Descendentes

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Certo... Estou grávida!

...
...
...

O que vou fazer agora?

Olhava para o teste positivo, sentada no vaso sanitário do banheiro, e entro em desespero. O que tinha na cabeça? Sempre tomei certo o contraceptivo. Daemon vai surtar com isso.

Preciso conversar com alguém antes de entrar em pânico. A questão era, quem? Laena está longe e por Deus imagina o que ia ouvir (mesmo merecendo o sermão), Nettles ficaria em choque e não ajudaria. Minhas outras amizades estão ocupadas no momento, então só lembrei de uma pessoa.

***

— Quanto tempo Rhaenyra! — abriu a porta Jeyne Arryn, prima da minha mãe Aemma — Entre querida, pela ligação você parece bastante aflita.

Jeyne era a pessoa que sempre chamava para resolver ou aconselhar em qualquer dificuldade da vida. Fiquei ainda mais próxima nos últimos anos com a morte da mamãe. Era como se tivesse um pedacinho dela comigo e a saudade não ficava tão dolorida.

Por muito tempo ela sofreu o preconceito da família quando revelou a sua sexualidade. Saiu de casa e decidiu viver sua vida com Jessamyn, uma moça formosa, de cabelos castanhos-avermelhados, pele branca como o leite e sardas encantadoras. Jeyne também era uma mulher surpreendente, seu rosto comprido e olhos azuis sempre atentos para qualquer desaforo e língua afiada contra qualquer comentário infeliz.

Sentei timidamente no sofá carmesim da sala, segurando e circulando os anéis dourados com ansiedade.

— O que se passa Nyra? Está pálida igual um fantas...

— Estou grávida — saiu rápido antes de perder a coragem.

— Oh! Meu deus... — ela suspirou coçando a cabeça.

Jessamyn aproximou entregando um copo d'água.

— O pai da criança já sabe?

— Ainda não — respondi.

— Porque não?

— Precisava conversar com alguém antes, sinto que ele vai surtar quando souber.

— Surtar? Porque surtaria? — seu semblante ficou sério — Não me diga que a ideia de fazer sem camisinha foi sua?

— Sim.

— Rhaenyra meu deus...

— Eu sei, eu sei, mas a culpa não é toda minha...

— Como não? Essa lógica precisa partir de você Nyra, homens têm por natureza se corromper rápido. Pelo pouco que entendi, ele não queria isso e você insistiu. Lembre sempre Rhaenyra homens são estúpidos, mulheres não.

— Eu sei foi uma péssima ideia — passava as mãos no rosto querendo me esconder.

— Conte mais dele, é um bom homem? Te trata bem?

— Sim, ele é maravilhoso. Tem uma filha já.

— Quantos anos?

— Dezoito anos.

— Eita! Não vou perguntar a idade dele. Um sermão de cada vez — apoiava os braços no encosto do sofá, pensativa — Essa filha, mora com a mãe?

— Não, na verdade, a mãe abandonou assim que nasceu, então ele cuidou dela, sozinho.

Seus olhos se arregalaram.

— Pontos para ele, gostei já.

— Jeyne, não sei o que fazer — disse aflita e segurando as lágrimas.

— Não tem o que fazer Rhaenyra, agora você precisa cuidar dessa criança e conversar com ele. Parece ser um bom homem, pode ficar um pouco surtado inicialmente, mas ficará com você.

Balancei a cabeça pensativa, olhando para o copo vazio. Estou aterrorizada, para dizer a verdade. Será que serei uma boa mãe? Essa criança vai gostar de mim? Daemon ainda vai me desejar com a mesma intensidade após ter uma criança? Meu cérebro não para de pensar em todas as possibilidades negativas e estava fervilhando de desespero.

— Quanto tempo está? — perguntou Jessamyn pegando minha mão carinhosamente e acalmando o turbilhão de pensamentos.

— Não sei, acabei de fazer um teste de farmácia.

— Então se arrume querida, nós vamos para o médico fazer o ultrassom.

***

No caminho enviei mensagem para Daemon avisando que chegaria mais tarde. Não dei muitos detalhes e ele apenas me respondeu "tudo bem, se precisar de algo, me chama!"

