Relacionamentos

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Fúria não seria a palavra exata para descrever o estado de Daemon, colérico ao ponto de um assassinato seria a descrição perfeita de quando gritou pelo nome de Alyn.

Tentei acalmá-lo, mas ele me ignorou focando sua atenção total ao seu companheiro de banda. Ambos seguiram para dentro do apartamento direcionando-se ao quarto.

Nett ficou assustada, não entendendo a situação. Melhor segurá-la aqui até Daemon ter a conversa necessária com talvez seu futuro genro.

— Nett, fique aqui comigo! — segurei seu braço e forcei sua visão para o meu rosto.

— O que está acontecendo? — ela perguntava confusa tentando olhar para além da porta da varanda.

— Seu pai percebeu... A troca de olhares entre vocês.

Nettles arregalou os olhos.

— Estava tão na cara assim? — perguntava com a voz baixa e envergonhada.

— Vocês têm a sutileza de um mamute! — eu ri — Até seu pai que é meio lento para esses detalhes percebeu.

— Droga! — bufou — Eu ia contar, juro!

Sentia sua aflição. Nett conhecia muito bem seu pai e sabe o quão protetor ele é. Conhecendo seu ótimo humor, deve fazer aquele interrogatório com pressão psicológica.

Pobre Alyn.

— Vou entrar, ele não pode enlouquecer por uma decisão que tomei.

— Nett, calma! Daemon não vai matá-lo — mesmo querendo muito — ele não é tão cabeça quente.

— Não? — olhava-me com o semblante sarcástico — Eu já vi ele muito nervoso Nyra, ele vira o próprio demônio!

Essa informação fez meu estômago revirar. O quanto conheço ele? Me senti boba em saber tão pouco sobre sua história. Tudo aconteceu tão rápido que nem ao menos tivemos tempo de iniciar um relacionamento, conhecer cada detalhe das nossas vidas, entender cada nuance do seu ser.

Precisamos consertar isso urgente, mas agora não é a hora.

Nett permanece agitada e ansiosa pelo desfecho da conversa.

— Não vou ficar aqui! — indagou raivosa — Vou para o campus e falarei com ele quando a poeira abaixar.

Seguiu em passos duros até a porta de saída sem se despedir. Os rapazes olhavam confusos com os acontecimentos, mas conheciam Daemon, então continuaram a conversa e deixaram isso de lado.

Resolvi fazer o que sabia de melhor: ouvir atrás da porta.

Aproximei até a porta do nosso quarto que se encontrava entreaberta. A voz de Daemon era firme e baixa. Quando sussurrava sabia ser algo sério. Ele não era o tipo de homem que se alterava levantando a voz, era pior, falava baixo e devagar.

— Tantas mulheres nesse mundo e você resolve ficar com a minha filha?

— Daemon, não foi algo que escolhi, aconteceu!

— Alyn você poderia ter evitado!

— Não sou um monstro ou o pior cara do mundo, posso me relacionar com sua filha e fazê-la feliz.

Daemon permanecia com os braços cruzados e a postura intimidadora encarando-o.

— O problema não é você ser um monstro ou um cuzão. Eu te conheço! O que me incomoda é o fato dela ter 18 anos e você 29.

— Diferença de idade? Sério Daemon? Você e Rhaenyra têm uma enorme diferença...

Alyn, Alyn, você acaba de cutucar um dragão.

— Rhaenyra é uma mulher feita, tem 25 anos. Nett é uma adolescente e começou a faculdade esse ano. — seu tom de voz se altera, mesmo que imperceptível — Ela não pode se comprometer com um amor de verão e não se profissionalizar para o seu futuro.

Não posso negar que esteja certo. O grande problema nisso tudo é que Nettles está começando sua vida e o medo é dela se perder e largar tudo.

— Ela não sacrificaria seu futuro por um cara como eu.

— Espero que não mesmo!

— Obrigado! — ofegava ofendido — Você reage como se não levasse um relacionamento a sério.

Daemon se aproximou de Alyn olhando firme. Até eu ficaria com medo.

— Você esquece que te conheço há anos, que somos da mesma banda, que você é o vocalista e se envolvia com diversas mulheres no camarim.

— E você é santo agora? Eu já te peguei com uma, no banheiro!

Eu sei que foi antes de me conhecer, mas odeio ouvir essas conversas de outras mulheres na vida dele, mesmo que fosse apenas uma transa e nada mais.

— Eu te vi com três ao mesmo tempo!

Ai Alyn, queria te defender, mas assim você complica.

— É... Você nunca fez isso — concordou se envergonhando — Porém, isso não vai acontecer se estiver comprometido com Nett.

