Aegon, alegria

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— Aaaaaaaaargh! — era apenas isso unido a um som desesperador que saía 24 horas quando a gravidez alcançou 39 semanas.

Eu não aguentava mais estar grávida.

— Você parece o exorcista assim — Daemon adorava me apelidar com diversos personagens ou filmes dos anos 80. Um parceiro adorável.

— Você verá o exorcista já já meu amor se essa criança não sair logo de mim.

Amo meu filho, a sensação dele mexendo na barriga quando Daemon passa as mãos acariciando amavelmente, os batimentos rápidos do seu pequeno coraçãozinho quando visitamos o consultório. Choro todas às vezes com seu rosto abstrato no pequeno monitor do ultrassom.

Porém, estar grávida, era um sentimento desesperador.

Meus pés pareciam dois pães, um calor fora do normal, me despindo todos os dias andando pela casa só de calcinha.

Daemon nunca reclamou.

A queimação que subia e descia pelo estômago todas as noites, as diversas vezes que ia e voltava do banheiro para fazer gotas de xixi porque minha bexiga estava sendo pressionada pela cabeça de Aegon.

Uma fome descomunal comendo por um time de futebol completo.

E claro, uma vontade de dar todos os dias.

Digamos que pela proporção da barriga o ato sexual foi desafiador. Existiam momentos em que parecia estarmos em uma sessão de pilates praticando flexão lombar com uma enorme bola. No caso, a bola era eu. De quatro as pernas ficavam cansadas, em pé sem chances, mas de lado ainda era o jeito mais sexy e carinhoso e ele sempre foi bom em fazer todas as minhas vontades.

Um dia ele disse decidido:

— Se você vier com desejos loucos às 4h da manhã, saiba que vai ficar querendo, não vou procurar igual um doido por um grande brigadeiro.

No entanto, em um domingo no final da tarde senti um desejo imenso de churros de doce de leite coberto com granulado, uma bomba calórica e glicêmica, mas deus como eu queria esse doce.

Nada estava aberto no domingo.

Adivinhem, ele procurou em todos os cantos e achou (o mais caro do mundo) e matou meus desejos. Me sinto realizada por ser a única pessoa que ele não consegue dizer não.

Não é atoa que Nett me pede todas às vezes de convencê-lo aos seus caprichos e como sou uma mãe boba, faço sem pensar.

Serei ainda mais besta com Aegon.

— Não aguento estar grávida Daemon.

— Você diz isso todos os dias meu amor — ajeitava as cordas da guitarra afinando-as.

Agora ele tocava apenas por hobby, entrou em hiato com a sua carreira sem previsão de volta. Os rapazes entenderam a decisão e cada um seguiu para projetos solos.

— O que você vai tocar para mim?

Seu olhar malicioso me recorda dos seus pensamentos de quinta-série.

— Sem malícia Daemon!

— Difícil quando você fala coisas nesse sentido — seu sorriso largo e cheio de dentes me fascinava.

Céus, meu homem é tão bonito.

— Você imaginou que alguns amassos no banheiro da casa do meu pai resultaria no que somos agora?

Ele me observou atentamente.

— Aquele dia eu quase te comi.

— E por que me deixou rastejando por tanto tempo?

— Por que me apaixonei por você e não queria te pegar daquele jeito, em um banheiro qualquer.

Com o passar dos tempos, Daemon não sentia mais receio em dizer seus sentimentos. Não era todos os dias, mas era mais frequente.

A gravidez mexeu com meus hormônios, então essas pequenas declarações me deixaram feliz pelo resto dos dias.

— Impossível se apaixonar assim tão rápido.

— Você pode não acreditar — respondeu dando de ombros — mas quando te beijei, senti sua pele, seu cheiro e calor, me despertou algo que não senti antes.

Oh! Deus! Se ele continuar, vou encontrar uma forma de gerar outra criança agora mesmo.

— Porém, você já se apaixonou antes...

— Por isso posso afirmar que foi diferente — ele continuava acertando sua guitarra — Você foi feita para mim.

Não consigo conter o sorriso. Estava perdidamente rendida por ele.

— Qual música você quer?

— Hole In My Soul do Aerosmith.

Ele cantou e tocou alegremente. Aegon sempre reagia na barriga quando escutava a voz de Daemon fazendo pequenas ondulações.

Take a walk outside your mind

Tell me how it feels to be

The one who turns the knife inside of me


A letra da música não era romântica, mas a forma que ele sempre cantava, despertava um sentimento precioso no peito.

Esse momento me fez lembrar da conversa que tive com o meu pai. Finalmente abriu seus olhos para as sanguessugas dos Hightower e revelou apenas a mim, que sou a única herdeira de todo o seu patrimônio. Mesmo que Alicent tenha outros filhos, eles terão uma pequena porcentagem se for devidamente aprovado pela herdeira legítima.

Ele celebrou com tanto carinho nosso relacionamento e finalmente fez as pazes com seu irmão. Tudo parece um sonho de tão perfeito como minha vida está caminhando.

