Kepa

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— Essa é sua filha!

Foram as únicas palavras que ouvi de Alys após abrir a porta do condomínio e segurar um bebê calmo e sonolento em meus braços.

Ela deu meia volta e foi embora, entrando rápido em um carro desconhecido com um motorista mais desconhecido ainda.

Fiquei em choque.

Não conseguia ter qualquer reação, raiva, dúvida, felicidade, era um pedaço de carne em pé sustentado apenas por longas pernas sem alma.

Vinte anos e com uma filha nos braços.

Não sabia como segurar o bebê, quantos meses tinha, qual era seu nome, do que precisava.

Era enfim pai e não fazia a menor ideia de como exercer essa função.

Olhei finalmente para os meus braços segurando aquele pacote pequeno e delicado dormindo um sono dos anjos. Ela foi abandonada por sua própria mãe, jogada em meus braços como um saco qualquer.

Será ser sangue do meu sangue?

Mesmo se não fosse, jamais abandonaria.

Era minha, só minha e não ia deixá-la.

Entrei em casa embalando carinhosamente a pequena criatura de pele escura e reluzente. Rhea apareceu correndo pelo corredor e arregalou os enormes olhos castanhos não acreditando no que acabara de ver.

— O que é isso? — pergunta estúpida.

— Uma criança.

— E de quem seria essa criança?

— Minha! — disse sem pensar, sem dúvida, afirmando o que de fato era: minha filha.

Rhea deu um passo para trás, respirando pela boca, sentindo um pânico invadir seu corpo. Nosso casamento nunca foi de fato amoroso, na verdade, nunca foi um relacionamento sólido. Tudo o que compartilhamos era apenas desprezo.

Ela me odiava e eu apenas retribuía o sentimento.

— É melhor arrumar as malas e sumir dessa casa! — se apoiou na borda da mesa, trêmula e irritada.

— Rhea...

— Sempre soube ter uma amante — não conseguia olhar em meus olhos deixando apenas seu olhar pairar sobre os pés — nunca nos amamos ou nos respeitamos, mas pensei que um acordo velado em cada um seguir a vida como bem-quisesse e lidar com esse matrimônio apenas por fachada, correspondia. No entanto, — olhou para a criança com desdém — aparece com uma maldita bastarda em nosso lar.

— Não fazia ideia dessa criança e estou assustado com tudo também.

Ela riu ironicamente.

— Sofri demais com você! Não quero mais você nesta casa com essa maldita criança.

— Sofreu? Nunca tentei nada com você, cobri meus olhos deixando aproveitar também sua vida, dormindo com seu motorista...

Seu olhar incrédulo alcançou o meu.

— Você sabia...

— Sempre soube! — falei baixo, balançando a criança em meus braços — Não me importava. Então, não diga que te fiz sofrer. Nunca estive aqui para te forçar a nada. Fomos estúpidos em aceitar o que nossos pais queriam.

Ela ficou em silêncio, olhando balançar meu corpo de um lado para o outro, ninando minha pequena criança.

Seus dedos eram tão pequenos, o corpo encaixava perfeitamente entre os antebraços. Pequena e mirrada. Um mês apenas de vida seria o meu palpite.

Estranhos PrazeresOnde histórias criam vida. Descubra agora