaço revelando o sutiã preto de renda deixando um ar mais sexy.

Estava bonita. Bonita até demais para sair assim.

— Deuses, você está uma verdadeira deusa da rebeldia.

— Não posso sair assim Laena.

— Pode e você vai. Lembra, você vai me agradecer depois.

***

Harold chegou na porta de casa para a minha surpresa.

— O que está acontecendo?

— Pedi o motorista do seu pai emprestado para hoje e ele não negou.

Congelei observando entrarem no carro enquanto Harold segurava a porta.

O que diabos estava acontecendo?

— Harold, não queria abusar da sua boa vontade, esses irmãos passam do limite.

— É um enorme prazer levar você Rhaenyra.

Desde criança ele foi nosso mais fiel motorista. O considero como membro da família e roubaria ele facilmente do meu pai.

— Minha mãe mandou uma foto do Aegon para você ficar mais tranquila. — os dois brincando na praia correndo alegremente pelo dia, juntos, aqueceu meu peito. Ficar tantos dias longe do meu doce menino estava partindo meu coração.

E agora estava a caminho de algum lugar suspeito, orientada por Laena e Laenor e confiando cegamente em meu destino.

— Coloque isso nos olhos.

Olhei para as mãos de Laena com uma faixa.

— Porque esse mistério?

— Apenas faça!

— Laena, não estou gostando dessa história, deveria estar em casa preparando para amanhã, será tudo corrido...

— Cala a boca e faça.

Impaciente, ela enrola a faixa em meus olhos não deixando nenhuma brecha para compreender onde estava indo.

— Se vocês estiverem brincando comigo, saibam que cortarei cada órgão de vocês sem remorso.

O silêncio do carro se estabeleceu até chegar finalmente no destino escolhido. Foi uma longa jornada e estava arrependida de concordar com essa loucura.

Senti as mãos de Laena agarrarem meu pulso e seu corpo se inclinar até a orelha.

— Apenas me siga, vou te puxar até o lugar. Confie em mim.

— Preciso confiar, que escolha teria agora?

Ela riu e beijou minha bochecha carinhosamente.

Sai do carro segurando sua mão e seguindo os passos devagar conforme ela me orientava.

O cheiro de cigarro, diversas vozes e cliques de algum fotógrafo profissional. Com certeza era um lugar famoso. Os flashes das câmeras iluminavam um pouco, mas não conseguia enxergar com clareza os detalhes de onde estava.

Um som alto da bateria.

Uma voz que conhecia bem.

E a guitarra característica de apenas uma pessoa que reconheceria a quilômetros de distância.

— Laena! — parei segurando seu braço ofegante — Onde estamos? Eu conheço a voz, a guitarra, me diga por favor.

Ela continuou em silêncio desfazendo os nós da faixa e finalmente deixando meus olhos livres para vislumbrar o local.

A ardência com a luz branca, fez as pálpebras fecharem, mas ao ouvir o público gritar por mais e a bateria fazer a contagem para a próxima música, trouxe clareza, conseguindo ver Daemon com a guitarra no palco sorridente como sempre foi.

Não estava na plateia, mas ao lado do palco, no lugar cobiçado por tantos.

Meu coração disparou e me dei conta de que era a primeira vez de ver a banda tocando ao vivo.

Quando Daemon olhou em minha direção, seu enorme sorriso aqueceu meu corpo e correria até seus braços se me permitissem.

Calça preta, regata mostrando os braços com as enormes tatuagens que tracejei diversas vezes na cama, o coque frouxo com fios caindo no rosto e ombros. Os colares, anéis e brincos prateados deixando estupidamente charmoso e a guitarra em suas mãos, acompanhando a melodia.

Ele ficava mais indecente no palco, como se esse fosse o altar da sua perdição.

— Ei! Gostou? — a voz de Laena trouxe de volta à terra.

— Porque não me disse?

— Porque você negaria e existe outro motivo para estarmos aqui.

Outro motivo? O que exatamente eles planejavam?

Os gritos do público ecoavam pelo estádio após o encerramento de mais uma música. Daemon aproximou-se do microfone no centro ocupando o lugar de Alyn. Os gritos intensificaram e ele sorria olhando em minha direção.

— Obrigado! Hoje é um grande dia para todos, mas especialmente para mim.

A voz rouca e forte espalhando em todos os lugares faziam meus pelos arrepiarem.

Me sentia como uma fã que via seu ídolo pela primeira vez. No entanto, ele era meu, só meu e me sentia egoísta com esse fato.

— Uma mulher incrível está aqui essa noite — por deus o que ele está fazendo? — e fez a minha vida fazer sentido com o seu jeito gostoso de ser.

Ele estava falando sério? Nós não deveríamos. Ele não gostava de chamar atenção, ser motivo de nenhuma manchete na coluna de fofoca. Nós somos um casal incestuoso e mesmo com toda a habilidade de Mysaria para evitar rastros de nossas vidas, revelar claramente quem sou poderia gerar curiosidade.

Minhas mãos tremiam e a respiração ficava falhada.

— Todos sabem a raridade de cantar com a banda, mas como disse, essa noite é especial e preciso cantar para a minha Rhaenyra.

Ele falou meu nome.

Ele falou meu nome.

Ele falou meu nome.


Laena me abraçou emocionada enquanto o estádio explodiu pela emoção de um momento raro.

Daemon cantou e tocou do jeito mais lindo e doce que poderia fazer. Meus pensamentos nebulosos se tornaram um céu azul e iluminado, e qualquer dúvida foi deixada de lado.

No meio da canção, a banda seguiu tocando enquanto Daemon se aproximava de onde estava.

Suas enormes mãos agarram meu rosto e sua boca afunda em meus lábios com um beijo profundo e cheio de sentimentos.

— Vem comigo!

— O que você está fazendo? — segurei desesperada em sua mão sem se movimentar.

— Vou te levar até o palco.

— Não Daemon, por favor, isso não tem graça.

— Não quero me esconder mais, quero que todos saibam. — confessou com um beijo na têmpora pegando em minhas mãos novamente.

Laena e Laenor gritavam animados empurrando de leve as pontas dos dedos em minhas costas.

Andei até o centro do palco, envergonhada pela multidão que gritava acompanhando o som dos rapazes.

— O mundo inteiro precisa saber que sou seu — dizia no microfone sem tirar os olhos dos meus — E uma mulher incrível, merece um pedido de casamento digno, não frases soltam na cama.

Meus olhos não aguentaram e as lágrimas desciam quando seus joelhos dobraram e a aliança da minha mãe estava em uma pequena caixa vermelha.

A pedra azul representava os Arryn, mas aos meus olhos era um pedaço dela comigo e agora um significado ainda maior.

Um anel fino e delicado.

— Casa comigo?

Tentava dizer qualquer coisa, mas minha voz não saia com a grande emoção que estava sentindo. Então assenti com a cabeça diversas vezes para ele entender que sim, meu deus sim e esse pedido foi o momento mais lindo de toda a minha vida.

Ele me ergueu em seus braços beijando como se estivesse apenas nós dois ali.

— Prepare-se! — disse em um tom que apenas eu escutaria — Nós vamos nos casar amanhã, foda-se o ensaio.

***

Nota: A roupa da Rhaenyra foi inspirada nessa de Emma :)

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