Casamento parte 02

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— Você não vai melhorar o mundo com os punhos, meu sangue de dragão!

Um olho verde e o outro violeta, era a pessoa mais rara desse mundo. Uma preciosidade que guardaria a sete chaves e protegeria de qualquer mal.

Sempre fui um garoto tolo, ela nunca precisou de proteção.

— Sra. Targaryen, seu filho não está querendo melhorar o mundo e sim acabar com todos. Ele é um delinquente.

— Delinquente? Senhor diretor sei lá o que sua única função é me informar o que ocorreu com o meu filho durante a aula. Qualquer insulto, apelido ou piadinha terá sérias consequências.

Claro que depois ela ia me xingar de todos os nomes possíveis, mas só ela poderia fazer isso. A regra de nossa família era nunca falar mal uns dos outros para estranhos.

— Segundo relatos dos outros alunos, seu filho começou uma briga com outros três alunos mais velhos.

— E, porque só meu filho está aqui? Qual seria o motivo da briga?

— Precisa de motivos? Ele vive na diretoria, procura problemas em qualquer lugar.

— NÃO FOI ISSO O QUE ACONTECEU! — minha voz se sobressai e meu corpo se levanta por impulso.

O olhar que recebi dela calou qualquer protesto que tinha em mente.

— Volte para sua cadeira Daemon, resolverei isso! — seria louco se não obedecesse — Isso não esclarece nada. Suponho que sua opinião está afetando o julgamento dos alunos. Isso seria contra as regras dessa escola, não seria?

Era prazeroso ver aquele homem todo metódico e representante da moral e bons costumes engolir seco qualquer resposta. Ele me odiava. Não pelo fato das brigas que aconteciam com frequência, mas pela família que tinha e as notas altas que sempre tirei.

— Diga-me diretor, a carta com as melhores recomendações e elogios sobre as notas do meu filho foi encaminhada para você também?

— O problema nunca foi o estudo, sra. Targaryen, mas o convívio com os outros alunos.

— E mesmo assim não consegue me dizer o que realmente aconteceu? Essa disciplina precisa ser reportada aos superiores e outros pais.

— Não acho necessário!

— Não? E, porque?

Ela era tão boa com as palavras. Conseguia manipular uma situação ao seu favor com maestria.

— Esqueceremos esse ocorrido até conseguir os depoimentos dos alunos e debater com todos a situação.

— Ótimo! — ela sorriu vitoriosa — sabia que era um homem sensato.

***

Esperava quieto no banco de passageiro olhando-a de soslaio e apreensivo. O sermão seria agora, apenas nós dois no estacionamento de um shopping.

Ela fixou seus olhos para frente do painel, observando as pessoas entrarem, carros estacionando e percebi seus pensamentos vagarem em um silêncio constrangedor.

Observei seu perfil contemplativo, analisando seu nariz levemente torto devido a uma briga de infância com os meus tios, os cabelos lisos e loiros mais escuros que os meus prateados. Uma beleza única, um coração de guerreiro dentro do corpo de uma mulher.

— O que acha de um sorvete? Só eu e você?

O semblante calmo em minha direção me deixou confuso.

— Você não vai... Conversar?

— Não, porquê?

— É a sétima vez que vou à diretoria neste mês.

— E daí?

— Você e papai sempre fazem aquele longo discurso sobre responsabilidade, em seguir o exemplo do Viserys e bla bla bla...

— E adianta?

Talvez ela esteja cansada de tentar me consertar, tentar algo de bom e simplesmente desistiu. Isso doeu mais que qualquer sermão nesses longos anos. Qualquer um poderia desistir de mim, meu pai mesmo já acostumei, mas ela não, não podia decepcionar ela.

— Você desistiu de mim? — tentei esconder a voz embargada e segurar as lágrimas que tentaram se formar, virando o rosto para o lado e apoiando o cotovelo na janela do carro.

— Jamais, meu pequeno dragão — a voz suave acalmou meu coração aflito — eu só... Aceitei que você é assim. Nós somos parecidos em tudo.

Olhei novamente em seu rosto com o cenho franzido não concordando com essa afirmação.