Ele não precisou expressar em palavras que arrancaria as bolas dele se fizesse qualquer coisa semelhante a isso. O olhar de Daemon já entregava tudo.

— E agora? — Alyn olhava para o velho amigo com os ombros caídos — Vai proibi-la?

— Proibir? Não! Ela é minha filha, proibir de fazer algo é o gatilho necessário para me provocar. Ela é livre para fazer o que quiser e não vou impedir qualquer relacionamento que tiverem.

Esse lado pai preocupado e ciumento dele fez meu peito aquecer. Estava verdadeiramente pensando no futuro dela, não querendo o pior. Nett ficará feliz de saber que não será impedida de ficar com quem quiser.

Alyn esboçou um sorriso satisfatório, mas Daemon continuou.

— Vou logo avisando! — aproximou corpo a corpo com o rapaz — Se fizer algum mal a ela, fazê-la sofrer, chorar... Eu acabo com você!

Certo, esse lado mais intimidador não conhecia. Já vi louco de ciúmes aquela vez no pub, mas aqui o semblante é diferente. Apenas de costas sua postura dá medo.

Alyn estava assustado.

— Você sabe do que sou capaz! — alertou Daemon.

— Si-Sim, eu sei Daemon, eu já vi!

Viu? O que ele viu? O que Daemon fez no passado que deixou o rapaz de 1,80 tão alarmado?

Sem perceber, Nettles aparece igual um furacão abrindo a porta violentamente pronta para qualquer luta.

— Você não tem o direito de escolher com quem devo iniciar minha vida amorosa!

O olhar de Daemon e o dedo levantado indicava um aviso. Nett tinha a língua afiada, era astuta e afrontosa, mas não era burra. Ela entendia muito bem a hora que poderia debater e a hora de ter respeito. Às vezes, sinto que esquece quem ele realmente é: seu pai e não um amigo da faculdade. Claro, ver seu pai como seu melhor amigo é algo divino, mas nesse caso, ela precisava se colocar no lugar e fechar boca antes de perder qualquer consideração e confiança que ele tem por ela.

— Alyn, me deixe a sós com Nett!

Alyn caminhou perto de Nett lançando um meio sorriso para acalmá-la.

Por sorte e devido aos humores exaltados, ninguém me viu ali. Alyn passou rápido pegando uma cerveja do cooler e indo até Cregan e Erryk.

Com as mãos na cintura, Daemon suspirou de forma dramática olhando para sua filha.

— Não vou me intrometer com quem você vai se relacionar, mas me prometa uma coisa — colocou as mãos nos ombros magros dela ficando na altura dos seus olhos castanhos — Não se limite a nenhum homem ou mulher, enfim... Não dependa de ninguém. Se prender em um relacionamento e esquecer de ter uma vida separada, vai apenas te magoar.

Talvez esse conselho era o que ele gostaria de ter escutado quando era novo. Seu medo era dela repetir a mesma história.

Nett sorriu adorável para ele.

— Prometo pai!

— Se ele te magoar, não esconda nada de mim, nem de Rhaenyra.

Ele me incluiu? Ele me incluiu? ELE ME INCLUIU? Oh! Meu Deus! Esse homem vai ter uma noite muito especial hoje.

***

Não sei se foi a conversa que escutei dele com Nett ou se os hormônios da gravidez estão altos, mas estava admirando esse homem além do normal.

Felizmente a noite estava fresca e ele usava uma regata preta mostrando os braços musculosos cheios de tatuagens. Pensando em seus dedos longos e as cicatrizes nos punhos disfarçadas com os desenhos na pele.

Ele coçou o queixo percebendo como os meus olhos percorriam seus braços, e quando olhei o seu rosto, vi que ele estava sorrindo para mim.

— Você me pegou! — disse levantando as mãos.

— Pode continuar — tragava uma última vez o cigarro, apagando no cinzeiro. Ele fumava sempre na varanda, me obrigando a ficar distante por conta da gravidez — Gosto quando você fica babando.

— Convencido! — respondi revirando os olhos.

Ele riu fechando a porta de vidro da varanda.

— Ainda bem que você e Nett se acertaram — segui seus passos até a cozinha.

— É só ela não fazer nada estúpido e vou continuar calmo.

Olhava-o, cautelosa enquanto despejava um suco de laranja no copo.

— Sinto que você quer me perguntar algo.

Respondi com um sorriso.

— Ouviu atrás da porta? Você nunca vai perder essa mania.

— Não ia perder essa conversa — continuei olhando-o — ouvi Alyn falar que já te viu... perdendo o controle.

— Oh! — respondeu engolindo seco — Ele já viu sim.