A clínica era perto, era especializada em obstetrícia.

Com sorte, a enfermeira não demorou em me chamar. Decidi entrar sozinha. Queria passar esse primeiro momento sem nenhum olhar de compaixão.

Vesti as roupas apropriadas e deitei na cama onde a enfermeira indicou. Estava ansiosa e com medo. Parecia que a qualquer momento ia jogar tudo para fora e sairia borboletas pela boca com tamanha inquietação.

O médico especializado começou a analisar no pequeno monitor.

— Seu bebê está se desenvolvendo bem, olhe - ele virou o monitor e para ser sincera, não entendia nada. Eram borrões pretos se movimentando abstratamente. Acredito que meu olhar confuso fez o médico apontar para onde exatamente a criaturinha estava.

Então consegui ver. Era tão pequeno, não se formou ainda, mas estava lá e uma emoção repentina preencheu meu coração. Caralho eu ia ser mãe.

— Ainda não conseguimos ouvir o coração porque está bem no começo. Você está de 8 semanas e 3 dias.

Sorri e todo aquele medo foi embora. Uma felicidade imensa aqueceu o meu peito e tive a certeza que seguiria feliz com a gestação. Meu único receio é como Daemon reagiria com a notícia. Se demonstrar infelicidade ou arrependimento vou me quebrar em mil pedaços.

***

Sai da sala com o envelope do ultrassom em mãos. Além disso, aproveitei para marcar outros exames e consultas. Será que Daemon me acompanharia?

— E então? — perguntou Jessamyn em frenesi

— Eu não consegui ver nada direito, mas achei lindo — meu sorriso não saia do rosto e agarrei o pequeno envelope com um abraço apertado.

***

No carro, Jeyne começou dar um pequeno sermão e avisava se caso o pai da criança sumir ou me magoar para chamá-la, ela mesmo arrancaria as bolas dele. Ri por que era divertido ver sua preocupação e lembrei de Laena recitando o mesmo texto. Tenho pessoas que realmente me amam ao meu lado.

— Qual o nome dele?

Droga! Se falar ela vai saber na hora quem é. O que faço? Minto? Ah! Foda-se!

— Daemon...

O relativo silêncio se transformou em um barulho infernal e um vácuo se seguiu de forma constrangedora.

Jeyne parou o carro, desligou e virou o rosto para o assento atrás do carro, onde exatamente estava.

— Daemon Targaryen?

— Sim.

— Seu tio?

— Sim.

— Cunhado de Aemma?

— Se é o meu tio...

Ela levantou o dedo indicador segurando para não soltar nenhuma palavra afiada respeitando minha gestação.

— Tanto homem no mundo, por que Daemon?

— E porque não?

— Você sabe quem é a minha sobrinha?

— Não.

— Rhea Royce. Ele foi casado com ela aos dezessete anos.

Eu sabia que ele foi casado, mas não quem era. Tantas mulheres, tinha que ser a sobrinha dela.

— Eu sei da história Jeyne, mas ninguém queria esse casamento, eram jovens e foram forçados.

— Eu odeio ele.

— Pode odiá-lo, mas ele é diferente comigo e sou feliz, me faz feliz, não é isso o que importa?

Jeyne continuou me olhando, provavelmente analisando cada expressão do meu rosto. Jessamyn apoiou a mão no ombro de sua amada e pediu sua atenção.

— Não se intrometa nesses assuntos Jeyne, sei do rancor que você sente por ele, mas são águas passadas, querida. Quem decide agora é Rhaenyra.

Não muito feliz, ela assentiu e voltou sua atenção para o volante.

— Me diz onde ele mora, assim quando precisar, já sei onde bater no desgraçado.

Antes de ir direto para o apartamento dele, passei em casa e peguei o presente que fiz especialmente para nós. Vou entregar com o envelope e esperar pela melhor reação.

***

Cheguei com a pequena mala e muita coragem para contar as novidades.

Daemon estava na varanda, sentado em uma poltrona aconchegante, com as pernas estendidas e o violão na mão. Tocava e cantava acompanhando a música baixinha do celular. Parei um momento para admirar a ocasião. A música em questão era Yellow Ledbetter do Pearl Jam.