— Se fosse metade que você é mãe, jamais decepcionaria!

— Você não me decepciona.

Meu lábio ficou trêmulo e meu rosto se contorceu surpreso. Como uma frase significava tanto para mim?

— Eu sei o que você fez hoje e sinto que não falhei em sua educação.

— Como soube?

— O status dessa família precisa ser usado de alguma forma — uma piscadela e um carinho em meus cabelos me fez sorrir — Você não deixou que continuassem zombando daquele pobre garoto.

— Bom... Na verdade, estava irritado com a situação, aqueles otários tiravam minha paciência e ver aquele nerd não fazendo nada piorou, então quis resolver o que me irritava de apenas uma vez.

— Não deixa de ser algo bom. Isso só prova que protegerá seu irmão.

— Por céus, mãe — revirei os olhos com sorriso zombeteiro — Viserys é meu irmão mais velho, deveria ser ao contrário.

— Nós sabemos o quanto seu irmão é ingênuo.

— Bobo você quis dizer.

— Não em voz alta — ela sorriu olhando para os lados se certificando que ninguém conhecido estava próximo.

Nossas risadas aumentaram conforme nos olhávamos e debochávamos dele e de algumas manias do meu pai que faziam minha mãe enlouquecer.

Ela enxugou as lágrimas felizes e colocou uma mecha dos cabelos atrás da orelha olhando com a doçura que apenas uma mãe poderia emanar.

— Você ainda não foi ver Rhaenyra.

— Faz apenas dois meses que ela nasceu e não tenho jeito para crianças.

— Nem pense em não me dar netos — ela contorceu minha orelha franzindo o cenho — seu pai que sugeriu o nome da filha de seu irmão e quando você tiver o seu, eu vou escolher o nome.

— Certo e qual seria o nome?

— Não pensei ao certo em um nome masculino, porque sinto que você será pai de menina. Uma primogênita.

Esperei ansioso enquanto ela pensava calmamente no nome, brincando com meus cabelos entre os dedos.

— Quero algo diferente, fora dos padrões da nossa família.

— Se for um nome feio, vou recusar.

— Nettles, podemos chamar carinhosamente de Netty.

— Não é um nome valiriano, não segue a tradição de nossa família.

— Eu sei, mas você apesar de amar seus antepassados, nunca foi um rapaz de padrões.

Era um nome diferente, não sabia de ninguém com o mesmo nome, igual Rhaenyra. Era justo fazer os desejos dela, ela sempre fazia os meus.

— Agora podemos sair desse carro quente e saborear um sorvete antes de voltar para casa?

***

— Você perdeu a cabeça? — eu e Viserys estávamos presos em um dos quartos da mansão discutindo a ideia estúpida dele.

— Calma Daemon, você vai entender tudo, apenas confie em mim.

— Confiar? Nós passamos por diversas desavenças nesses longos anos e confiar é algo que não posso fazer quando a palavra está ligada a você!

— Eu sei dos meus erros, irmão, mas preciso de Alicent aqui, não podia deixá-la sozinha.

— E você pensou que seria uma grande ideia trazer a mulher que matou a mãe da sua filha para o casamento dela?

— Rhaenyra sabe!

Porque Rhaenyra concordaria com isso? A possibilidade dessa decisão se tornar algo catastrófico era imensa. Ela deveria ter me contado.

— Ela sabe os motivos?

— Não, confiou no meu bom senso.

— Bom senso? Viserys estou quase expulsando vocês dois. É o dia dela, sua filha e você pode tornar esse sonho em um pesadelo.

— É um presente! Você vai entender no final.

***

Suspiro aborrecida andando de um lado para o outro esperando o grande momento. Porque a demora? Não quero ser a noiva que atrasa até o último minuto causando aflição em todos. Quero me casar, agora, urgente, não preciso mais esperar.

Uma batida na porta e o som da maçaneta abrindo faz meu coração palpitar. Rhaenys aparece sorridente pegando em minhas mãos ansiosas.

— Está pronta?

— Há muito tempo!

— Antes de irmos, preciso te dizer que seu pai veio com Alicent.

— Eu sei, ele solicitou a permissão.