— Queria que me contasse mais sobre você — cheguei perto acariciando suas mãos e notando que estava usando o anel que dei — Não gosto de não saber a sua história.

Ele apertou as sobrancelhas como se não entendesse onde queria chegar. Depois de um instante, ele respondeu:

— Certo! Te contarei tudo o que quiser.

— Então vamos começar por essa história. O que Alyn viu?

— Há dois anos, tocamos em um pub bem famoso. Platéia imensa, os donos felizes pela quantidade de clientes e adoramos o que fazemos — sorriu debruçando na bancada da cozinha — Nettles insistiu muito que gostaria de me ver tocar, ela tinha 15 anos, poderia entrar acompanhada e como eu era o guitarrista, não vimos problema.

Respirou fundo para continuar.

— Entretanto enquanto me apresentava, um rapaz colocou alguma droga no suco dela... E ela começou a ficar zonza e esse idiota, levou ela até o banheiro.

Levei as mãos até a boca entendendo a situação.

— Por sorte, um dos garçons viu e me chamou. Cheguei no banheiro... — as mãos dele batiam no balcão de raiva apenas por lembrar — O vestido dela estava até a cintura já, mas nada aconteceu. Quando vi aquela cena, fiquei cego. Desconfigurei o rosto dele, no chão do banheiro. Eu só não matei ele, porque Cregan me segurou. Depois desse dia, tudo relacionado a mim, foi abafado pela minha assessora. Enfrentei um longo processo, mas consegui provar os fatos.

— Você ia preso por isso?

— Sim, quase matei ele Rhaenyra, o certo seria chamar a polícia, mas eu penso antes de fazer algo?

Não o julgo, se visse a mesma coisa não pensaria em mais nada.

— E como Nett reagiu?

— Ela não sabe, não lembra de nada.

"Eu já vi ele muito nervoso Nyra, ele vira o próprio demônio!"

Será que não lembra? Melhor deixar assim.

— Naquele dia do pub quando você sumiu com aquele rapaz, fiquei com muito ciúmes, óbvio, mas tive medo dele ter feito algo com você.

— Você com ciúmes é muito bom — respondi rindo maliciosamente.

— Gosta de me provocar e falar algumas frases para me irritar — se aproximou cheirando meu pescoço e as pernas fraquejaram um pouco — O que acha de ocupar a sua boca com outra coisa?

— Daemon! — Abri os olhos, surpreendida, não esperava que falaria isso.

— O quê? Agora virou santa? Nós sabemos como você fica na cama.

— Escut-

Não consegui terminar a frase e sua boca sugou qualquer resposta afiada. Afastei um pouco querendo continuar o assunto, mas ele me puxou de volta ainda mais forte.

— Shhh! — passava as mãos em volta da cintura — poupe as palavras apenas para gritar meu nome.

Ele volta a me devorar, mordendo meu lábio inferior aproximando nossos corpos ainda mais.

Meus mamilos ficam rígidos roçando o seu peito subindo e descendo recuperando o fôlego.

— Eu sei que você quer o mesmo que eu. Te olhei o tempo todo e você fica muito gostosa com esse vestido e o decote — estalou a língua desabotoando, deixando os seios saltarem — me dá água na boca.

Mordeu a pele exposta deixando sua marca e chupou intenso enquanto espalmava o outro seio. Eu sentia meus próprios gemidos escaparem da minha garganta e a respiração entrecortada me deixava mais excitada.

Seu celular começou a tocar em cima da bancada.

— Daemon... Seu celular...

Foda-se, não vou atender agora.

— E se for importante?

— Argh! — ele estendeu o braço olhando o nome na tela.

Com certeza quem fosse ia ser xingado até a próxima geração.

— É a Rhaenys, estranho! — atendeu com o semblante um pouco confuso — Você me ligando, que milagre é esse?

O sorriso que estava, começou a sumir e seu rosto estampava um ar preocupado. Essa ligação não veio com boas notícias.

Terminou a ligação com frases difíceis de deduzir, então esperei até me contar.

— O que foi?

— Tente manter a calma e lembre que você está grávida.

— Daemon você só está me deixando mais preocupada.

— Respira e senta — fiz conforme aconselhou — Viserys sofreu um acidente e está no hospital. A situação dele é grave.

Não consegui ouvir mais nenhuma palavra dele, um zumbido enorme se estabeleceu em meu cérebro e senti minha pressão baixar.

— Meu pai, Daemon! Preciso ver meu pai!


***

Espero que gostem e por favor deixem comentários, eu amo ler cada um deles. Me siga no Twitter: moneceles

Beijooos


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