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"Sei que os seus lábios dizem que você não quer, mas seu coração diz sim."

[...]

Park Seonghwa deu outra olhada na bagunça de ossos shots de tequila que Wooyoung tinha se transformado em tão pouco tempo e o que ele viu na mesa escurecida pelo ambiente nefasto onde se encontrava o fez franzir os lábios. Não tinha sido uma boa ideia misturar um coração partido e alguns shots.

ㅡ Me diz, Seonghwa. ㅡ Wooyoung cantarolou embolado, sua voz um pouco distante enquanto entornava outro shot de bebida e se apoiava no ombro do maior. ㅡ Significou alguma coisa, não é?

Seonghwa estendeu o indicador e pressionou contra sua tempora direita lutando internamente para sua veia não estourar e lhe causar uma isquemia ali mesmo, ele fechou os olhos e suspirou profundamente. Outra meia hora tinha se passado. Ele tinha gastado um bom jeans e maquiagem nova para se arrumar para ouvir pela última hora Wooyoung sair de um estado de torpor de negação sóbrio do seu não relacionamento com seu ex-chefe estar lhe afetando para um de extrema carência e humilhação sem filtro sobre ele. A cada copo de bebida que lhe era servido, ele vomitava um monólogo sobre seu amor de verão com Choi San sem sinal de parar.

Wooyoung nunca tinha falado tanto sobre seus sentimentos como naquela noite.

Geralmente, ele era uma bola de alegria e positividade, sempre prestativo, alguém que lidava com seus problemas consigo mesmo e seguia em frente depois de um obstáculo. Seonghwa conhecia o Wooyoung que era maduro e um lutador, que não se deixava abalar por qualquer coisa e encontrava uma saída com um sorriso no rosto e a promessa de que ficaria bem. Ele sobrevivia a muitas coisas, e Seonghwa já tinha o visto passar por alguns relacionamentos bons e ruins, mas nenhum deles nunca tiveram o impacto que algumas noites com San sim.

Seonghwa estava revoltado com a sequência de eventos da noite.

Não era sua intenção dar palco para as divagações sobre o tamanho do pau do lutador e o quão vazio Wooyoung estava se sentindo ultimamente sem ele, sobre como ele sentia saudade da boca de San, do seu corpo, do seu cheiro, das suas ordens - o que ele achava ridículo. Wooyoung estava uma bagunça absoluta, e nem mesmo Seonghwa tinha mais o que pensar sobre ele. Todo o conceito da noite era esquecer o sujeito e se divertir um pouco, tirá-lo da caixinha que existia na cabeça de Wooyoung, mas ele parecia obcecado em analisar cada atitude dos últimos meses compartilhando o espaço e a cama com o Choi.

Seonghwa revirou os olhos pela vigésima vez na noite. Aquela altura, com Wooyoung melancólico e bebendo para lembrar e não esquecer, sua noite estava se tornando um pesadelo em vida. A música alta demais, as luzes ofuscantes, a conversa alheia, Seonghwa estava irritado por ter sugerido aquilo, não diretamente com Wooyoung e sim consigo, principalmente porque era sua culpa ter caído na armadilha. Ele queria fazer os gostos do amigo numa tentativa de animá-lo de alguma forma e resgatar seu pobre coração do abismo que tinha caído, e seu pensamento incial foi: tudo bem abrir mão de uma noite indo até o Peter Pan, mas passar a noite alugando seu ouvido para a melancolia de Wooyoung era algo totalmente diferente, e se fosse em qualquer outro lugar, Seonghwa não se incomodaria em deixar Wooyoung tirar San do seu sistema.

Ali, ele não conseguia relaxar.

Era enervante estar naquele bar. E pelas razões mais contrárias ao sentimento. Seonghwa frequentava bares como aquele, ele estava acostumado a música eletrônica, as luzes néon, aos corpos enchendo a pista de dança ao ritmo selvagem da batida e ao cheiro de bebida e sexo, mas o Peter Pan era diferente. Não só porque o lugar era bonito e diferente do que seus pensamentos nefastos tinham imaginado, mas porque parecia que ele estava fazendo algo errado, algo absolutamente proibido e seu olhar não parava quieto. Ele estava analisando cada traço do lugar desde que entrara uma hora atrás, seus olhos indo do chão até o teto carregado de luzes, ao layout das mesas e as pessoas que preenchiam as paredes do pedaço da terra do nunca. Seonghwa tinha até parado de ouvir o monólogo sobre o Satanás da vida do amigo e estava olhando ao redor novamente, procurando algo que não queria achar, mas que era inevitável de não se pegar desejando ver.

ROCKY; woosanOnde histórias criam vida. Descubra agora