— Não acha arriscado?

— Ele não me disse os verdadeiros motivos, mas acredito que seja algo para celebrar.

Era meu último voto de confiança nele. Se algo desse errado, se o meu grande dia fosse arruinado, ele pagaria para o resto da vida.

***

Estamos juntos há quase três anos, temos um filho e outro a caminho, porque me sinto ansioso com essa celebração?

Esperava no altar inquieto observando os convidados sentados conversando e admirando a belíssima decoração. A vaca verde ficou na última fileira longe do altar. Esse plano doentio do Viserys deixou minha inquietação pior. Estava ansioso para começar, falar os votos e assinar os papéis e acabar com isso. Não aceitaria nada de ruim que acontecesse com ela e com nosso filho. Se ela sofresse qualquer constrangimento emocional, se afogaria em uma depressão profunda.

Os padrinhos e madrinhas começaram a caminhar próximos ao altar sinalizando que finalmente ela estava chegando.

Todos se levantaram esperando a entrada da noiva. Como presente, Alyn cantou a capela a música preferida dela, Do I Wanna Know? do Arctic Monkeys.

Viserys a acompanhava segurando firme em suas mãos. Ela olhava ao redor, emocionada com a decoração e segurou as lágrimas ao ouvir a linda voz de Alyn. Ela sorriu com brilho nos olhos e seguiu caminhando, segurando seu buquê de rosas brancas e abriu mais o sorriso quando me viu esperando por ela.

Ela era linda.

Tudo se iluminava ao seu redor. Sua graciosidade, seu olhar apaixonado. Ela era toda minha e me sentia o homem mais sortudo do mundo.

Viserys a abraçou emocionado e ambos não seguraram as lágrimas quando entregou sua mão em minha direção.

E assim consegui admirá-la, analisando cada detalhe e deliciando-se em como era maravilhosa. Beijei suas mãos carinhosamente e limpei suas lágrimas deslizando os dedos em sua pele macia.

O padre seguia com os votos, mas meus pensamentos apenas prestavam atenção nela. Nesse momento entendi o porque a celebração era tão importante para ela. Senti a certeza que finalmente ela era minha, não escondendo de ninguém quem somos.

Ao pedir as alianças, nosso pequeno entrava com a almofada branca nas mãos, com as alianças centralizadas, segurando firme e concentrado em sua grande tarefa.

Era o presente mais lindo que poderia ter. Todos reagiram emocionados em todo o trajeto de Aegon e ao subir os pequenos degraus, Rhaenyra não se conteve em salpicar beijos e chorar emocionada acariciando suas bochechas.

O ergui em meus braços, enquanto Netty segurava as alianças.

Rhaenyra olhou em meus olhos, entendendo exatamente o que estava prestes a fazer.

Aegon colocou a aliança em sua mãe, segurando em meus braços e olhando com cuidado com seus enormes olhos violetas esperando uma aprovação em seus gestos.

Rhaenyra não parava de chorar e sorrir ao ouvir o meu sim e meus votos eternos.

Aegon repetiu o feito, colocando a aliança em meu dedo e esperando os votos de sua mãe e concretizando nosso vínculo eterno.

Ele desceu do meu colo, correndo até Netty e segurando em suas pernas animado.

E então finalmente a beijei agora como minha esposa e eu marido dela.

Seria um beijo rápido não prolongando o tempo dos convidados, mas era impossível não se afundar nos lábios macios dela.

Ela morde meu lábio, exigindo mais, seu corpo queimando excitada pelo momento e não sentia vergonha em demonstrar. Agarrei seu pescoço trazendo-a mais perto, abrindo a boca, consumindo sua língua doce. Rhaenyra suspira perdida no beijo,

Apenas um beijo era suficiente para deixar o meu corpo desesperado por ela.

Me afasto, segurando meus desejos primitivos, olhando seu rosto corado e guiando-a nos meus braços entre os convidados ao som de gritos e aplausos.

***

Rhaenyra admirava cada detalhe, sorrindo e rodopiando feliz. Abraçou e beijou os convidados, se deliciou com o banquete e me abraçou nos intervalos da celebração, sussurrando o quanto me amava.

