Desconfiança

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— Casamento? Por céus Daemon sua vida é cheia de surpresas.

Mysaria estava comigo há sete anos? Oito? Não lembro ao certo, mas podemos dizer serem longos anos de parceria. Ela é responsável por cuidar de tudo o que sai sobre minha vida na imprensa. Qualquer fofoca, ela é a primeira a saber e cuidar rapidamente. As pessoas me conhecem apenas pela banda, nada mais, dessa forma a vida de Nettles se tornou mais normal.

Depois das fotos com Rhaenyra no pub, Mysaria conseguiu despistar qualquer rumor sobre nosso parentesco. Contei sobre minha família, os incestos, em como queria viver com Rhaenyra. Nunca me julgou, apenas dizia que todo o dinheiro que pagava compensava as dores de cabeça.

Quando soube de Aegon, ficou imensamente feliz no primeiro momento, mas depois pensou em tudo o que precisaria deixar por debaixo dos panos.

E agora... O casamento.

Nós sabemos que incesto não é algo bem-visto, nem entre primos, imagina tio e sobrinha? Todos os casamentos incestuosos eram feitos com uma grande quantia em dinheiro e honrados pela reputação de nossa família. O nome Targaryen não era citado levianamente na sociedade.

No entanto, como minha mãe dizia "Você é o puro sangue de dragão", então estou nessa família para trazer algum caos.

— Sei que você tem ótimos contatos e o dinheiro que precisar é só pedir, sem problemas — deitei preguiçosamente no sofá de seu escritório.

— Não coloque seus pés sujos aí. É um sofá caríssimo. — como sempre metida a socialite.

— Relaxa! Meus coturnos são mais limpos que suas mãos.

Mysaria permaneceu em pé me encarando com seu terninho Prada bege feito sob medida. Ela era uma mulher muito bonita, cabelos longos castanhos-escuros, corpo esguio, alta, pele reluzente e polida. Recebeu diversos convites para ser modelo, mas sua ambição direcionava para outros lugares, onde não precisaria do corpo para ganhar dinheiro e subir o seu status.

Nunca tivemos nada, sempre nos consideramos bons amigos e boa parte de nossas conversas são especificamente profissionais.

Nos conhecemos em um show de estádio lotado, quando passei até o camarim e estava sendo arrastada por um cara até um canto escuro. Claro, como sempre não pensei no que estava fazendo e agi mais com os punhos do que palavras. Porém, a forma como argumentou com os guardas me chamou a atenção. Era boa com palavras, em persuadir, manipular e conseguir informações. Procurava uma pessoa competente para me assessorar e não julgar as besteiras que faço.

E aqui estamos nós.

— Por que não trouxe Aegon? — perguntava chutando o meu pé em cima do sofá — Dois anos e você nem ao menos teve a decência de trazê-lo?

— Seria uma viagem longa, não queria aborrecê-lo, sabe como as crianças são, você conheceu Nettles bem nova. — levantei beijando sua cabeça tentando melhorar a enorme carranca em seu rosto — Prometo te visitar apenas para mostrar ele, certo?

— Vou cobrar!

Peguei um de seus cigarros em cima da mesa e acendi aliviando um pouco o meu vício. Depois do nascimento de Aegon, evito ao máximo fumar em casa

— Daemon, depois que comecei a investigar sobre a morte de Aemma, notei algumas pessoas me seguindo com frequência. Vou ser sincera que fiquei com medo de realmente mexer nesse caso, consegui o máximo de provas, mas não me sinto segura fazendo esse serviço, me desculpe.

— Não precisa continuar Mysaria, cuido daqui. Você fez mais do que o esperado e só tenho a agradecer.

— Se quer um conselho, — ela caminhou perto da janela onde estava olhando séria para o meu rosto — você deveria parar também.

— Preciso de todas as provas...

— Eu sei, mas sinto que pode machucar outras pessoas, pessoas que você ama Daemon. Vale mesmo a pena arriscar tanto?

Não posso pensar em Alicent vivendo tranquilamente após planejar a morte de Aemma. Sair impune de seus crimes fazia meu sangue ferver. Aquela vaca verde precisava pagar.

— Fique tranquila Mysaria, você não precisa mais cuidar disso.

***

— Pai? — Nettles corria sorridente até os meus braços — O que está fazendo aqui?