A voz dele era suave, mas cantava com tanto sentimento. Seus olhos permaneciam fechados e era como se estivesse em outro lugar.

Ele sentiu minha presença, mas não parou de cantar e ficou me olhando com um sorriso no canto da boca. Dedilhava o violão tão bem deslizando os dedos e batendo a palheta emitindo os sons perfeitos da melodia. Poderia me ensinar algum dia, tenho certeza que não recusaria ao meu pedido. Encostei no batente da porta olhando-o. Terminou a música colocando o instrumento no canto da poltrona.

— Parar a música na metade é um pecado — disse erguendo-se e juntando suas mãos em meu rosto com um beijo singelo — Você demorou, fiquei um pouco preocupado.

— Eu avisei que demoraria.

— Caso a senhorita não lembre, você saiu daqui, vomitando todos os órgãos.

Eu ri pegando em sua mão e unindo todas as forças para iniciar a nossa conversa.

— Está com fome? — ele perguntou — Fiz um jantar para nós.

— Eu queria te entregar um presente antes, se não se importar.

Entreguei a caixa preta com um laço vermelho simples. Na tampa, o logo da minha marca de joias em dourado.

— A caixa é bem chique — demonstrava admiração e desfazia o nó devagar.

Assim que abriu seus olhos arregalaram e fixaram para o conteúdo da embalagem, surpreso e admirado.

— Rhaenyra, isso é lindo! — agarrou o anel prateado, com detalhes ornamentados nas laterais e o símbolo de nossa família no meio, um dragão de três cabeças formando um círculo. — Você é muito talentosa.

— Fiz um também — mostrei o meu, era mais delicado, fino, o formato do anel era o corpo de dragão e na ponto a cabeça com detalhes da boca entreaberta.

— São lindos — colocou em seu dedo anelar e aproximou beijando carinhosamente.

— Tem... Tem mais na caixa.

Ele observou curioso e viu o envelope. Abriu rápido e leu com atenção.

Seu semblante era enigmático. A boca entreaberta e um olhar surpreso.

— Você está...

— Sim.

— Desde quando?

— Hoje descobri.

Ele permaneceu em silêncio, sem se expressar. Droga isso me incomodou. Com certeza não gostou da notícia. Minha respiração começou a acelerar e estava prestes a me afundar no meio da sala.

Então ele sorriu.

Os olhos estavam lacrimejando e agarrou o ultrassom analisando cada detalhe. Me puxou para o seu colo e me girou rindo.

— Ei, ei — disse batendo em seus ombros — não era essa reação que imaginei. Você não era paranoico?

— Rhaenyra... Eu já esperava por isso.

— O QUÊ? — desci do seu colo — Eu fiquei apavorada pensando que você surtaria.

Agarrou-me novamente para um beijo silenciando meus comentários. Era um daqueles beijos que você nunca esquece, cheio de significado, felicidade, desejo. Me consumia e roubava o ar dos meus pulmões, se afastando um pouco apenas para recuperar o fôlego. Ele me posicionou sentando em cima da mesa, devorando e sugando cada gemido. Suas mãos acariciaram minha barriga e despejou beijos no pescoço arrancando um suspiro dos lábios.

Nossas testas encostaram, ofegantes e sorrindo. Olhei para o seu rosto e aqueles olhos violetas intensos, a barba por fazer e um sorriso bobo que ele não tirou do rosto desde que abriu o envelope.

— Agora você precisa morar aqui.

Eu sorri.

— Como se sente?

Com um sorriso, ele murmurou:

— Emotivo, ansioso talvez? São diversas emoções, mas nenhuma delas é arrependimento se for essa a sua preocupação.

Eu ri, ficando aliviada, analisando seu rosto. Daemon permaneceu olhando para mim por um bom tempo. Me beijou uma vez, depois beijou novamente.

— Nós conseguimos fazer isso, não precisa ter medo.

O abracei tão forte e todas as preocupações sumiram e pensava apenas no futuro e possíveis nomes para nossos filhos.

***

Nota: Alegrando esse final de domingo para vocês :)

Espero que gostem e por favor deixem comentários, eu amo ler cada um deles. Me siga no Twitter: moneceles

Beijooos

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