Além da questão da herança, após o primeiro ano de Aegon, assumirei como CEO principal da empresa. Teria que aprender tudo o que fazem, era um ramo completamente diferente do que gostaria de seguir, mas estava confiante.

Meu sonho com a marca de joias continuava. Seguirei minha coleção por amor.

Uma pontada aguda percorreu meu corpo.

— Aí — segurava aflita a barriga, parecia uma cólica intensa quando estava nos dias de menstruação.

— O que foi? — ele levantou rápido passando a mão na barriga.

— Um desconforto apenas, acredito que foi algo que comi.

Outra dor aguda e meus olhos fecharam intensamente.

Um som suave de líquido sendo derramado reverberou pela sala. Olhei entre minhas pernas e notei que finalmente a bolsa estourou.

— Bom... Suponho que Aegon está vindo.

***

Corremos até o hospital onde o obstetra que confiávamos fazia plantão.

Nesse momento um medo avassalador preencheu meu estômago causando uma grande ansiedade. Por fora, parecia a grávida mais calma do universo, por dentro queria desmaiar de tanto medo.

Finalmente vou ser mãe.

Isso era aterrorizante.

Vou conseguir?

Ele vai gostar de mim?

Ele vai aceitar o meu peito?

Vai doer?

Vou conseguir identificar cada choro?

Já nasce com um manual?

Daemon segurou minhas mãos que tentavam encontrar os anéis que sempre girava, mas não estavam mais lá. Precisei retirá-los para seguir com os preparativos do parto.

— Respira Rhaenyra, vai dar tudo certo!

Ainda bem que ele estava comigo. Sua voz e seus conselhos me acalmavam na mesma hora.

Por sorte, não sentia dores agudas, não sabia se isso era um bom sinal, mas conforme cada enfermeiro que aparecia verificando a dilatação afirmava estar bem.

Entretanto essas verificações estavam me irritando, até que descontei no pobre coitado do último enfermeiro.

Peguei pela gola de seu uniforme azul e aproximei colado ao meu rosto.

— Se entrar mais um azulzinho de vocês aqui, enfiando o dedo para ver a dilatação a cada 5 e 5 segundos eu vou cometer um crime.

— Rhaenyra pelo amor, deixa o rapaz! — Daemon separava meu punho da gola do enfermeiro.

— Não aguento mais, entra dedo, sai dedo, entra dedo, sai dedo, eu quero saber quando Aegon vai sair.

— Rhaenyra é assim que eles analisam a dilatação.

— Não é possível que precise de tantas dedadas.

Daemon esfregou as mãos no rosto evitando uma gargalhada.

— Você é uma figura.

***

A intensidade das dores aumentaram e finalmente a dilatação chegou no tamanho necessário.

Dor, suor, força e lágrimas. Essa é a descrição do que senti nesse parto. Era como se todos os ossos do meu corpo se quebrassem para finalmente Aegon nascer.

Quando ouvi o choro estridente, o calor em meu peito e um amor que ainda não sentia despertou.

O médico entregou o menino no meu colo e finalmente vi o rosto do meu doce príncipe.

Se Daemon já era um pai bobo, ele piorou quando viu Aegon e seus cabelos branquinhos iguais aos de nossa família.

Quando o bebê foi levado para seu primeiro banho, Daemon o seguiu me deixando sozinha.

Ele sempre foi paranoico.

Seguiu a criança por todos os cantos, procurou pintas e marcas de nascença para ninguém trocá-lo na maternidade.

Para alívio dele, ele foi o único menino a nascer.

Como o parto foi normal, seria liberada dentro de um dia. Enquanto descansava no quarto, Daemon embalava seu pequeno Aegon, trocava as fraldas, cantava suavemente fazendo as enfermeiras suspirarem por ele.

Podem admirar, ele é todo meu.

Recebi felizmente toda a orientação de como amamentar, sobre como identificar alguns choros e não se desesperar.

Por sorte Daemon era experiente, além dele, Rhaenys fez questão de me ajudar como uma mãe ajudaria sua filha.

Nettles veio correndo passar os dias conosco, cuidando de seu irmão, enquanto dormíamos alguns minutos para recarregar a energia.

Quando meu pai veio visitar com Alicent, Daemon não permitiu sua entrada, não queria ela no mesmo ambiente que nós e nosso filho, mas convenci ele para deixar as intrigas de lado.

Alicent pegou Aegon no colo e consegui ver um sorriso genuíno dela.

Talvez Aegon veio para trazer um pouco de paz para todos nós e comecei a chamá-lo de nosso Aegon Alegria.

***

Nota: Alguns acontecimentos foram inspirados no meu parto e minha amiga e achei que se encaixam para como Rhaenyra e Daemon reagiriam.

Enfim, Aegon nasceu!

Espero que gostem e por favor deixem comentários, eu amo ler cada um deles. Me siga no Twitter: moneceles

Beijooos

Estranhos PrazeresOnde histórias criam vida. Descubra agora