— Resolvi passar na sua faculdade e ter a sorte de te ver saindo.

— Não está com Aegon e Rhaenyra? — olhava de um lado para o outro.

— Não, precisava resolver algumas coisas urgentes e vim sozinho.

Um grupo de garotas cochichavam e olhavam atrás dela. Provavelmente curiosas, nunca passei nem perto dessa faculdade e às vezes esquecia que toquei em uma banda famosa. Conhecendo minha pequena, que não era mais tão pequena assim, nunca contou quem realmente era seu pai. Não me chateia. Ela nunca gostou de ser o centro das atenções.

Nettles olhou para elas com desdém e revirou os olhos, deixando os ombros caírem cansados.

— Vamos sair daqui, pai — me puxou pelo antebraço, andando com mais velocidade — não quero ser o assunto da semana.

***

Apenas dois anos se passaram e mesmo vendo Nettles com frequência aos finais de semana, só agora consegui notar o quanto estava crescida. Estudei seu rosto mais maduro, os cabelos cacheados com corte estiloso e os enormes olhos castanhos cheios de cílios.

Aos meus olhos ela era Nett, nada lembrava o fantasma de sua mãe e mesmo com seu jeito desbocado e resposta para tudo, ela ainda tinha sua doçura.

— Sinto falta de Rhaenyra — disse enquanto sugava o milkshake de morango pelo canudo.

— Só dela?

— De Aegon também. — ela ria brincalhona — Você é velho demais para esse sentimentalismo.

— Você fala como se fosse um ancião.

— Não, mas resmunga igual.

— Vamos ver se vou continuar sendo velho resmungão quando pedir algo.

— É só pedir para Rhaenyra, ela te convence fácil, fácil.

— Não é tão fácil assim...

— É sim, você é tão domado por ela. Sou eternamente grata por entrar na nossa vida. Só ela consegue te convencer de qualquer coisa.

É claro que ela consegue, nunca vi uma mulher abrir as pernas tão deliciosamente como ela. Seria estupidez não fazer os desejos de uma mulher tão gostosa.

— E você e Alyn? Como estão?

Notei sua expressão mudar. Um pouco do sorriso que tinha nos lábios sumiram gradualmente, tentando disfarçar algum incômodo.

— Bom... Nada bem exatamente...

— Como assim?

— Olha pai, antes de qualquer conversa, entenda que resolvi tudo, não preciso de nenhuma reação inesperada e impulsiva.

— Você está piorando as coisas.

— Você promete não se intrometer?

— Não!

— Então não vou contar.

— Fala ou vou direto na casa dele.

Ela lançou um olhar frio e sobrancelhas franzidas.

— Certo, por favor não fique nervoso. Nós terminamos.

— Isso não é uma notícia ruim.

— Pai!

— E qual foi o motivo?

Colocou o copo de milkshake vazio de lado, juntou as mãos nervosamente e desviava o olhar. Estava com medo de me contar, pensando em qualquer reação que tivesse.

Não estou gostando nada dessa conversa.

— Eu vi... Vi com outra garota.

— Ele te traiu?

— Pai, já resolvi, pode ter certeza que fui bem Daemon 2.0, chutei as bolas dele e queimei todas as roupas.

— Você fez o quê? — apesar da notícia me deixar nervoso, saber que Nettles agiu violentamente com ele me alegrava. Comecei a gargalhar imaginando as roupas queimadas e ele caído no chão de dor.

— Nunca imaginei que você teria uma crise de riso.

— Se você realmente fez tudo isso que disse, estou eternamente satisfeito. Prometo não me intrometer.

— Obrigada!

— Apesar da sua adorável vingança, você se machucou?

Todo o semblante forte caiu por terra nesse momento. Era como se tivesse quebrado o enorme muro de seus sentimentos e finalmente revelado o quanto estava machucada.

Então ela cobriu o rosto com as mãos e chorou baixinho.

Confesso que ao vê-la assim me quebrou inteiro por dentro.

Sentei ao seu lado abraçando, tentando acalmá-la. Ela envolveu seus braços finos em volta do meu corpo e agarrou com força.