A agarrei pela cintura, entrelaçando sua mão direita com a minha e roçando nariz com nariz em uma dança lenta.

— Quando podemos sair daqui e foder esse corpo gostoso?

Seu rosto corado e os olhos percorrendo em volta do salão analisando se ninguém ouviu essa indecência.

— Você não consegue se controlar?

— Só restaram esses pensamentos a partir do momento que você subiu ao altar. Esse vestido é muito sexy.

Sinto sua pele arrepiar com a minha voz tão próxima a sua orelha, mordiscando o lóbulo e sentindo suas mãos apertarem, segurando-se inebriada.

— Netty falou que você me devoraria no altar assim que visse o vestido.

— Preciso agradecer minha maravilhosa filha pela escolha. — mordisquei a pele do seu pescoço e senti o perfume, deslizando o nariz até a curva de seu maxilar — Não vou esperar você tirar esse vestido, vou consumar nosso matrimônio no corredor até o nosso quarto.

Ela sorriu mordendo o lábio e olhando hipnotizada para minha boca.

— Ou podemos relembrar nosso momento no banheiro, quando o casamento era do seu pai.

— Vamos cortar o bolo — ela deslizou a mão preguiçosamente pelo meu peito — passar alguns minutos e serei toda sua.

Seus pés se afastaram e saiu relutante dos meus braços tentando não cair na tentação dos meus toques.

Ela correu olhando sobre os ombros e pediu uma dança com Viserys, estendendo seus braços e abraçando carinhosamente.

— Você finalmente conseguiu o que tanto queria.

Ouvir apenas sua voz, fazia meu sangue ferver de raiva. Evitei qualquer contato para não causar nenhuma cena, mas ela fazia questão de provocar.

— De qualquer forma, nós dois saímos ganhando, você com a sobrinha e eu com a herança — Alicent parou ao meu lado segurando sua taça de champanhe — mesmo confessando o que fiz, ele aceitou como o homem imbecil que é.

Seu tom de voz e suas palavras me fariam desconfigurar seu rosto, mas um ponto importante foi revelado: ela confessou.

Viserys tem a confissão, então...

O celular dela toca, desviando sua atenção e lendo a mensagem recebida. Sua expressão vitoriosa muda, contorcendo-se apavorada e se afastando rápido procurando a saída.

— Onde você vai Alicent? — Viserys pergunta recebendo a atenção de todos no centro do salão.

— Meu pai está no hospital, teve um princípio de infarto e preciso ajudá-lo.

— Ele foi preso, não foi?

Analiso a cena, notando o rosto surpreso de Rhaenyra para seu pai e o rosto alarmado de Alicent.

— Você jogou bem todos esses anos Alicent, mas seu erro foi menosprezar esse velho aqui, confessando em um momento delicado, com a dose excessiva do calmante confiando que não estaria prestando atenção.

Rhaenys aproximou eufórica ao meu lado agarrando em meu braço sorrindo.

— Não tem como provar!

— Tenho! Sua prisão foi decretada.

Dois oficiais de justiça aparecem ao lado de Harold, declarando sua prisão por assassinato. Ela tenta fugir, mas Netty e Laena a jogam no chão, segurando-a enquanto se debatia.

Alicent olha para Netty e sussurra algo que não consigo ouvir deixando seu semblante triste enquanto segue algemada para fora da propriedade.

— Você conseguiu! — Rhaenyra abraçou seu pai, chorando de emoção.

— Esse era meu presente para vocês!

Depois de todos esses anos, finalmente foi comprovado. Essa maldita família não vai mais sugar meu irmão, ele viverá em paz, desfrutando de sua vida como realmente merece.

Netty se distancia com os olhos tristes e postura acanhada.

O que essa vaca falou?


***

Nota: Falta dois capítulos para o fim e vou sentir falta do meu casal

O que será que Alicent falou para Netty?

A versão que o Alyn canta da música é do Hozier se alguém estiver curioso :)

Espero que gostem e por favor deixem comentários, eu amo ler cada um deles. Me siga no Twitter: moneceles

Beijooos



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