Eu sabia, o conhecia, avisei, mas nenhuma das palavras ajudariam agora. Por mais que minha vontade de quebrar a cara dele e as pernas até nunca mais andar seja enorme, não vou fazer. Ela mesmo resolveu da sua forma, era sua vida, seus erros e a única coisa que poderia fazer era confortá-la.

Rhaenyra com certeza sabia. Nett não teria essa conversa comigo, feito um aviso antes de qualquer reação explosiva minha se não fosse orientada por ela.

E, no fundo fico feliz dela procurar sempre Rhaenyra com conselhos de mãe. Ela precisava disso, dessa conexão e confiança. Tinha medo que nunca houvesse.

***

Finalmente estava em casa e encontrei as luzes desligadas e nenhum garotinho correndo até os meus braços.

"Será que Rhaenyra ficou mais tempo na casa de Rhaenys?"

Caminhei até o escritório, encontrando finalmente uma luz acesa.

Rhaenyra estava de pé, de costas para a porta, olhando um papel em suas mãos.

— Pela postura o conteúdo dessa carta parece ser bem sério — aproximei envolvendo meus braços em sua cintura e sentindo o perfume doce da sua pele na curva entre pescoço e ombro.

Sua reação, no entanto, não foi de nenhum afeto.

Desfez minhas mãos e girou o corpo revelando seu rosto inchado cheio de lágrimas.

— O que houve?

— Você sabia? — ela estendeu o braço, batendo a carta forte em meu peito — Você sabia?

Peguei a carta ainda confuso, tentando entender o motivo de sua tristeza. Quando finalmente li, era uma cópia dos e-mails com as informações sobre a morte de Aemma.

Não queria que ela soubesse antes de qualquer prova concreta, mas alguém enviou, precipitando qualquer conversa e preparo psicológico.

— Você sabia? Me responde Daemon!

— Sim! Eu desconfiava que Alicent fez isso e quis investigar.

Seu olhar ficou ainda mais triste e respirou fundo como se uma adaga transpassasse seu peito.

— Por que não me contou? Como pode deixá-la entrar na minha casa, falar com essa maldita desconfiando que ela matou a minha mãe?

— Não adiantaria revelar sem provas Rhaenyra! Precisava ter certeza absoluta antes de te contar e você ter alguma reação precipitada.

— Provas? Só a desconfiança basta Daemon! Essa puta era minha amiga, usou da minha boa-fé para se aproximar. Agora consigo ver tudo com mais clareza. — ela encostava nervosa na beira da mesa — Você não confiou em mim. Decidiu cuidar de tudo com Rhaenys e não comigo, sua mulher, mãe do seu filho. Escondeu um assunto que era inteiramente do meu interesse.

— Eu preservei sua sanidade. Você não consegue ver o quanto te deixaria abalada sem nenhuma prova em mãos?

— Minha mãe foi morta Daemon! O que você faria se soubesse que Alyssa foi assassinada e o mandante entrou na sua casa, bebeu e comeu da sua comida e pegou seu filho no colo?

Entendo os motivos da ira dela, mas precisava protegê-la. Assim que soubesse disso, revelaria no mesmo segundo, bateria na casa de seu pai, tiraria as satisfações e qualquer prova existente seria eliminada. Até a conversa com Alicent na casa da Rhaenys foi arriscado. Por esse motivo, talvez Mysaria foi seguida.

— Você agiu pelas minhas costas.

— Só quis te proteger.

— Omitindo. Se não confiar mais em você, não posso continuar nesse relacionamento. Um assunto que envolve a morte da minha mãe e você esconde de mim, é algo grav-

Rhaenyra colocou a mão na barriga sentindo algum incômodo.

— O que foi? — aproximei passando a mão em seu braço.

— Nada, apenas — a dor parecia ter voltado mais intensa e um grito agudo saiu desesperado.

Moveu sua mão com rapidez entre as pernas por cima da calça e ao trazê-la de volta, uma mancha de sangue pintava a palma da sua mão.

— Daemon me leva para o hospital urgente!

— O que está acontecendo? — perguntei aflito pegando-a no colo.

— Eu ia contar — ela chorava gemendo de dor — estou tendo um aborto.

***

Espero que gostem e por favor deixem comentários, eu amo ler cada um deles. Me siga no Twitter: moneceles

Beijooos

Estranhos PrazeresOnde histórias criam vida. Descubra agora